Capítulo 7

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— Me desculpa, desculpa. Eu só quis fazer o que você pediu, eu tenho família. Precisava do dinheiro.

 A sombra escura e sombria no canto do espaço úmido e sujo solta uma risada seca, o que faz com que os pêlos da nuca do homem de joelhos no chão cheio de musgo, se arrepie.

— Você tinha uma tarefa. — O objeto prateado na mão da sombra faz com que pequenas lascas de luz invada o ambiente. — Você só precisava tirar ele do caminho. 

 A sombra se aproxima e o objeto afiado vai de encontro a garganta do homem, uma linha de sangue escorre até os dedos do agressor.

— Você. simplesmente. não. fez. a droga. do seu trabalho. 

 O homem sufoca um pouco, tentando se livrar da faca apoiada em seu pescoço e do aperto na sua jugular.

— Eu… eu sinto muito.

— É… — Há uma pausa, um silêncio. E logo há apenas uma respiração. — Eu também.

• • •

Tul está mordiscando a ponta do dedo mindinho. Ele já limpou a casa duas vezes, já conferiu mais de uma vez se está tudo no lugar. Já afofou o travesseiro que está no sofá cama de sua sala, já dobrou e desdobrou o edredom que também está em cima do sofá cama.

— Só posso estar maluco. 

 Ele está prestes a desdobrar e dobrar a coberta de novo quando duas batidas na porta faz com que ele esqueça essa ideia e corra até a porta.

 Max está com os cabelos molhados, bagunçados e caindo nos olhos. Apesar de estar um pouco frio, ele só veste uma camisa de manga comprida cinza e uma calça branca jeans. 

 Ele levanta uma sacola a balançando, colocando na frente do rosto de Tul.

— Trouxe comida, supus que você não tinha comido ainda.

— Achei que tinha desistido de vir.

 Ele entra e Tul fecha a porta.

— Eu precisei organizar meu apartamento antes de sair, me ajudou a colocar a cabeça no lugar.

 Max senta no sofá mas Tul prefere sentar em uma das cadeiras do balcão da cozinha.

— Você parece cansado.

 Tul sorri, massageando a nuca.

— Não lembro a última vez que dormi por mais de duas horas.

 Max se levanta mexendo na sacola de comida em cima do balcão.

— Então vamos comer, assim você pode descansar.

— As coisas não funcionam assim para mim, podem precisar de mim agora ou daqui uns dez minutos.

 Max revira os olhos e tira as embalagens de dentro da sacola.

— A delegacia pode sobreviver sem você algumas horas. 

 Tul pega uma embalagem e começa a comer, notando que não fazia ideia da última vez que tinha comido alguma coisa que não fosse bala e café, que era o que ajudava ele a ficar acordado.

— Por que escolheu trabalhar na polícia? — Max pergunta, tirando mais duas embalagens do pacote.

— Meu pai era policial, e eu sempre gostei muito dessa área. Não me imagino fazendo outra coisa.

 Max abre uma embalagem e come uma colherada do arroz assentindo devagar.

— Você se daria bem como ator.

— Eu como ator? Dúvido.

 Tul empurra um copo d'água em direção ao Max e ele toma, terminando de engolir o arroz.

— Sim, você é muito bonito.

 Tul se engasga ainda com o seu próprio copo de água na boca.

— Não fale besteiras, Maxim. 

 Max fecha a cara, empurrando a embalagem de comida já vazia sobre o balcão.

— Não estou falando besteira, detetive. Posso conseguir uns testes pra você, se quiser.

 Tul se levanta, recolhendo a bagunça da bancada.

— Eu já tenho um papel, e ele é na vida real. Muito obrigado.

— Ok, ok.

 Tul descarta as embalagens no lixo e começa a limpar a cozinha.

— E você, por que escolheu ser ator?

— Para fugir da realidade, essa realidade chata que você vive.

— Ei!

 Tul se vira e joga um pano de prato nele.

— A minha realidade não é…

— Chata, entediante, parada? Chame como quiser mas sabe que estou certo.

— Idiota. — Tul resmunga baixinho.

 Max dá a volta no balcão e fica encarando Tul. Ele está de costas, os músculos delicadamente marcados pela camisa social preta, a bunda farta dentro da calça social.

— Qual foi a última vez que transou? 

 Max escuta a hora que um copo desliza pela pia, fazendo um baque surdo no metal.

— Você é impossível.

 O dedo indicador e o do meio de Max passeiam livremente pelos ombros de Tul, os famosos dedinhos corredores.

— Eu só estou curioso. Vou passar um tempo aqui com você, não vou? Eu poderia estar no conforto do meu apartamento e…

— Sendo assassinado neste exato momento.

— Besteira, ninguém quer me assassinar.

 Tul se vira e se aproxima de Max.

— Alguém assassinou sua noiva, por que não fazer o mesmo com você? Eu só quero fazer meu trabalho e proteger alguém em perigo. É o que eu faço.

— Seu trabalho. É… tem razão.

 Tul se afasta e seca as mãos no pano de prato.

— Vou tomar um banho e tentar descansar um pouco, sua cama já está arrumada. — Max se vira e olha o sofá cama. — Estarei no quarto ao lado.

 Max suspira e deita na cama que Tul preparou pra ele. Ele escuta o chuveiro e logo depois mais nada.

Ele torce silenciosamente para que Tul consiga descansar, mas ele mesmo cai no sono com o próprio cansaço.

• • •

Talvez tenham passado duas horas até que Tul invadisse a sala afobado e com a cara amassada de sono, um braço na jaqueta de couro e outra mão ajeitando a camisa dentro da calça.

 Max afasta o sono e coça os olhos.

— Preciso ir, você fica aqui. — Tul diz, pegando a chave do carro.

— O que houve?

— Encontraram o suspeito do cemitério.

 Max se levanta já colocando o sapato.

— Vou com você.

 Tul se agacha de frente para Max.

— É uma cena de crime, Max. Preciso que fique seguro.

— Estarei seguro se estiver com você. Agora vamos logo interrogar esse idiota.

 Max se levanta indo em direção a porta mas Tul o puxa pela mão.

— Não vamos interrogá-lo.

 Max se vira, seus olhos estão focados na mão de Tul presa a sua.

— Por que?

 Ainda sem soltar sua mão, Tul se levanta e fica de frente para ele.

— Porque ele está morto.

Jogo perigoso • MaxTul Onde histórias criam vida. Descubra agora