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*— Wonnie? — ouço vovó me chamar da cozinha, me levanto do sofá apressado, indo ao seu encontro. Vovó veste um avental branco, e em um de seus braços, está uma tigela branca com massa de bolo. — Você quer? — me oferece

— Sim. — concordo balançando a cabeça. Subo na cadeira para esperar o processo de preparação acabar e a tigela finalmente ser limpa por meus dedos. Em poucos minutos, o pote vem para mim, algo que me faz aguar. Não recuo ao colocar a mão inteira dentro do pote e levá-la á boca

— Está bom?

— Uhum! — confirmo, observando o sorriso da mais velha aumentar

— Hmmmm, teremos bolo hoje — vovô entra na cozinha, trazendo seu perfume fraco e delicado junto

— O preferido de Hyungwon. — afirma vovó, ainda sorridente. Sei que não é educado deixar que as pessoas falando sozinhas, mas espero que vovô entenda minha situação e não insista em uma conversa logo agora que saboreio o resíduo da massa do bolo. Eles iniciam uma conversa sobre algo que não presto atenção, visto que não participo da mesma, não preciso saber sobre o que eles falam.

Algumas cenas do desenho Tom&Jerry se passam por minha cabeça, assim como tantas outras coisas, até a campainha soar…

— Será que Hyunjae já voltou? — vovó questiona, enquanto vovô vai até a porta da frente atender…

— Olá!

— Bom dia, Hyungwon está? — a voz me soa familiar, calorosamente familiar. Teremos um dia cheio hoje

— Claro. Entrem!

Em poucos minutos, vejo a figura conhecida entrando na cozinha, sendo seguido por sua mãe e por meu avô

— Changkyun, Kya! Quanto tempo! — vovó exclama, deixo o pote de lado, observando as duas moças se cumprimentar

— Estávamos por perto e decidimos fazer uma visita. — diz a mãe de Chang

Nos olhamos por breves segundos, temos que ir para o quarto

— Nós já vamos — desço da cadeira e puxo Changkyun pela mão. É de praxe ir para o quarto, não só para deixar que eles conversem entre sí, mas nós temos assuntos pendentes

— Estou cansado. — Changkyun diz logo que passa pela porta do quarto, indo em direção à cama e se jogando nela. Faço o mesmo após garantir nossa privacidade — É tudo muito ridículo e… falso! Temos que agir como uma família feliz perante olhos alheios, tenho que agir como se nada estivesse acontecendo e ser um exemplo aparente do filho nerd da famosa família tradicional. Isso é muito desgastante!

— O que aconteceu?

— O de sempre… eu vi meu pai com aquela mulher de novo, e ainda tive que ver ele com a minha mãe.

— Espera, de novo?! Eles ao menos estavam vestidos?

— Seria menos traumático se as roupas estivessem presentes. E pior, se eu falar com alguém, ninguém vai acreditar, e é capaz do meu pai me dar uma surra…

Changkyun sempre foi um menino quieto, tímido e calado, mas sempre teve um coração maravilhosamente bondoso. O problema começou depois que ele flagrou o pai com outra mulher, no ato! E piorou quando isso se tornou cada vez mais frequente, não só com a amante, mas com a própria mãe. O pai dele sempre diz que isso é coisa de "macho", o que eu acho totalmente nojento, até mesmo para se escutar.

— Eu posso falar com a minha mãe…

— Não, Hyungwon… eu não quero apanhar, e não quero que minha mãe apanhe. Eu posso aguentar, é melhor ser cego, do que estar paraplégico ou morto. — meu coração dói ao ouvir essas palavras, o pai de Changkyun é ríspido, sorri algumas vezes apenas para mantêr as aparências de que é uma boa pessoa, mas por trás das cortinas… o monstro sempre aparece. Eu quero ajudar ele, mas não posso deixar que ao invés de ajudá-lo, eu prejudique ainda mais as coisas, estou sem saída.

— Você acha que algum dia isso possa acabar?

— Não vai acabar, só o dia em que ele morrer, mas minha mãe precisa dele, nós precisamos… não há o que passamos fazer. Eu só queria parar de presenciar essas coisas — Chang abaixa a cabeça e eu circulo o braço por seus ombros, o abraçando. Me sinto impotente e inútil ao saber que não posso ajudar ele se prejudicar de alguma forma, vivemos em tempos difíceis.

Desde bem pequeno minha mãe me deixa ciente de tudo o que acontece no mundo, eu sei que há muito mais maldade do que bondade, minha família é diferente do que a sociedade chama de normal. Sou filho único criado sem um pai, minha mãe mora com os meus avós, e eles me aceitam e me amam independente de qualquer coisa. Sou criado de um jeito diferente do que a sociedade considera normal e dentro dos padrões, mas sou amado. Gostaria que Changkyun ou qualquer outra criança que passasse por isso, ou coisas piores, pudessem ter a vida ou o amor que eu tenho da minha família, gostaria de poder fazer mais boas ações para aqueles que não tem nada, nem mesmo família. Não é porque sou uma criança que não tenho preocupações e consciência, fui instruído a ter compaixão pelas pessoas, independentemente se as conheço ou não. Mesmo sem ter uma religião ou crença, creio em mim mesmo para ser uma pessoa melhor a cada dia.

Não poupo pensamentos para refletir em um jeito de ajudar meu melhor amigo, mas em todos os que eu penso, envolve dizer à verdade para minha mãe e pedir a ela que guarde segredo, talvez funcione, talvez não. Me sinto travar uma guerra entre o certo e o errado durante todo o dia em que fico ao lado de Chang… até minha mãe chegar. Eu não quero e não posso prejudicar meu amigo, mas não posso deixar que isso prejudique seu psicólogico, Changkyun está cada vez pior.

Mesmo com incertezas rondando minha mente, dúvidas e medos… eu faço o que meu coração manda, sem me surpreender com a reação assustada da minha mãe. Conto tudo a ela, mas eu não podia imaginar que, ao revelar o segredo do meu melhor amigo para minha mãe, fosse prejudicar Changkyun al extremo. Ele confiou a mim, um segredo, e procurando ajuda, o entreguei ao "eterno para sempre".


N/A: demorei mas cheguei. Perdoem a demora, eu estou com dificuldades em aceitar que Hero precisa de um final, mas não posso adiar. Espero que tenham gostado e até o próximo ❤

¡Hero {CHW/ SHS}Onde histórias criam vida. Descubra agora