Um acidente excêntrico

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De volta a sala de emergência para terminar de preencher os relatórios referentes ao atendimento prestado, Renée encontra pessoas à sua espera, soube que se tratava de dois policiais, um alto magro com ar Blasé e o outro bem mais baixo, atarracado e nada amistoso.

— Boa noite, o senhor deve ser o doutor Renée, encarregado aqui do setor de emergência , não é? Perguntou o mais alto.

— Sim, sou eu mesmo, e no que posso ser útil? Renée respondeu ao mesmo tempo que tentava imaginar o que a polícia estava fazendo ali.

— Sou o investigador Pereira e este é meu parceiro, investigador Silva. — Qualquer coisa, pode falar comigo, pois o oficial Silva, caso não tenha percebido, é de pouca conversa. — Bem, vamos ao ponto... Disse o Pereira enquanto olhava fixamente para Renée. — Sobre a garota que foi atendida aqui, vítima de um acidente ocorrido agora de madrugada, ela falou alguma coisa, foi encontrado algo que pudesse ajudar em sua identificação, qualquer coisa anormal?

—Sinto muito, mas a vítima já deu entrada inconsciente e, ao que eu saiba, nenhuma documentação foi encontrada. Respondeu Renée sem ter mais nada o que falar. Pereira bufou desapontado e disse:

— Muito estranho mesmo esse caso. Renée, diante desse comentário, não se conteve e perguntou:

— Por que motivo, estranho? E em seguida, fez outra pergunta:

—E porque esse caso, ao que parece, virou assunto policial? Pereira em seu papel de porta voz respirou fundo.

— Desde o momento que o acidente foi resultado da evasão de uma Blitz montada na via expressa Paschoal Inecchi, o veiculo, em questão, saiu em alta velocidade perseguido por duas viaturas e acabou capotando após perder a direção... Pereira cumprindo seu papel de relator continuou:

— Os policiais conseguiram retirar das ferragens do carro dois homens que estavam no banco da frente, porém sem vida. —A garota estava agonizando presa no porta malas, que foi  preciso arrombar, para retirá-la. —Assim que o SAMU chegou os policiais levaram os homens ao IML (Instituto Médico Legal) e a garota veio para cá. — E não é somente isso... Pereira fez uma pausa  após todo esse discurso e com trejeitos típicos de um porta voz se dirigiu ao bebedouro e tomou um gole de água; após o que, voltou e continuou seu relato:

— Coisa alguma foi encontrada! Bradou. —Nenhum documento, carteira ou qualquer coisa que que pudesse identificar os homens ou o carro. — O que acha disso, doutor? Perguntou enquanto o Silva permanecia calado. 

De fato muito estranho, Renée pensou, sem responder.  A pergunta ficou no vácuo e o porta voz prosseguiu:

— O automóvel, um Clemens SL 75, cor preta, até aí nenhuma novidade, já que é um carro muito popular entre motoristas, principalmente os de Uber...  —Mas, esse em particular... Pereira fez nova pausa, suspirou e terminou de falar:

— Esse tinha umas coisinhas sórdidas, além do número de chassi raspado, possuía placa não cadastrada no DETRAN e nem em lugar algum. — Uma chapa tão fria que talvez fosse capaz de congelar um urso polar. Riu sozinho e, ao perceber isso ficou desapontado, mas continuou impassível: — Como não temos registro desse carro a questão que fica é:

— De onde ele veio? Após fazer essa pergunta, Pereira ficou olhando para Renée como se ele fosse capaz de respondê-la.

E voltou a falar, dessa vez fez com uma solicitação:

— Por favor, seria possível dar uma olhada nas roupas da acidentada? Renée achou muito estranha essa solicitação e não conseguiu esconder seu ar surpreso. Percebendo isso, Pereira, então, tentou um esclarecimento:

— Encontramos nos ternos dos defuntos etiquetas da alfaiataria Veronezze, não é  muita coisa mas é uma pista.  Continuando sua preleção ele acrescentou: 

—Quem sabe a gente possa encontrar na vestimenta da garota algo que possa esclarecer alguma coisa também, não é?

A paciente estava, de fato, trajando um vestido fora do comum ao dar entrada no Hospital, porém, fora trocado na antessala cirúrgica, por uma vestimenta hospitalar. O vestido e tudo mais que estava com ela, havia sido empacotado e guardado como acontece de praxe nessas situações. Renée solicitou que a enfermagem trouxesse, então, o pacote com todos os pertences da garota:

— Por favor, enfermeira Joyce, traga tudo que foi encontrado com a paciente. A enfermeira saiu e alguns minutos depois já estava de volta.

— Aqui está o pacote. Disse Joyce, que ficou por ali mesmo, esperando o desenrolar dos fatos, igualmente curiosa e intrigada com o assunto.

Assim que o pacote foi aberto e examinado, uma constatação passou a incomodar por demais Renée.

A Última BansheeOnde histórias criam vida. Descubra agora