Mudanças

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***

Eu sabia que eu tinha um lugar alem do meu carro para ir, sabia disso só não quis ir de imediato, mas agora eu me encontrava deitado no sofá da sala da casa de minha mãe encolhido feito um bichinho com frio.
Minha mãe lançou sua terceira coberta em mim para me aquecer ainda mais.

— Mãe, se tudo isso acontecesse com a senhora? — perguntei antes dela apagar a luz.

Ela se virou me olhando.

— Eu estaria furiosa no lugar da Sabrina, confusa no seu lugar e chateado no lugar de Andrey...

— Errei com todo mundo mãe.

— Acontece — ela disse tirando o dedo do interruptor.

Caminhou e se sentou na beira do sofá me acariciando.

— Um homão desse tamanho manhoso desse jeito — disse ela.

— Mãe lembra-se de quando tive depressão após a morte do papai.

— Sim querido.

— Tenho medo disso acontecer de novo... Na verdade não foi por conta do papai que tive depressão... Ele foi só mais um motivo.

— Hum...?

— Eu me sentia durante dias como me sinto agora. Perdido, meu casamento com Sabrina não estava bom, então do nada ela disse estar grávida e daí tudo melhorou... Acho que era só uma questão de tempo para tudo piorar de novo.

— Oh querido — ela sussurrou me afagando. — Agora as coisas são diferentes.

— A verdade é que eu escondi minha vida toda quem eu era, e isso me afetou, e agora que posso ser quem sou, isso me afeta então... De que adianta?

— Por que não disse isso ao Andrey, talvez ele estivesse do seu lado agora.

— Mãe você não vê, que minha esposa é a Sabrina? Eu a amo.

— Amar não é sinônimo de felicidade querido. Existem vários tipos de amores e talvez esse amor que você sinta pela Sabrina seja um tipo diferente.

— Mas ela me fez muito feliz...

— E hoje em dia ela te faz?

Fiquei em silêncio eu não sabia a resposta.

— Joca aceitar as mudanças e o que elas trazem é algo essencial, não há nada de errado em não nutrir mais um sentimento por alguém.

— Se não fosse por ela não estaria aqui mãe. — resmunguei

— Sim, eu entendo isso — ela disse meio nervosa mas em seguida voltou com sua voz doce: — Entendo você ser grato a ela, mas não pode sacrificar sua felicidade entorno de uma gratidão entende?

— Só queria fazer ela feliz.

— Você pode fazer qualquer um feliz sem a necessidade de estar próximo a esse alguém. Entende? Talvez você precise colocar sua cabeça no lugar, entender que amores mudam, e que tudo muda e que a mudanças que vem para o bem...

Ela se aproximou me deu um beijo de boa noite, levantou-se e apagou a luz indo para seu quarto. Escutei o ranger da porta ao ser encostada e o da cama ao ela se deitar. Fiquei olhando o escuro e um temível silêncio até pegar no sono.

Naquela noite sonhei com Andrey, sonhei com seu sorriso, e no dia seguinte acordei com mãozinhas que me puxavam.

— Anda papai — falou a voz de Laura.

Abri os olhos meio confuso e embaçados e Laura estava me olhando. Então me espantei me sentando no sofá.

— Filha?!

— Viemos te buscar para ir para casa papai... Acoida — falou a criança com a voz doce

Esfreguei os olhos e olhei a minha volta, me dei conta de ver Sabrina de braços cruzados na porta entre a cozinha e a sala. E minha mãe ao fundo na cozinha preparando o café.

— Ela sente sua falta — disse Sabrina sem me olhar

Sabrina usava um rabo de cavalo bagunçado, os cabelos estavam diferentes ondolados e havia agora uma franja, bonita e perfeita, ela estava linda com aquele corte novo e por um instante eu sentia falta dela. Do seu cheiro, seu jeito, sua companhia.

— Eu sinto sua falta — ela sussurrou e me olhou me deixando ainda mais surpreso

— Sabrina — sussurrei.

— Temos de conversar — disse ela esfregando a testa com as pontas dos dedos

— Cl-claro. Hã... Mãe dá uma olhadinha na Laura! — gritei — Só um minuto...

Levantei às pressas fui ao banheiro dar um trato nos dentes em seguida sai do mesmo, fomos para o quintal dos fundos.

Antes que AmanheçaOnde histórias criam vida. Descubra agora