— Comece a falar.
Tul encara o rapaz de cabelos dourados, que pingam por conta da chuva grossa que cai lá fora. Os olhos do homem é de assustado.
A sala de interrogatório é pequena demais, como uma caixa cinza de metal. Uma mesa e duas cadeiras estão sobrepostas no meio da sala. O rapaz está sentado, as algemas nos braços finos e frágeis.
Tul está em pé, de frente para ele com as mãos nos bolsos. Vez ou outra uma gota d'água escorre pelas mangas de sua camisa.
— E-eu juro. Eu não fiz nada, eu só fiz o que me pediram.
— Você está falando isso desde quando chegou. Seja mais detalhista.
As mãos do homem pousam na mesa, fazendo com que as algemas batam no metal frio e deixe ressoar um barulho.
— Eu faço alguns serviços... — Tul ergue a sobrancelha. — Nada criminal, ou que esteja envolvida com a morte de alguém. Costumam ser serviços estranhos mas, eu preciso do dinheiro. Eu tenho dois filhos para sustentar, não vou sair por aí perguntando por que inferno eu devo colocar uma faca dentro de um caixão e correr. Eu só vou lá e faço a droga do serviço.
— Você trabalha para quem?
— Sou só eu, cara.
— Como as pessoas te acham?
— Tem um aplicativo. — o homem ergue as mãos mostrando as algemas. — Se puder me soltar...
— Nem ferrando. — Responde Tul. — Continue.
O homem suspira.
— O nome do aplicativo é scrap boy. Você faz sua conta e liga sua localização, assim as pessoas que querem um serviço podem saber qual a pessoa mais perto do local.
— Você conversou com essa pessoa?
— Sim. Depois que você encontra a pessoa mais perto de você, a pessoa recebe um alerta com o tipo de serviço que deve ser feito.
— Certo. Vamos precisar confiscar seu celular.
— Quando poderei ir para casa?
Antes que Tul tenha chance de responder, um Max furioso invade a sala e pula em cima do homem algemado.
— Você a matou, não foi? Seu desgraçado.
Tul puxa Max de cima do homem e o arrasta para o lado de fora.
— John, cuide do suspeito. — Tul encara Max que está com um olhar raivoso. — Você vem comigo.• • •
— Dois cafés com creme e canela, por favor.
Enquanto Tul faz o pedido, Max está sentado em uma mesa mais afastada da multidão. A mão apoiada sob o queixo.
— Algo mais, senhor?
— Um chocolate.
A moça do café entrega os dois copos para Tul e uma barrinha simples de chocolate.
— Toma.
Max fica olhando o café que Tul oferece e o pega.
— Obrigado.
— Hum, isso aqui é para você também.
Tul se senta e empurra o chocolate na direção dele.
— Dizem que quando as coisas estão difíceis é bom comer chocolate.
— Tipo em Harry Potter?
Tul dá uma gargalhada.
— Sim. A única coisa é que não temos um dementador aqui.
— Será?
O sorriso fraco de Max faz com que Tul sinta um aperto no peito.
— O que diabos foi aquilo lá dentro?
— Me desculpa.
Max segura o copo com as duas mãos e bebe um gole do café.
— Espero que goste de creme e canela.
— Eu prefiro leite, creme e canela mas o café está bom.
— Sim, quem sabe não ajuda você a colocar as ideias no lugar.
Max fica encarando a tampa do copo e suspira.
— É que... a cena dele fazendo aquilo com a Nuttha eu... perdi a cabeça.
— Mas não sabemos se foi ele.
— Também não sabemos se foi.
Tul olha para o lado de fora, já está escurecendo. A chuva deu uma trégua e o tempo começa a voltar a ficar abafado.
É quase junho.
— Você já amou alguém?
A pergunta pega Tul desprevenido. Ele toma mais um gole do café antes de responder.
— Sim, há muito tempo atrás.
— Então você sabe como eu me sinto.
— Por que você sumiu?
Max levanta uma sobrancelha, sem entender a pergunta.
— No cemitério.
— A mãe de Nuttha me parou no meio do caminho, e quando eu percebi você já tinha pego o cara. — Max mexe nos cabelos. — Ela me culpa, sabe?
— Mas você não tem culpa.
Os olhos de Max se prendem aos olhos de Tul, e Max não desvia o olhar mesmo quando abre o chocolate e coloca um bloquinho na boca.
— Então não sou mais um suspeito, detetive?
Tul sorri.
— Não, não para mim.
— Podemos ser amigos, então?
Tul se levanta, mas antes de sair ele se vira:
— Certo, amigo. Da próxima vez o café é por sua conta.
Max levanta o copo e passa a língua nos lábios.
— Talvez algo mais forte?
Tul não responde, abre a porta e sai do café, deixando para trás a brisa abafada das ruas de Bangkok.
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Jogo perigoso • MaxTul
FanfictionMax Nattapol é um ator renomado e de sucesso na Tailândia mas, a morte misteriosa de sua noiva coloca em risco sua carreira e toda sua vida, apontando Max como o principal suspeito. Sendo investigado pela polícia, Max conhece o detetive Tul Pakorn...