Estranhos

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Depois imprudentemente retornei ao trabalho, onde passei o dia todo atoa, eu não queria ir para casa ficar o dia todo com Sabrina.
Certamente ela iria cansar de ficar atoa com Laura na creche e certamente arrumaria algum emprego. O que certamente me deixaria mais feliz, teria menos despesas.

Me sentia tudo menos um cara nas casa dos 30, acontece que quando se é adulto é muito difícil você ter dúvidas de quem você é, eu poderia agir como um cara comum, "comer" a Sabrina e o Andrey sem me sentir culpado, e saber no final das contas que eu gostava mais de foder ele do que minha mulher, e viver em uma vida de traição, primeiro com ela depois comigo e com quem eu era. Mas isso era algo que eu era incapaz, se eu fizesse algo além dos beijos com Andrey eu saberia que faria sempre, afinal ele é meu vizinho e eu poderia foder com ele sempre sem minha mulher saber. Na verdade eu realmente não queria sexo. Apenas entender o que estava havendo comigo mesmo.

O sol estava se guardando, envio uma mensagem de texto para Sabrina "vou para a casa da minha mãe" escrevi. Uma mentira, na verdade eu iria para o Antes que amanheça. Mais uma mentira para a minha conta, girei na cadeira do escritório de um lado ao outro mastigando a beira de uma caneta. Meu celular vibrou, Sabrina respondeu apenas com um "ok" certamente chateada. Mentir me fazia se senti um sem caráter.
Meus funcionários já haviam sido despensados, saiam sempre as quatro da tarde, e eu estava aqui sem fazer nada a mais ou menos uma hora.
Peguei o paletó pendurado no encosto, coloquei o mesmo. Pensei a respeito, acho que eu estava muito bem vestido para uma noite em um bar.
Talvez ir sem ele é melhor, somente com a camisa de mangas arregaçadas e branca, acho que estava melhor, baguncei os cabelos, eles se arrepiaram em vários sentidos estragando o penteado. Entortei a gola da camisa, acho que agora estava melhor.


Entrei no bar, agora havia mais gente do que o esperado, não estava cheio mas havia homens, mulheres e... Bem... criaturas (pessoas diferentes).
Andrey me recebeu assim que entrei, com um sorriso largo ele disse "Oi" e envolveu a mão em meu ombro me conduzindo até uma porta escura do outro lado do bar, já havia visto aquela porta mas não esperava que ali fosse apenas mais um cômodo, pensei que fosse um banheiro particular, armazém, ou a saída.
Ao cruzar a porta havia uma mesa verde camurça clássica de poker, e um grupo sentado entorno da mesma.

— Bem vindo a área vip — Andrey brincou.

Então ele me apresentou dizendo os nomes das pessoas enquanto eu estendia a mão para um cumprimento.
"Essa é a Josie" — uma travesti.
"Esse o Pedrão" — uma mulher que bem... Não era mais uma mulher.
"Esse o Will" — um homem com trejeitos e vestemtas femininas.
"Essa e Wânia" — Drag Queen.
Enfim me sentei. E todos me olharam como se eu fosse um bicho, eu nunca parei para pensar que eu olhava para esse tipo de gente como se eles fossem bichos quando eu estava com meus amigos heteros, agora era o contrário, eu era olhado de forma descriminatoria.

Ergui a mão dando um leve tchauzinho.

— Tá brincando honey, trouxe um boy para cá? — disse Josie.

— Pare Josie — disse Wânia tossindo um riso fino, parecia que ela fez o cosplay do papai Noel eu rir fazendo HOhohoho.

Aquele dali não era o meu lugar certamente.
Qual foi? O que o Andrey tá fazendo.

— O bofe aqui tá em duvida? — perguntou Will.

— Você ainda pergunta? — disse Pedrão. A voz dele era tão grave que agora entendo o porquê de Pedrão e não Pedrinho ou Pedrita.

Eu estava assustado.

— Relaxa — disse Andrey fazendo leve massagem no meu ombro — Esse é o cara que contei a vocês.

— O casado? — disse Wânia abrindo um leque fazendo um estalo no ar, em seguida se abateu e olhou com seus olhos de lentes de contatos em minha mão, fitou a aliança e eu tirei a mão da mesa assustado.

— Relaxa bofe, somos estranhas mas não morremos — disse Josie.

— A não ser que você queira — disse Wânia rindo igual o papai Noel engasgado após um resfriado HOhohoho.

Então desmanchei minha cara estranha e dei um sorrisinho, em seguida ergui a cabeça olhando para Andrey. Ele segurava meus ombro, piscou com um sorrisinho.
Ali naquele âmbito havia um barzinho particular, Andrey caminhou até ele, pegou uma garrafa de bebida e mais um copo, colocou em minha frente, e todos olhavam para mim em silêncio.
Eu tinha vontade de surtar e falar: qual foi bicharada? E sair socando o primeiro que se ofendesse, mas eu estava soando frio em uma área desconhecida.

— Agora entendo você Andrey — disse Josie apontando suas unhas longas postiças para mim. — O viado é bonitão e gostoso. Eu com um bofe desse largava do trevo.

Você largar o trevo? HOhohoho, nunca né querida nasceu puta vai morrer puta.

— Um dia saio daquele lugar Wânia — respondeu Josie — travesti não tem muita oportunidade de trabalho, mesmo estudado. Minha faculdade de contabilidade só serviu para eu aprender administrar meu dinheiro de puta, porquê para me empregar...

— Fez faculdade? — falei pela primeira vez engasgado e todos me olharam

— Acha que travesti não pode estudar também?

— Não, não, não quis ofender. —  falei me encolhendo

Josie me olhou apertando os olhos.

— Certo querido, fiz, mas como eu disse não consegui nada. Mas enfim cada um caça do jeito que dá, e você o que faz?

— Tenho uma empresa. — falei acanhado.

Todos me olharam, como um bicho que queria chamar a atenção.

— Além do bofe ser lindo e gostoso é rico, qual a macumba Andrey? — falou Wânia com seu riso de papai Noel.

Andrey riu, pegou e despejou bebida no meu copo que ele colocou vazio em minha frente e se sentou na mesa.

— Vai por mim conheço ele a dez anos e nunca aconteceu nada entre nós como agora.

Andrey pegou um controle e ligou o som, me senti mais tranquilo e comecei a sentir os ombros relaxar.

Antes que AmanheçaOnde histórias criam vida. Descubra agora