Capítulo 4

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A família de Nuttha preferiu uma cerimônia curta e rápida, em um lugar parcialmente aberto.

Como todo velório, a chuva fina cisma em cair obrigando todos a se protegerem embaixo de guarda-chuvas. O silêncio sepulcral é a trilha sonora daquele momento triste e cinza. As frases "meus pesâmes" e "sinto muito" são as únicas coisas que são ditas.
Tul se aproxima da senhora Luthannarn. Ela está com os olhos sombreados por olheiras profundas, como se não dormisse há dias. Uma nuvem parece se dissipar em frente aos seus olhos, ela está a base de calmante, com certeza.
— Sinto muito pela sua perda, senhora Lutthannarn. — Tul se sente deslocado. Não sabe se a abraça, se segura suas mãos, então opta pra uma leve batidinha no ombro. — Sou o detetive Tul Pakorn, estou cuidando do caso da sua filha.
Ela olha Tul nos olhos mas parece de fato não estar o enxergando.
Ela assente e segura nas mãos de Tul.
— Você vai pegá-lo, não vai? Vai encontrar quem fez isso com a minha menina.
Tul engole em seco e antes que tenha a oportunidade de responder, outra pessoa, talvez a centésima pessoa nesse dia, envolve a mãe de Nuttha em um abraço.
Tul se afasta e volta para o lado de Aim. Ela joga o cigarro em que estava fumando no chão e com a ponta de sua bota pisa nele.
— Sabe que ele está aqui, não é?
— Quem? — Tul pergunta, limpando os chuviscos que cismam em molhar as lentes do seu óculos.
— O assassino. — Os olhos de Aim passeia pelo pequeno espaço onde ocorre o velório. — Eles sempre voltam para contemplar o que fizeram.
Tul avista Max abraçando a irmã de Nuttha. Ele está com uma camisa social preta e óculos escuros.
— Ainda acha que foi ele? — Aim pergunta.
— Não mas, não o descartei totalmente.
— O único jeito de você saber se foi ele é se você se aproximar mais. Não temos outros suspeitos, temos? Ele é o ex-namorado, Tul. É o mais perto que temos de um suspeito.
— Ele a amava, não faz sentido.
Aim fica de frente para Tul e bate o dedo indicador em sua própria cabeça.
— Pense, Tul. Pense. — Aim assopra uma linha de fumaça gélida e passa a mão nos próprios braços. — Vou te esperar no carro, estou congelando. Droga de tempo de velórios.
Aim se afasta, deixando Tul sozinho.
— Sua namorada cansou de ficar na chuva?
Max está parado ao lado de Tul, com um enorme guarda-chuva escuro. Tul entra embaixo do guarda-chuva e não sabe dizer se Max está sofrendo, ou feliz ou nada parecido. Os óculos escuros escondem totalmente seja lá o que ele estiver sentindo.
— Eu sinto muito pela sua namorada, sinto muito que as coisas tenham acabado assim.
Max abaixa a cabeça e suspira.
— Obrigado.
Tul olha para o carro onde Aim acabou de entrar, e observa ela acender outro cigarro.
— E Aim não é minha namorada, isso seria meio impossível.
— Por que?
— Para começar, trabalhamos juntos e ela gosta de mulheres.
Max dá uma gargalhada quase inaudível e por um motivo desconhecido Tul se sente satisfeito por ter o feito sorrir.
— Vou encontrar quem fez isso. Essa pessoa ainda está por aí, ela pode matar de novo. Não vou descartar nenhuma possibilidade, mas algo me diz que era alguém que sua namorada conhecia.
— Não faz sentido.
— Eu sei.
Max não volta a falar mais nada, o olhar e os pensamentos estão longe. Quase não percebe para onde Tul está olhando.
— Você conhece aquele homem?
— Hum?
Tul corre e vai até o local pequeno de onde o homem acabou de sair: O lugar onde o caixão de Nuttha está exposto. As pessoas estão dispersas e quase não há mais ninguém em volta do caixão de madeira clara. Tul se aproxima do caixão e um objeto foi deixado ali dentro.
Ele entra em pânico.
Pega o celular e disca o número de Aim.
— Tul?
— Ele está aqui.
— Filho da puta.
— Jaqueta de couro caramelo, cabelos claros. Foi em direção a saída faz uns dois minutos.
Ele desliga o telefone e corre apressado no meio do aglomerado de pessoas, procurando não chamar atenção.
A saída principal não é longe mas nunca pareceu tão distante.
Max atravessa seu caminho, agora sem os óculos escuros, os cabelos molhados da chuva e os olhos vermelhos pelo choro.
— O que está acontecendo?
Tul se sente encurralado.
— Ele está aqui e vai fugir.
Tul não precisa falar muito para que Max entenda o que está acontecendo.
— Eu quero ajudar. — Max diz afobado.
Tul assente e pede para que ele vá sentido contrário, caso o homem que ele julga ser o assassino, mude o caminho.
— Ele vai estar desesperado para fugir. Não deixe que ele escape.
Max some de vista e Tul volta a correr em direção a saída principal.
Naquele meio tempo algumas pessoas já perceberam que há algo errado.
— Todo mundo para dentro. Agora! — Tul grita enquanto corre, o ar quase faltando em seus pulmões.
Quando ele vira na curva da saída principal ele esbarra em alguém que o derruba no chão.
Antes que receba o primeiro soco, Tul avança em sua direção e o prende no chão com as próprias pernas.
Aim chega logo depois, os cabelos grudando no próprio rosto. A chuva grossa e pesada começa a cair.
— Você está preso por assassinar a modelo e social influencer Nuttha L, tudo que disser será usado contra você.
O homem magro se debate e Tul o vira para que possa encará-lo.
— E-eu não matei ninguém! Eu só fiz o que me pediram. Por favor, eu sou inocente.
— O que? Quem te mandou aqui?
— N-não sei. Só foi pedido que eu colocasse a faca dentro do caixão e corresse.
Tul olha em volta, e só enxerga o vazio entre os túmulos.
— Cadê o Max?

Jogo perigoso • MaxTul Onde histórias criam vida. Descubra agora