Capítulo 12

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Tul sente como se estivesse encarando um quadro de um museu, mas aquilo é literalmente uma arte morta. Os cabelos claros da garota grudam no sangue já seco, e suas mãos estão apertando fortemente alguma coisa.

— Nós devolvemos o bilhete para a posição original. Achamos que talvez você entendesse… a coisa toda. — O garoto estagiário, Amity termina de falar com os braços cruzados sobre o peito magro. — Eu não toquei nela, juro. E se fosse fazer isso estaria de luvas.

 Tul o olha e por reflexo acerta um tapa em sua cabeça.

— E quer um prêmio por isso? — O garoto esfrega o lugar onde foi acertado e se afasta, resmungando baixinho.

 Tul se agacha ao lado da garota morta e coloca as luvas de silicone brancas. É estranho mas a textura da luva esticando o deixa com náuseas.

 Ele toca os dedos brancos arroxeados da garota e puxa com cuidado o papel das mãos já sem vida.

 Tem uma foto e um bilhete. Uma lufada de ar atinge o peito de Tul em cheio, e por um segundo ele acha que vai chorar. Primeiramente ele não sabe se é de culpa, de dor ou qualquer outra coisa. 

 Na foto, Max está ao lado de uma garota, dá pra notar pelos cabelos longos. Mas na foto, o rosto da garota foi todo perfurado com algum objeto pontiagudo. Rapidamente Tul desenrola o bilhete e estremece com o que lê ali

Está ficando quente, detetive Pakorn. Um tabuleiro sempre tem peças importantes.

 Uma bile sobe pela garganta de Tul e ele segura um grito agudo que quer escapar de sua garganta. Ele sabe que não pode perder o controle, mas sabe que já perdeu o controle ao se importar demais com Max. Ele se dá conta que se importa tanto que só em imaginar perdê-lo, algo dentro dele se estilhaça em pedaços.

                                  •••

 O chá gelado está quase quente quando o superior Tharn se senta de frente para Tul. Seus olhos estão arroxeados e Tul se pergunta quando foi a última vez que ele dormiu.

— Ainda quer isso de volta? — Pergunta Tharn, deslizando sobre a mesa o distintivo dourado de Tul. — Achei que já estivesse sentindo falta. 

 Tul sorri, desviando os olhos do objeto.

— Na verdade, não. Quando eu estou com isso parece que…

— O peso do mundo está nas suas costas? — Tharn volta a pegar o distintivo e guarda. — Ser policial é mais ou menos isso, não é?

 Tul assente lentamente, e a verdade dói e lateja em seu peito. De certa forma, agora ele entende porque seu pai nunca quis aquela vida para ele, e quase sempre tinha sido fácil mas agora tudo parecia um jogo, e isso o incomodava como o inferno.

— Sabe Pakorn, tem algo que eu não entendo.

 Tul volta o olhar para o homem com os olhos arroxeados.

— O que?

— Porque você?

— Hum? 

 Tharn se recosta na cadeira fitando o vazio enquanto só sua boca se movimenta.

— O assassino gosta de brincar, mas ele gosta de brincar especificamente com você. De alguma forma ele sabia que você tinha decidido sair do caso mas aqui está você, totalmente dentro de novo por causa dele. Você não acha isso interessante? 

 Tul suspira, tomando um gole do chá gelado. Tharn tem razão, mas se tem algo que isso não é, é interessante. Isso é no mínimo, doentio.

— Você acha que ele está perto? 

Jogo perigoso • MaxTul Onde histórias criam vida. Descubra agora