Sinto Laura em meu peitoral. Me cutucando. Abro os olhos sorrateiros, ela me encara. Acha que ainda estou dormindo. Fico fingindo.
Ela desconfia que eu esteja acordado.— Papai? — chama com a voz risonha.
Laura coloca a mão em meu rosto e ameaço morde-la ela tira a mão rapidamente aos risos, coloca de novo, e novamente ameaço morde-lá. Ela da uma gargalhada. Novamente ele coloca mão perto de meus lábios e eu a agarro ela que ri descontroladamente, a mordo sutilmente, sem usar os dentes, como um velho sem dentadura, pressiono a boca contra seu pescoço, seus braços, sua barriguinha e ela ri tentando se livrar de mim. Rindo, sem parar.
Essa é a coisa mais gostosa, é a que eu mais gosto, ser pai para mim é algo que eu gosto muito, eu amo, eu a amo. Encho-a de cócegas e ela ri, se livra de mim. A deixo escapar. Ela desce da cama e corre.
Então volto a fingir que estou dormindo. Com o braço e a cabeça fora da cama. Ela se aproxima e a pego de volta. Encho a de beijo enquanto ela ri.Me levanto com ela em meus braços e carrego-a para o banheiro. Creme dental em sua escova, creme dental em minha escova. A seguro no braço esquerdo. Ela segura sua escova - de- dentes rosa, e eu a minha azul. Deixo ela cuspir primeiro. Depois eu.
Todas as manhãs dos finais de semana fazemos isso juntos, e todas as noites antes do dormir durante a semana fazemos isso juntos.
Uma rotina. Escovar os dentes juntos.
A mais gostosa. Lavamos os rostos sonolentos.Descemos a escadas. Laura é faladeira, ela diz as vezes coisas que não entendo, ainda não tem uma boa dicção. Ela vai falando enquanto a carrego nos braços e eu finjo prestar atenção dizendo: é? Nossa. Que legal. Ual. É mesmo?
Sinto cheiro de café, vem da mesa. Onde duas vozes conversam. Noto ser Sabrina e Andrey.
Logo cedo.
Me sinto inseguro. Mas não posso voltar correndo para trás com Laura nos braços. Então caminho lentamente com os pés descalços enquanto Laura fala sem parar.— Olha quem acordou! — diz Sabrina com voz de ânimo. — Os dois amores de minha vida.
Ela se aproxima. Me da um beijo em seguida outro na Laura.
— Tio Drey — diz Laura ao ver Andrey sentado na mesa. Laura estica os braços. Entrego-a a ele.
Me sinto tão envergonhada com sua presença. Não consigo prestar atenção no diálogo que rola. Minha mente se perturba.
Sabrina me cutuca e sento-me diante a mesa, junto deles. Observo a sala, que da para ver da mesa, eu podia ter me sentado no sofá.
Visto apenas uma ceroula, sem cueca por baixo, fico envergonhado. Mesmo sabendo que Andrey já me viu até de cueca. Mas me sinto envergonhado agora.Fico paralisado olhando a fumaça que sai do café. E recebo um cutucão de Sabrina.
— Por que não me disse que Andrey estava lá? — perguntou
— Hã a... hã, esqueci — Falei o encarando.
Como se no ar pairasse uma nuvem de química estranha. Observei lentamente —enquanto Sabrina passava margarina na torrada —, Andrey segurar minha filha nos braços, ele estava falando algo com ela, brincando talvez. Em não sei. Usava uma camisa, que deixavas o braço tatuado a mostra, o pescoço que também havia uma tatuagem a mostra. Ele era boa pinta, bonitão, se eu fosse como ele já teria pego todas as garotas da cidade, digo: ele tem a barba por fazer rala, robusta com fios pratas e pretos, lhe cobre o rosto mas é aparada e cuidada, não igual a minha que está sempre por fazer; dentes perolados e mais bem cuidados que o meus; ele soa inteligência e agilidade e eu tolice e desengonçado; ele tem uma cara de galã de filmes pornôs, já eu apenas de um pai de novelas ou sei la. Eu sou comum, ele não, ele tem uma estética, uma aura bonita, algo que atrai. Usa um chapéu vermelho, tem piercings na orelha e um brinco com um pingente pendurado que Laura brinca com os dedinhos finos. Tem olhos verdes musgo, sobrancelhas grossas e arqueadas, e lábios bonitos.
Noto-me uma excitação que vem do meio das pernas. Aquilo parecia tudo muito lúdico. Fico escutado o observando. Tento disfarçar me aproximando mais da mesa, para não verem meu pau crescer. Paro de olhá-lo, penso em filar uma das torradas de Sabrina. Mas seguro apenas minha xícara tentando não olhar mais para ele. Tentando desfarçatez rigidez de meu pau.Estou tão constrangido. Parece que não transo a anos quando na verdade eu e Sabrina temos uma vida sexual regular, transamos com uma frequência boa, uma, duas vezes na semana, mesmo casados a 15 anos.
Mas essa excitação é diferente. Eu sinto, é um tesão pelo amigo da minha mulher e isso é errado. Não sou gay merda, talvez seja só uma atração, talvez minha masculinidade frágil esta enciumada e alterada. Eu nunca o reparei antes, acho que por medo de sentir isso. Eu sempre o evitava, mas por que? Por isso?
Mas a poucos instantes eu o reparava e nossa!!, eu queria tudo aquilo, queria ser tudo aquilo ou ter.O que está acontecendo é normal. Uma vez li em uma resvista que todo homem sofre pequenas atrações pelo outro, e não do modo homossexual, e sim por querer ser como o outro, ou até mesmo querer o outro, ser parecido. Como os homens que gostam de ver caras nus lutando na televisão e se empolgam, ou os que reparam nas coxas dos jogadores de futebol. Talvez fosse isso.
Observo a conversa. Há uma conversa. Mas estou viajando. Perdido em minha mente, Sabrina estala o dedo em minha frente e paro de olhar para xícara de café.
— Sempre distraído José Carlos, presta atenção.
— Que?! — digo confuso
— O açúcar José Carlos!— ela diz impaciente com a voz mole apontando para o mesmo.
Pego açúcar e dou a ela. Essa mania de tacar açúcar no café é horrível, não sei porque ela faz isso. Amarro a cara, as vezes Sabrina fica irritada com minha distração.
— Joca sempre no mundo da lua, não muda né?! — disse Andrey.
E você deveria ficar quieto. Penso. Mas olho para ele e dou um riso forçado.
Será que ele se lembra de ontem, do beijo? Fito os olhos esverdeados dele, e ele me olha nos olhos por uma fração de segundos, olho para seus lábios também, um tanto bonitos e desenhados. Eu quase não tenho lábios, os meus são finos, o dele são grossos, rosados, parecem macios.
Ele da uma piscadela e saio do transe. Noto que não to mais tão excitado. Mas se eu ficar o olhando ficarei novamente. Decido tomar meu café... na sala.
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Antes que Amanheça
Roman d'amourJoca é casado, e tem uma filha de quatro anos. Aos 32 anos se descobre gay, e em meio a dificuldades de aceitação, deve também enfrentar as dificuldades de seu casamento. #1- homossexual