Liminha

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Divinópolis era uma comunidade pacata de horticultores num subúrbio de São Paulo até a década de 70 onde a expansão urbana a fez ficar à sombra de bairros abastados, as chácaras foram então invadidas e deram lugar a uma grande concentração de barracos e o outrora lugar Divino se transformou em Divinópolis. Paulo Lima Filho, o Liminha, era quem comandava a comunidade. Chegou a estudar com Renée numa conceituada escola de São Paulo e eram muito amigos, até que o pai de Liminha teve todas as suas empresas levadas a falência por sucessivas crises econômicas que o obrigaram a morar em diversos subúrbios de São Paulo. 

A revolta de Liminha com a reviravolta em sua vida e a sua ambição de ter o antigo estilo de vida de volta o levaram ao crime. A sua determinação, inteligência e frieza por conseguinte o levaram ao comando da comunidade onde se estabelecera, ou seja, Divinópolis. Ficaram sem ter contato durante muitos anos pois Liminha se tornara muito arredio, primeiramente por talvez se sentir  envergonhado pela situação que a vida lhe impusera e depois, mais tarde, pela necessidade que a vida criminosa impunha. Até que um dia o destino os colocou frente a frente novamente. 

Era numa noite de julho, também fria e chuvosa, Renée ainda estava fazendo Residência Médica de Terapia Intensiva num dos hospitais próximos a Comunidade de Divinópolis e já era responsável pela UTI. Nessa noite o Hospital foi palco de um acontecimento digno de filmes policiais... 

Uma ambulância trouxe alguém que fora baleado no tórax num confronto entre gangues que disputavam o controle da comunidade de Divinópolis. A vítima, ainda sem identificação, foi levada diretamente à UTI após uma cirurgia de urgência, em estado grave. Não era algo incomum esse Hospital receber baleados, alguns por confrontos com a polícia, outros em meio a disputas de facções, por isso muitas vezes o reforço policial demorava horas,  outras vezes sequer vinha alegando ocorrências mais urgentes. Ao adentrar a UTI Renée reconheceu o antigo amigo:

—Liminha!?

Renée participava ativamente da equipe que acomodava o paciente no leito de UTI e ao mesmo tempo se perguntava o que, afinal,  a vida havia feito ao seu velho amigo. O destino, certamente, não havia facilitado as coisas para ele...

O telefone toca... Alguém grita logo após atender a chamada:

—Bandidos então subindo pelas escadas para completar o serviço!

Terminar o serviço era acabar, de vez, com a vida do Liminha, pensa Renée que imediatamente destrava as rodas do leito onde estava seu amigo e se dirige ao elevador... Mal adentra ao elevador com o leito escuta os bandidos entrarem na UTI perguntando onde estava o baleado. 

Renée sobe para o último andar do Hospital onde estaciona o elevador, aperta o botão de emergência, em seguida inutiliza o painel, o que mantém o elevador estático no andar. 

Não era possível o acesso ao último andar pelas escadas pois estavam interditadas e o andar bloqueado devido a sérias infiltrações. Os bandidos, então, arrombam a porta do elevador do andar abaixo e disparam vários tiros. Todos os tiros são detidos pelo piso do elevador, que era blindado.

Renée sabia disso pois havia estudado esses elevadores por solicitação pessoal do Dr. Palhares que estava em meio a uma licitação e pensava em utilizá-los na construção de uma nova ala no Hospital Ana Neri. Após vários tiros os criminosos desistem e saem temendo a chegada de policiais. 

Liminha estava salvo.

A Última BansheeOnde histórias criam vida. Descubra agora