Tratava-se de um lindo vestido de seda azul turquesa com acabamento primoroso e adornos de ouro. Inegavelmente algo muito incomum e, certamente, restrito a uma privilegiada elite. Seu corte era do tipo antigo, algo medieval. Esse detalhe chamou muito a atenção de Renée e despertou sua curiosidade em relação aos homens mortos no acidente, tanto que arriscou uma pergunta ao Pereira que analisava o vestuário da paciente com muito pouco caso.
— Investigador, poderia me dizer como os homens encontrados no acidente estavam trajados?
— Ternos de linho preto... Fez uma pausa e sem terminar o que ia dizer voltou a examinar o pacote.
— Sim, mas como era o modelo, como se pareciam... — Era algo moderno ou antigo? Insistiu Renée.
Pereira com ar enfadonho respondeu:
— Algo do tipo que a gente vê nos filmes de Reis e Rainhas, algo bem antigo do tempo das "casacas". — O que posso dizer senhor doutor (novamente ironizando Renée) é que, se foram encontradas etiquetas da alfaiataria Veronezze , foram feitos sob medida e custaram bem caro.
Tudo aquilo parecia um composé vintage ( uma corrente da moda que busca recuperar modos de vestir de períodos passados, algo clássico, antigo e de excelente qualidade), um carro clássico, ternos antigos e de bom gosto e um vestido deslumbrante adornado com detalhes de ouro. Renée se fazia muitas perguntas e constatava algo que naquela altura já estava bem evidente, ou seja, não eram pessoas comuns.
— O que acha disso tudo, doutor? Provocou Pereira.
— Diria, se isso existisse neste país, que se tratava de pessoas provenientes de uma aristocracia bem abastada, retrô e conservadora; andando num carro perfeito para não chamar a atenção.
— Mas, aonde é que poderia haver pessoas assim neste buraco? Comentou o investigador dando altas gargalhadas.
Mas, e se fossem de outro país? O novo comentário de Renée calou Pereira. Renée aproveitou o silêncio e arrematou:
— E se alguém possuir dois desses automóveis e declarar somente um, sendo o outro usado para serviços escusos?
— Aonde quer chegar? Silva finalmente saiu de seu estado letárgico deixando seu parceiro surpreso com essa pergunta.
—A paciente possuía cicatrizes antigas que pareciam resultar de algum tipo de tortura...
—Isso a gente não sabia! Interrompeu Pereira, aproveitando para se colocar no controle da situação novamente. Renée continuou:
— Ela poderia ser refém de criminosos que a mantinham cativa enquanto aguardavam resgate e que fora capturada numa pretensa fuga, ou...
— Ou? Repetiu Pereira que agora estava muito interessado.
— Ou, poderia ser alguma espécie de mercadoria num esquema de tráfico de mulheres e que estava sendo transportada justamente nesta noite.
— Taí algo que não havíamos pensado! Pereira exclamou enquanto fechava o pacote da paciente, após isso disse solenemente:
— Estou requisitando legalmente toda a indumentária como provas a serem analisadas na peritagem. —Agora temos que fazer uma visitinha ao senhor Veronezze. Ao acabar de dizer isso Pereira pegou o pacote e fez menção de sair, não sem antes dar uma última estiletada em Renée:
— Você poderia se dar muito bem como detetive, doutor. Completou ele em tom sarcástico e se dirigiu para a porta de saída.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Banshee
FantasyNem todas desapareceram... Nem todas são lendas... Ainda resta uma entre nós.