Não era comum, mas a noite estava tranquila no Pronto Atendimento do Hospital Ana Nery, graças a garoa que, insistentemente, caia e ao frio típico de julho em São Paulo. Passava da meia noite e todos já olhavam os relógios fazendo as contas das horas que faltavam para terminar o plantão. A cafeteira passava de mãos em mãos para afugentar o frio e o sono que teimava em tentar fechar os olhos dos mais exaustos. De um modo geral, todos tentavam se manter despertos com conversas triviais e check up dos protocolos de rotina; porém, essa monotonia atípica foi subitamente interrompida por dois paramédicos invadindo desenfreadamente a sala de emergência gritando:
— Parada! — Parada! — Acidente de automóvel com vítima encontrada inconsciente e agora em PCR (parada cardiorrespiratória).
Ofegantes os paramédicos conduziam uma maca com alguém sobre uma prancha de imobilização. Não obstante o sobressalto, em poucos segundos foram cercados pela equipe de serviço que já se mostrava completamente focada na paciente. Os procedimentos de reanimação estavam sendo conduzidos por um jovem médico na casa dos trinta anos que, a despeito da pouca idade, demonstrava muita competência. Quanto a vítima, era possível vislumbrar, em meio às faixas que a envolviam e o gingar de todas aquelas pessoas que lhe prestavam auxílio, que se tratava de uma garota por volta de 20 anos, cabelos longos, lisos, negros e brilhantes como ébano. Possuía uma pele muito clara e um belo rosto meigo onde se distinguiam olhos amendoados e imensamente azuis, profundos e reluzentes, como o mar refletindo a luz do sol. Não havia sido identificado ferimentos cortantes, mas a presença de vários hematomas decorrentes do acidente e várias cicatrizes pelo seu corpo que mais pareciam resultado de algum tipo de tortura. Havia, também, sinais de um sério traumatismo na base do crânio, além disso, a própria palidez da vítima chamava a atenção para uma provável hemorragia interna, a qual logo foi confirmada. A PCR da paciente foi finalmente revertida, graças aos esforços da equipe, e seu estado criticamente estabilizado, pelo menos o suficiente, para permitir que fosse encaminhada para uma cirurgia de emergência.
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A Última Banshee
FantastikNem todas desapareceram... Nem todas são lendas... Ainda resta uma entre nós.