Antes de existir tudo que conhecemos havia a ordem divina, que era a glória do Criador manifestada por seu amor que permeava tudo que existia... Esse amor infinito era a própria graça e bem-aventurança excelsa. Todos a sentiam e faziam parte dela, tudo que existia estava em plena harmonia. Era um plano sem dualidade, pois tudo existia em si mesmo.
Passou-se então toda uma eternidade nessa harmonia plena sem que houvesse sequer uma pequena inquietação... Essa perfeição que abrangia tudo, que partia do Criador e envolvia todos seus Anjos era a própria realidade existente, não havia como descrevê-la estando em seu âmbito porque ela era única, onipresente, universal, era o todo, tudo... Não havia como defini-la, pois não havia seu oposto, nem seu inverso e sequer o seu complementar. Essa totalidade era indivisível, imutável e intangível. Era um plano tal qual a glória do Criador: absoluta. Não era possível admirá-la como beleza, pois esse plano não concebia o seu contrário. Não havia como entendê-la como perfeição já que seu inverso, ou seja, qualquer mácula não tinha lugar nessa planificação e, sendo assim, não havia como e nem necessidade de retratá-la; consequentemente, toda essa glória não tinha testemunho, ou seja, não havia lugar algum que fosse apartado do todo, de onde alguma criatura pudesse vivenciar, sentir e ver tudo aquilo em termos de beleza, luz e perfeição. Não havia plano algum que em sua essência admitisse o conceito de beleza, de perfeição, de luz, pois não havia coisa alguma além do absoluto.... Não havia sido concebida realidade alguma onde, de uma perspectiva externa, tudo aquilo pudesse ser admirado de um ponto de vista concreto. Para que houvesse algum testemunho de toda aquela magnificência seria necessária a criação de outro plano, algum que admitisse a dualidade e a complementaridade, ou seja, os conceitos opostos como luz e trevas, calor e frio, vida e morte...
Então o Criador, dedicou toda uma eternidade preparando a concepção desse novo plano. Mas, antes, anunciou a todos os anjos a intenção de criar essa nova dimensão de onde toda aquela harmonia e enlevo pudesse ser testemunhada concretamente. E mais, nesse plano toda aquela glória seria sentida e percebida como luz. A luz, seu brilho e calor transmitiria a todos a sensação da glória e perfeição divina. Houve, então, exultação nos céus.
Porém...
Passou-se toda uma eternidade e nada aconteceu... Ao fim dessa eternidade percebendo uma inquietação crescente o Criador convocou novamente os anjos e lhes revelou que havia uma condição indispensável para que, realmente, se concretizasse esse novo plano, essa nova realidade... Seria necessário o conceito de dualidade, pois algo só poderia ser testemunhado, conhecido e percebido, se contraposto ao seu contrário. Assim como o calor que só pode ser tangível a partir de uma noção de seu oposto, ou seja, o frio... A própria luz, também só poderia ser perceptível partir do seu oposto, ou seja, a escuridão... Assim, dentro de uma perspectiva dual seriam todas as coisas nessa nova realidade, o rugoso se contrapondo ao liso, o translúcido ao ímpio... O Criador explicou detalhadamente a todos os anjos para que estes compreendessem algo tão diverso daquilo que sempre haviam conhecido, ou seja, a noção de um nova planificação onde a própria realidade seria concebida a partir de opostos, de conceitos que se complementariam, mas opostos em sua essência... A dualidade... Isso feito, prontamente, Gabriel, Rafael e Miguel, além de vários outros anjos, se prontificaram para serem guardiões daquilo que seria a luz. Personificariam essa luz, a irradiariam, abençoariam e manteriam seu brilho por toda a eternidade...
Porém...
Outra eternidade se passou... Desta vez, a mais longa de todas...
E, ao final dela, não havia uma inquietação, mas silêncio... Um silêncio permeando toda parte...
O Criador, então, para por um fim naquilo, novamente, convocou os anjos... Os anjos se reuniram, sob a égide de um absoluto silêncio, resignação e apreensão. Todos aguardavam algo, alguma coisa, porém anjo algum se manifestava. Ao contrário do entusiasmo inicial, essa concepção de um novo plano , agora dava lugar a um sentimento de ansiedade.
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A Última Banshee
FantasiaNem todas desapareceram... Nem todas são lendas... Ainda resta uma entre nós.