A bordo da Excalibur Heylel observava Avignon e enquanto os fatos se desenrolavam aguardava em profunda meditação... Subitamente, uma voz ecoou atrás de si:
—Se o futuro está por vir e o passado é uma mera lembrança... —Toda realidade se concentra no presente? — E aonde está o presente,. Continua a enigmática voz. —Onde está aquele exato momento entre o futuro e o passado, onde tudo que é real se manifesta, onde está aquele ponto perceptível da realidade, aquela fração palpável e concreta entre o antes e o depois, que ninguém ainda conseguiu determinar e onde essa mesma realidade deveria se apoiar?... —Digo mais, se o futuro é apenas uma possibilidade, o passado um rastro de lembranças e o presente não pode ser tangível nem manifesto: —Onde está o real?
Heylel pausadamente se vira e observa um ser luminoso, exalando igual poder, curvado numa reverência.
—Seja bem vindo Sananda... Diz Heylel que, por sua vez, se curva e retribui a saudação.
—Sananda não posso dizer onde está a realidade mas, posso provar nossa existência.
—Como? Pergunta apreensivo o ser luminoso chamado Sananda
—Pensamos... —Somos capazes de pensar, logo existimos... Diz Heylel que pergunta em seguida:
—Até onde chegaste?
—Até o Sexto Céu, para além, é o Sétimo Céu, onde está o Trono do Criador, é uma dimensão de puro amor que não admite a dualidade, para entrar ali é necessário transcender a dualidade, e você?
—Até o limite das Trevas do Sétimo Círculo, para além havia uma ausência de tudo, inclusive das trevas, senti que se adentrasse ali deixaria de existir.
—Então a criação se manisfesta entre o tudo e o nada, entre o amor absoluto e a absoluta falta dele? Perguntou Heylel.
Assim parece, respondeu Sananda que continuou:
—Gosto de debater consigo Heylel, embora nosso último debate tenha durado éons.
—Não temos mais tanto tempo assim, pois o tempo se acelera, Sananda... —O que acha de fixarmos nosso próximo debate em 40 dias planetários onde quer que estejamos? Heylel pergunta apreensivo.
—A mim está bem, vamos estabelecer em 40 dias planetários. —E quanto ao que se desenrola aqui, Heylel?
—Senti que este mundo estava na iminência de sua destruição, um mundo que venho acompanhando sua paulatina estagnação, apesar de uma ilusória evolução científica e material. —Perceba Sananda, como atua o criador em sua imensa sabedoria, um mundo com sua evolução causal obliterada, seu ocaso iminente, o fato de algo em mim fazer com que sentisse tudo isso, nada é por acaso nesse plano, por isso decidi intervir.
—Decidiu intervir? Disse Sananda.
—Isso que significa que os fatos estão abertos ao nosso livre arbítrio, requer uma ação, faz parte do plano do criador, Sananda. —Ele não quer que o amemos por submissão, por deslumbramento ou por temor, mas por opção, ou seja, que o aceitemos por escolha e isso só faremos com base no arbítrio, por isso vim ter aqui, com base na livre escolha, a mesma que me fez optar pelas trevas e em suma acatar seu magnífico plano.
—Ao seu arbítrio Heylel, pois você foi dotado dele ainda no princípio...
—Ao nosso Sananda, no momento em que abracei as Trevas, fiz uso do livre arbítrio, é verdade, porém ao fazer isso a dualidade foi criada e com ela a possibilidade da escolha, a capacidade de optar se tornou tangível para todos nós... Heylel continua:
—Uma terça parte dos anjos me seguiu em minha queda por solidariedade ante uma árdua tarefa, isso foi uma escolha. —Outra terça parte preferiu a Luz, também uma escolha; enquanto o derradeiro terço se absteve, outra escolha. Percebe Sananda, que desde o princípio estivemos todos dotados do livre arbítrio, ele nos deu, inclusive para que possamos escolhê-lo.
—De fato Heylel... De fato... —E o que pretende fazer aqui, agora que o futuro desse mundo está em aberto?
—Agora mesmo meditava sobre isso, penso em abrigar todas as almas após a destruição deste mundo, mantê-las em letargo e encarná-las depois que este mundo se tornar habitável novamente; as naves Orianas possuem deslocamento espaço-temporal e irão tornar isso possível, ao mesmo tempo que isso proverá as derradeiras experiências que os Orianos necessitam e as indispensáveis aos que desencarnarem aqui, o que me diz?
—Heylel esse seu modus operandi é o que origina muitas das lendas sobre o inferno e sua sede insaciável por almas; se me permite, já que a intervenção é sua, creio que poderíamos tentar algo diferente desta vez:
—O que me diz de Gaia. Perguntou Sananda.
—Gaia... Murmurou Heylel seguido de um longo suspiro.
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A Última Banshee
FantasyNem todas desapareceram... Nem todas são lendas... Ainda resta uma entre nós.