Hope 0

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Indecisão e solidão.

Esses eram meus únicos sentimentos ao entrar pela primeira vez na cafeteria Hope, a única que existia próxima ao apartamento que eu morava. A cafeteria que havia atraído a minha atenção, como se fosse uma luz atraindo um mosquito em uma noite fria. Na primeira vez que entrei fiquei impressionada em como as flores estavam espalhadas em vasos chamativos pelo local, a forma como os poucos clientes sorriam, a ausência de café no cardápio e principalmente os dois empregados do local. Enquanto um sorria e falava entusiasmado com todos, o outro se mantinha com os olhos fixos nas pessoas sem expressar qualquer emoção ou falar algo.

Talvez, a excentricidade do local tenha me atraído ao ponto de fazer com que eu voltasse todos os dias durante duas semanas, gastando o pouco dinheiro que havia sobrado.

Quatro mil dólares acabavam muito rápido quando encontrar um trabalho era difícil e as contas não paravam de chegar, principalmente quando aquela era a segunda mudança que eu fazia em menos de dois meses.

Mudar de cidade era cansativo, mas necessário.

Olhei para o meu reflexo na porta de vidro antes de entrar na cafeteria. Meus cabelos estavam presos, ocultos pelo capuz do meu moletom vermelho, a calça jeans modelava minhas pernas, a bolsa com o notebook seguia pendurada em meu ombro esquerdo, enquanto mantinha uma expressão passiva na face. Eu realmente apreciava o aroma das flores mesclado com a comida que faziam.

O aroma era familiar ao ponto de pensar que havia retornado para a minha casa.

― Você veio – A voz agradável do homem loiro que sempre me recepcionava quando eu chegava fez com que eu sorrisse levemente. – Mesa de sempre, certo? – Eu assenti sem saber como responder quando alguém parecia tão simpático comigo sem nenhuma razão. Ele apenas começou a falar sobre o movimento da semana até parar ao lado da única mesa que tinha uma tomada ao lado. – Vou trazer o suco de sempre – Eu estava prestes a negar quando suspirei. Em dois meses estaria sem dinheiro, pelo menos iria aproveitar o suco que eu tanto gostava um pouco mais. Como sempre, ele me deu as costas falando sozinho, e meus olhos foram em direção ao homem que sempre ficava atrás do balcão ou na cozinha. Ele mantinha seu olhar fixo nas pessoas que entravam na loja, não sorria e muito menos falava.

Nunca escutei a sua voz.

Nem um sussurro na verdade.

E isso não era da minha conta.

Sentei na cadeira antes de colocar o computador em cima da mesa e conectá-lo a tomada. Minha saga em buscar emprego começava mais uma vez.

Encontrar um emprego que não buscasse minhas referencias estava se tornando uma missão difícil ao ponto de querer desistir.

Mas eu não podia fazer isso ainda, certo?

Abri a pagina do banco em uma das abas da pagina de internet segurando a vontade de chorar. O banco havia levado cinco dólares em tarifas que eu não sabia que tinha, ou seja, o suco que eu havia acabado de pedir iria fazer com que eu não pagasse alguma conta no próximo mês.

― Como cheguei a esse ponto? Não tenho dinheiro nem para um suco praticamente – Acabei murmurando antes de suspirar e erguer os olhos. O homem silencioso me encarava sem expressão ao segurar o copo do suco que eu sempre pedia. Suco de morango. – Eu tenho dinheiro para pagar esse – Avisei com medo de que ele tenha escutado minha lamentação, contudo ele não falou nada, apenas colocou o copo em cima da mesa e se afastou. – Ele poderia ao menos ter falado alguma coisa – Suspirei mais uma vez ao começar a buscar alguma vaga de meio período.

Olhei para o copo, admirando a forma como sempre conseguia sorrir ao olhar para os morangos que enfeitavam o copo. Tudo era feito de forma delicada.

Isso está muito bom.

Pensei assim que provei o suco, sorrindo. Segurei o copo com as duas mãos, aproveitando a sensação gelada enquanto mordia os pedaços de morango sem me preocupar se estava sendo uma visão bonita ou desesperada.

Estava tão entretida que somente percebi ter alguém ao meu lado quando vi um papel sendo colocado em cima da mesa.

―Precisa-se de ajudantes – Li em voz alta antes de erguer a cabeça e me deparar com o homem silencioso. Ele não sorriu, apenas apontou para o papel em cima da mesa. – Está me oferecendo essa vaga? – Perguntei sem acreditar no que estava acontecendo quando ele assentiu. Olhei para o papel novamente ficando surpresa ao ver que ele havia sido escrito com caneta. – Tem certeza? Você nem sabe as minhas qualificações – Acabei falando como uma idiota.

Eu precisava de um emprego e quando alguém me oferecia comecei a questionar a boa vontade. Qual era o meu problema?

― Quero dizer – Pigarreei – Já trabalhei como garçonete por um pequeno período, então faço a entrevista com você? – Ele negou ao balançar a cabeça chamando a atenção para seus cabelos escuros cheios. – Com o loiro? – Apontei para o loiro que sempre falava sozinho, e ele assentiu. – Não deveria saber o nome da pessoa que está me oferecendo o emprego pelo menos? – Sorri ao encará-lo. Ele pareceu hesitar ao abrir a boca.

― Alexander – Respondeu fazendo com que eu parasse de respirar por alguns segundos. A voz dele era grossa, possuía o timbre perfeito e conseguia ser linda. Não tinha como descrever a voz dele sem enfatizar o quão hipnotizante e bela era. Continuei parada, o encarando até ele apontar para mim, como se estivesse perguntando o meu nome.

― Dana – Respondi sorrindo como uma boba antes de vê-lo me dar as costas. Pela primeira vez em um ano, consegui esquecer minhas preocupações ao escutar a sua voz.

Isso foi apenas coincidência, certo?

Foi o que me perguntei ao levantar com o papel que ele havia deixado e seguir em direção ao loiro. Eu iria agarrar aquela chance. 

CONTINUA ?

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