Epílogo

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SEIS MESES DEPOIS

Tul olha seu reflexo no espelho e ajeita a gravata escura. Ele inclina os ombros e estufa o peito, fechando os botões da ponta de sua camisa branca.

 Ele se afasta da frente do espelho e anda até a cozinha, pegando o paletó bem passado no braço do sofá. 

 Tul respira fundo antes de sair para o sol quente de Bangkok. Hoje, ele esperava que não chovesse ou Aim teria um surto. Seria mais um surto para fazer par com todos os outros surtos que ela estava tendo nos últimos meses. Maeng sempre a acalmava, beijava ela na testa com carinho e acalmava o furacão que se instalava na cabeça dela. 

Tul esperava encontrar alguém que para ele seria como Maeng é para Aim. Sua última experiência não havia sido boa. 

 Ele estava tentando não pensar em Max. Alguns dias até funcionava mas na maioria dos dias Tul se perdia nas lembranças, mas sempre acabava preso no mesmo dilema: O que havia sido real e o que havia sido loucura da cabeça de Max. 

Um mês depois de tudo, Aim disse que estava na hora de Tul deixar tudo no passado ou ele ficaria louco. Tul lembra que naquele momento ficar louco não seria má ideia, talvez mandassem ele para o mesmo lugar que Max estava. Ele sabia que aquilo era impossível, mas a pequena chance de olhar para Max de novo, de abraçá-lo, beijá-lo… ele queria. Estava em uma abstinência e em um looping quase doentio.

Foi só no segundo mês que ele decidiu que precisava conversar com alguém. Fez algumas semanas de terapia antes de decidir largar tudo e passar alguns dias no Japão com a mãe e com a irmã. 

Agora, seis meses depois ele estava bem. Havia colocado um band-aid na ferida que ele mesmo abrira. 

Ainda doía, mas agora a dor era suportável e ele não se culpava mais (não tanto) 

Era uma batalha diária, era isso que estava sendo.

Quando Tul chega no espaço onde o casamento de Aim e Maeng vai acontecer, já tem algumas pessoas ali sentadas. O superior Tharn se aproxima e cumprimenta Tul com um aperto de mão.

— Detetive. 

— Senhor.

— Você parece bem. Ainda não cansou do trabalho de mesa?

 Tul sorri e dá de ombros.

Ele havia se afastado do trabalho de campo depois do que aconteceu.

— Eu dou conta.

— Você quem sabe. Quando quiser voltar, estaremos te esperando. Sandy está ansiosa por isso.

 Tul assente e o superior Tharn se afasta.

Ele sabia que estaria pronto para voltar um dia, mas ainda não.

Tul vai até o fundo do enorme salão e sobe as escadas.

Aim dissera para ele que iria se arrumar no primeiro andar do salão, enquanto Maeng iria se arrumar no hotel de seus pais.

 Quando ele abre a porta ele precisa segurar o ar por um segundo.

 Os cabelos de Aim caem com cachos soltos nas costas. O terninho branco cai muito bem em seu corpo esguio.

— Aim…

— Tul! Meu Deus, eu estou suando. Estou muito nervosa.

 Tul segura nas mãos dela e ela pisca. Era raro os momentos em que Aim se deixava ser vulnerável, mas ali estava ela.

— Está tudo bem. Tem uma mulher que ama você te esperando lá embaixo, vai ficar tudo bem.

 Aim assente e Tul deposita um beijo na bochecha dela.

— Obrigada por estar aqui.

— Você me mataria se eu não estivesse.

 Aim tenta lhe acertar um tapa mas ele já está saindo porta afora, Tul lança uma piscadela para ela antes de desaparecer.

•••

Tul se senta ao lado de Olive e de Amity que a todo momento pergunta se a gravata dele está certa.

 Olive acerta um tapa em sua cabeça e ele fica quieto, se encolhendo na cadeira.

 Aim já está em sua posição e Tul sabe que ela está nervosa.

 Quando a música anuncia a entrada de Maeng, todos se levantam. Os olhos de Tul atravessam o enorme salão e todo o barulho para por um momento, e todas as pessoas em sua volta deixam de existir. Max acena para ele e sorri do outro lado do salão, arqueando as sobrancelhas do jeito alegre que sempre fazia quando sorria.

 Tul pisca e a imagem de Max some. Ele ainda está no salão rodeado de gente, a música ainda está tocando, o vestido esvoaçante de Maeng ainda está arrastando no chão. 

— P'Tul? Está tudo bem? Você está pálido.

 Tul força um sorriso e assente, com medo de que talvez sua voz fosse o entregar.

Ele estava bem, estava tudo bem. 

Todos voltam a se sentar quando Aim recebe Maeng no altar. A felicidade das duas é visível, ambas não conseguem parar de sorrir.

Tul era sortudo. Ele já havia amado, não uma mas duas vezes. A primeira vez foi diferente da segunda.

Em seu coração ele tinha certeza de uma coisa: Não deu certo, não dera certo.

 Mas ele iria esperar.

Jogo perigoso • MaxTul Onde histórias criam vida. Descubra agora