Ciume

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Quando se há um costume como o silêncio, somos habituados a conviver com ele e estranhar os barulhos. Eu quase havia me esquecido como era acordar com barulho de falatório, as vezes isso acontecia, mas raramente.
Acordei, abri a porta, Andrey não estava lá, o falatório vinha de fora do armazém, do bar, e ao sair eram apenas clientes tomando café, eu não os chamei atenção, nem notaram minha presença ao sair todo desengonçado de uma pequena porta.

— Viu Andrey? — perguntei ao garoto que atendia um senhor.

Aí que está algo interessante, bares servem café da manhã, é comum isso acontecer, geralmente por aqui é quase como uma cultura os bares ter máquinas de café expresso, e até mesmo chapas para pães quentinhos. Mas não era sobre isso que eu queria saber, tomar um café de manhã em um bar ou padaria não era algo que eu curtia.

— Lá fora — o garoto falou apontando a porta dos fundos.

Eu me virei para ir embora mas antes retornei e perguntei o horário, eram 8 e 45... Eu havia dormido muito, não entendi o porquê meu celular não despertou. Eu ia apenas me despedir do Andrey e ir para casa.
Caminhei até a porta, arrumei a camisa amarrotada para dentro da calça, ajeitei o cinto o cabelo, passei os dedos nos olhos limpando os da lágrima seca que quase não se formou nas bordas e ao abrir a porta meio confuso lá estava ele, Andrey, ele e outro homem.
O mesmo homem que eu já havia visto outra hora em sua casa, em uma madrugada qualquer.

Os dois estavam juntos, tipo agarrados, o homem estranho vestia uma blusa de couro marrom com reforços aos cotovelos e ombros, um jeans apertado que esmagava tudo lá (eu acho). Por fim um play boy com seu cabelo de gel para trás.
Estavam meio românticos, e homem estranho beijava o pescoço de Andrey que parecia querer contê-lo mas ao mesmo tempo querer aquilo. Por fim em uma revirada de olhos Andrey me olhou, em seguida empurrou o homem estranho.

Hã, eu não queria atrapalhar, então me virei saindo. Não estava bravo, ou estava, eu não sei eu apenas ia embora. Preferia não ter visto aquela cena, Andrey vinha me seguindo, me chamando enquanto eu andava rápido dando a volta no bar fingindo não ouvir indo em rumo ao meu quarto.
Que engano.

Me atrapalhei ao tentar abrir a porta do carro e Andrey conseguiu me encostar me encurralando sobre o meu próprio carro.

— Desculpa eu... Eu não quis atrapalhar.

— Não, aquilo...

— Olha — interrompi ele coçando as sobrancelhas — Você não me deve satisfação. Me dá licença.

Me virei abrindo a porta de carro.

— E por que está assim... Todo, bravo? — ele falou a palavra bravo como se fosse uma alternativa de chute em uma questão de prova qualquer.

Fiquei parado quieto, pensei em entrar no carro e ignorar, mas eu não sabia se eu queria realmente fazer aquilo. Ele tocou meu ombro e senti o mesmo relaxar.

— Está com ciúme?

— Aí você foi longe de mais — falei entrando no carro de vez.

Deixei ele para trás. Mas antes de dar partida no veículo Andrey bateu algumas vezes contra o vidro e eu abri o mesmo o encarando bravamente.

— Me perdoa, eu não tive... Aquilo foi só...

— Tá! Tá, tudo bem. — falei meio irritado

Eu queria dizer ou expressar o quão eu estava puto. Por fim fingi que estava tudo bem, mas acelerei o veículo.

Entrei em casa no modo furtivo. Como um ladrão, até escutar bem baixinho um suspirar quente e impaciente que vinha do sofá, Sabrina estava sentada, em um tremendo susto a olhei, e ela me encarou por cima dos óculos segurando um livro nas mãos.

— Trabalhei até tarde — falei me justificando.

— Engraçado, eu liguei na empresa e advinha? Sua secretária me disse que você mal entrou no trabalho.

Senti meu cérebro ficar puto. Eu odiava quando Sabrina me investigava, ela fazia isso as vezes, me investigar.

— Tá legal não vou ser a mulher chata, mas você não pode fugir toda vez que nos desentedermos

— Eu estou cansado Sabrina — resmunguei

— Do que? De mim? Da nossa família, ou da noitada?

Exatamente isso.
Fiquei quieto, apenas a ignorei e subi as escadas mas em seguida ouvi ela vir atrás de mim. Ela gostava de cutucar de me ver perder a cabeça, sempre implicando comigo de formas diferentes.
Assim que entrei no quarto ela entrou em seguida fechando a porta enquanto eu tirava a roupa para um banho. Mas ao invés dela dizer algo que me ferisse ela apenas resmungou algo que me fez morrer por dentro.

— Sinto sua falta Joca — ela disse bem baixo.

Me virei a encarando, houve um silêncio de ambas as partes. Meu por não saber o que dizer e dela por saber o que disse.

Para mim não dava mais, não dava mais me esconder, então me sentei na cama com a expressão frustrada e patética, a olhei como um cão.
Ela se sentou acariciando meu braço nu.

Em outro tempo isso me excitaria. Agora não há efeito algum, e mesmo que sim, eu iria parar o sexo pela metade pois demoraria para ejacular e ela iria reclamar.
Já fez sexo com alguém que reclama por você não terminar logo? Então é horrível. Mas não posso culpa-la por ela não ser a razão do meu êxtase.

— Precisamos conversar Sabrina — falei seriamente.

— Sei que precisamos... Mas podemos fazer isso depois. — ela disse em seguida beijou meu ombro, meu pescoço — sinto que estou te perdendo, não quero te perder.

— Não, não é sobre a gente — falei virando o rosto para ela parar de me beijar incomodado — É sobre mim.

— Eu só quero meu marido de volta — resmungou ela subindo em cima de mim

Eu a empurrei sutilmente e a coloquei de volta na cama me levantando abrupto.

— Não. Não vai rolar.

— Tem outra né? — ela riu como se estivesse me testando — Sabia.

— Sabrina. Eu... Eu sou — travei a fala engasgado — sou gay.

Antes que AmanheçaOnde histórias criam vida. Descubra agora