Em casa

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Os pés de meias se encontravam para fora da coberta, estávamos juntos assistindo Um maluco no pedaço, Laura havia dormido no outro sofá com seus brinquedos e Sabrina e eu dividiamos nosso 3º pote de brigadeiro.
Tá era estranho para caralho, muito estranho estar com ela nessa cena que parecia um tanto amorosa e ambos sabíamos disso.
Mas isso me fez lembrar que eu e Sabrina sempre fomos um casal que achávamos que fossemos amigos, mas nunca fizemos coisas de amigos como ter um momento como este. Sempre mantivemos a relação a cima e é engraçado porque muitos casais só se descobrem que podem ser amigos depois de anos de termino justamente por esse motivo.

— Amo... — ela parou a frase — Joca, acho que vou dormir.

— Tudo bem querida — falei sem censurar a frase.

Ela se levantou.

— Vai dormir no quarto do meio, ou comigo? Digo não tem problema nenhum. Eu...

— Tá frio, vou dormir contigo. Vou só colocar o lixo lá fora...

— Certo, deixa que eu levo a Laura...

Ela se virou pegando a Laura no colo enquanto eu dobrava a coberta e recolhia os potes.

— Sa... Coloca a Laura na nossa cama, está muito frio.

Falei e ela deu um sorrisinho.

— Na MINHA cama, não nossa — ela arrumou a fala.

— É você entendeu... Sa, não precisa ficar segregando as coisas vamos fazer isso aos poucos, sabe? Não se machucar.

— Mas é bom para eu já ir acostumando — ela falou subindo as escadas — Minha casa, minha cama, meu quarto, a única coisa que será nossa é a Laura.

Respirei fundo e paciente, estava tudo bem, fui a cozinha, recolhi o lixo do cesto, no quintal dos fundos retirei o lixo do latão e o carreguei para fora.
Estava frio e nublado.
No mesmo instante que eu ia saindo Andrey havia acabado de deixar o seu lixo em sua lixeira.

— Oi — ele disse se aproximando com a mão para trás — não sabia que tinha voltado.

— É... É, mas não voltei, se é que me entende, só resolvendo as coisas por aqui.

— Entendo, acho que por isso a Sabrina me chamou para almoçar aí...

— Almoçar? Quando? Que, ela...

— Disse que queria conversar comigo.

— Ah... Bom — ergui as sobrancelhas. — Boa noite Andrey

Estendi a mão para um cumprimento.

— Me desculpa por ter dito aquelas coisas...

— Ah, está tudo bem — resmunguei.

Ele se aproximou e acariciou meu rosto, e senti aquilo como uma traição novamente. Merda. Eu não iria conseguir me sentir em paz com tudo aquilo, de um modo evasivo o deixei, e entrei para casa.

Eu não entendia o por que de Sabrina querer conversar com ele. Nem o motivo disso tudo, desse sentimento estranho.

Me deitei na cama, Laura estava no meio eu me sentia um estranho no ninho, então após me cobrir me virei e Sabrina estava deitada de olhos em mim e eu de olhos nela, estava escuro mas a uma luz do poste da rua que vinha da janela e cruzava a janela de vidro e cortina e por fim clareava um pouquinho sua face.

— Chamou Andrey para jantar? — cochichei.

— Falei que eu estava esperando ele vir almoçar para nós conversarmos... Antes de você ter um caso com ele, ele era meu amigo, e acho que ele devia ter respeitado isso ou apenas me pedido desculpas.

— Sabrina...

— Não eu não vou fazer nada Joca, nada além de ouvir ele. — houve um silêncio — Estava com ele?

— Não, eu só... O vi lá fora e ele me disse... Sabrina e estranho tudo isso.

— Para caralho, meu marido já era... eu vou sentir falta desse corpão ao meu lado — ela estendeu o braço acariciando meu rosto. — Vou sentir falta das suas manias, de te ver tomar banho de porta aberta, dessa sua bunda bonita — ele riu, e eu ri. — O Andrey será mais sortudo que eu.

Aquilo era triste de ouvir.

— Não se se quero ele realmente — sussurrei. — Estou confuso, e ninguém tá sendo sortudo nessa história.

— Por quê?

— Por que é tão estranho transar com um cara que foi meu vizinho a anos e ver minha ex mulher.

— Ah, você se acostuma. Gosta mesmo dele?

Fiz que sim com a cabeça enquanto ele me acariciava. Senti meus olhos se encher e o dela também.

— Temos de parar de chorar.

— Está sacrificando sua felicidade pela minha.

— Você já me deu a minha maior felicidade — ela disse e olhou para Laura em nosso meio — Eu sou a mulher mais feliz do mundo, e amo o modo como sou amiga dela.

— Também sou feliz por ela.

— Eu fui atrás de você, não por mim exatamente mas por ela Joca.

— Ela sentiu minha falta?

— Muito, mas no dia em que você foi, eu a peguei na creche, e depois durante a noite eu pensei estar chorando escondida quando ela entrou aqui — ela acariciou os cabelos de Laura — Então ela me disse como se fosse adulta: "eu sei que você e o papai estão brigando, e está tudo bem meus amigos tem país separados, não tem nada de mais nisso."

— Oh meu deus — falei com voz manhosa.

— E dai ela subiu na cama com essa mãozinhas e me acariciou, e disse que era para eu perdoar você... Que ela estava com saudades e não o queria longe.

Sequei as lágrimas de Sabrina a olhando.

— Isso me doeu tanto por que, eu nunca iria imaginar que o melhor conselho do mundo veio de uma criança de 5 anos. — ela riu.

Eu ri.

— Ela é muito especial — sussurrei.

— Sim... Muito.

Ficamos em silêncio.

—  Posso fazer um pedido — falou ela.

— O que quiser

— Quando você for se mudar, não mude para longe — pediu Sabrina.

— Tudo bem. — falei baixinho.

Ela fechou os olhos embalando no sono.

Antes que AmanheçaOnde histórias criam vida. Descubra agora