Pela manhã havia um silêncio durante o café, minha mãe me olhava horas com um olhar de pena, parecia chateada. Certamente estava vivendo internamente uma crise do porquê. Por que não o ajudei antes? Por que não aceitei antes? Por que isso agora?
Tudo bem, ela precisava digerir tudo, assim como eu também.— Tudo bem? — pergunto acanhado
— Uhum — ela resmungou bebericando a xícara de café.
Não havia mais o que dizer. Me sentia um estranho, em seguida não falamos mais.
Fui ao trabalho, depois de passar em casa, Sabrina não estava. Ela certamente havia cedido, ido levar Laura a creche, certamente se sentiu culpada, triste, e acatou algo simples como: deixar sua pequena filha viver.
Quando eu já sabia em meio ao atraso a trombei na porta denteada.— Hã, Oi... — disse ela baixinho — fui leva-la na creche.
Ela sorriu como se tivesse cumprido uma missão.
Ergui a sobrancelha a desafiado.— Não quero que ela me veja um péssima mãe quando tiver dez anos. — acrescentou
— Olha... Não quis dizer aquilo.
— Não, não você tem razão. Sabe? Sou coruja de mais... Tenho medo de acontecer algo com ela, de sei lá... Um dia ela volta com mordidas e arranhões de brigas.
Dei um pequeno riso.
— Toda criança passa por isso Sabrina — falei um tanto impaciente
— Eu sei... — ela respirou fundo.
— Tenho de ir, estou atrasado.
Pensei em beija-la e me despedir, mas apenas pensei. Fui ao trabalho mas não fiquei mais do que duas horas lá. Esse é o lado bom em ser patrão, nem sempre há o que fazer.
Sai, dei algumas voltas de carro, e algo me chamou, como uma voz que dizia para me conduzir para rua de Sá, de encontro com a avenida das Bandeiras.
Ah, eu sabia a onde pararia. Um bar, o bar de Andrey.
E pela primeira vez em muito tempo eu pisei naquele local. Eu entrei no bar.Estava diferente, os bancos no bar eram negros, baquetas de madeira escura, era como uma taverna, as cadeiras da mesa negras com estofados vermelhos. Chão de madeira escura, lustre, era tudo a moda antiga por aqui. Eu acho que eu gostava do gosto dele.
Caminhei até o último banco e me sentei, um garoto novo, ainda na sua melhor idade talvez dezoito anos veio ao meu encontro, me atendeu e fiz o meu pedido.
A garrafa de vinho veio e junto Andrey que a trazia, certamente se deu conta de que eu estava ali... Pediu ao garoto que o deixasse me levar a garrafa.— Meio cedo para isso não acha?
— Não sabia que você dava horários aos clientes para que eles pudessem beber — falo enquanto ele coloca a garrafa e duas taças na mesa.
Automaticamente ele se convidou para beber comigo se sentando a diante. Parecíamos desconhecidos tentando ser amigos.
— Acontece que você não chega nem perto dos mais fiéis dos meus clientes — ele me serviu e se serviu e se ajeitou diante de mim me encarando. — Diga-me o que está fazendo aqui?
— Pensei em vir beber, e não ser importunado sabe? Afinal faz um tempo que não vejo esse lugar. Está bonito.
Beberiquei o vinho, só molhando a ponta dos lábios para experimentar, não era ruim, era de boa qualidade.
— Anos — ele me concertou — Faz anos que não vem aqui. Na verdade em todos esses anos é possível contar as vezes que veio, e detalhe sempre veio com Sabrina.
— É, tem razão... — bebi do vinho.
— Vai diz, o que quer?— ele disse paciente em seguida bebeu também.
O olhei, lancei um olhar malicioso. Acho que ele sabia o que eu queria, mas de todas as formas eu ainda era um homem casado e no mínimo deveria respeita isso. Ele tossiu um riso.
— Falei para minha mãe o que sou...
Ele fez uma cara surpresa.
— Acho que está na hora. — acrescentei.
Ele deu um riso descrente.
— Se aceitou gay.
— Shh... fala baixo — falei me encolhendo olhando os funcionários que estavam longe.
Era vergonhoso aquilo.
— Já vi que não — ele disse
— Quero saber mais... Quero entender mais a respeito disso. Eu não sei, não sei se tenho certeza disso... Sei lá — falei baixinho.
— Bom, hoje o Antes que amanheça não terá muito movimento. Sabe como é o nome do lugar só faz jus aos finais de semana.
— O nome do seu bar é péssimo.
— Não se você visse que as vezes aqui tudo acontece antes que amanheça... Venha mais tarde...
Eu queria saber mais, queria saber mais a respeito dele, talvez de quem sou. Por isso eu vim aqui, não que precisamos saber quem somos, no fundo sabemos. Mas tudo o que eu queria era um amigo agora, alguém para matar minhas duvidas, alguém que não me julgasse. Alguém como ele.
— Temos um encontro então — disse ele. —, te espero ao anoitecer.
— Não quero um encontro só ... — ele se levantou batucou na mesa me interrompendo.
— Te vejo mais tarde.
Será que eu estava certo do que estava fazendo?
Peguei a garrafa de vinho e fui embora.
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Antes que Amanheça
RomanceJoca é casado, e tem uma filha de quatro anos. Aos 32 anos se descobre gay, e em meio a dificuldades de aceitação, deve também enfrentar as dificuldades de seu casamento. #1- homossexual