Não foi preciso Vitor me acordar. Eu nem ao menos dormi.
Vesti uma calça jeans preta, um cuturno e um moletom cinza. Prendi meu cabelo roxo desbotado em um rabo de cavalo e apliquei um pouco de máscara nos cílios.
- Finalmente bela adormecida - digo para Vitor quando ele acorda.
Ele abre um lindo sorriso e me puxa pela cintura me abraçando e eu sinto um aperto no coração. Vou sentir falta dessa cara de sono dele quando eu for embora. Na verdade, acho que vou sentir falta de tudo aqui.
Tia Saula só soube do julgamento ontem a noite. Ela está triste porque não tenho como ser "inocentada" e é certo que vou ser expulsa da escola. Ela disse que conversa com a minha mãe para eu poder ficar aqui, disse até que arruma outra escola para mim, mas, acho difícil minha mãe deixar eu ficar. E falando nela, eu nem mesmo contei sobre a briga e o julgamento, ela vai ficar sabendo dessa merda toda de qualquer jeito mesmo, então é melhor eu não me preocupar, nem estressa - lá.
- Coma alguns morangos. Estão docinhos, e eles dão sorte. - diz tia Saula.
Encho minha tigela com eles. Dizem que as pessoas mais loucas são as mais sábias. Ou talvez não.
Quando chego na escola percebo logo os cochichos. Estão todos olhando para mim. Não me importei muito com isso, afinal, são todos um bando de filhos da puta desgraçados mesmo.
Vitor apertou minha mão e seguimos para a sala. Passamos pelo corredor cheio de gente, e foi como se eu estivesse com uma virose contagiosa, todos abriram espaço para mim e o Vitor passar.
Entramos na sala e logo vi uma silhueta contornada por cachos loiros areia sentada na mesa. Ela se virou para mim e me encarou com aqueles olhos azuis de vaca abrindo um sorriso cínico de piranha terrestre.
- Oooooh você veio! Espero que esteja pronta para dizer adeus para essa escola... vadia - diz Izabella docemente.
- Esse tom roxo de maquilhagem deve ser a última tendência, porque está cobrindo todo o seu rosto - digo apontando para as marcas no rosto dela.
Izabella solta um rosnado e o professor entra na sala. Eu pensei que essa vaquiranha só viria na hora do julgamento, mas não, ela tinha que vim me atazanar mais cedo.
Quando terminou a primeira aula a caixinha de som anunciou a informação mais desejada da semana pelos fofoqueiros.
- Caros alunos, o julgamento será às 2h00, no anfiteatro da escola, espero vocês lá.
Izabella olhou para mim e me mandou um beijo no ar, vadia. Vitor apertou minha mão e me deu um beijo na testa.
A hora passou rápido de mais, eu nem fui embora. Fiquei na escola isolada em um canto esperando a hora do meu abatê. O tempo, irônico e cruel, pareceu se divertir com o meu desespero e minha tristeza e logo as duas horas chegaram.
Caminhei até o anfiteatro da escola e como eu imaginava, ele estava lotado. Fiquei meio tonta de ver tanta gente, mas me apoiei em Vitor para não cair.
O barulho lá dentro parecia com o de uma caixa cheia de abelhas, mas quando eu entrei todos se calaram instantaneamente. Foi estranho. Sentei em uma das cadeiras reservadas (conhecida também como às cadeiras dos julgados), e fiquei esperando o circo pegar fogo comigo dentro.
Os membros do conselho já haviam chegados. Eles eram em cinco, três meninas e duas meninas. O diretor parecia estar inquieto com a demora da Izabella. Até que a galinha de terreiro apareceu.
Ela vestia uma saia creme, uma blusa branca, botas cor de rosa até nos joelhos e um casaco de plumas. Alguém trás um balde para eu vomitar?
- Até que enfim senhorita Coldarts. - diz o diretor
- Desculpa, e que eu queria estar divina para esse dia tão especial - responde a vaca.
O diretor revira os olhos e vai se sentar na cadeira do meio da bancada dos membros do Conselho. Olhei em volta e vi que nem o Vitor, a Lanna nem o Jared estavam na arquibancada para assistir o julgamento.
- Caros alunos da Weroose Nhottewel School. Estamos começando o julgamento do nosso primeiro caso de meio de ano, aberto pela aluna Izabella Coldarts, contra a aluna Alexia Skeery na acusação de violência... - o diretor olha para o rosto roxo da Izabella (nem mesmo a base e o pó compacto disfarçou) e faz uma cara muito engraçada - extrema.
Nesse momento Lanna abre a porta do anfiteatro fazendo um grande barulho e todos olham para ela.
- Enrola um pouco. Já sabemos o que fazer para te tirar dessa e acabar de vez com a posse dessa vaca - diz Lanna baixo no meu ouvido.
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Antissocial
Ficção AdolescenteAlexia Skeery e uma menina Antissocial por natureza. Vive arrumando encrenca e aprontando todas. Depois de mais uma de suas "brincadeiras" ela é obrigada a ir passar um tempo com a sua tia hippe doidona e seu primo gato. Alex vai viver muita coisa...