Alma de Lutador

53 10 4
                                    

Pouco tempo depois, voltaram a bater à porta. O rei respondeu com um urro.

A porta foi aberta e fechada. À sua frente estava um alto homem com um robe parecido com o seu. Sobre o coração desenhava-se o símbolo dos Sayler: um furacão composto por quatro argolas verticais de tamanho crescente. Encostou o "Sabre do Furacão" à parede. Uma espada lendária. Uma espada que apenas dançava com o melhor guerreiro.

Arorn ficou em frente à porta, cobrindo-a na totalidade: tinha a postura ereta de um soldado, era mais alto do que a maioria dos homens e os seus músculos desenhavam-se por baixo da roupa.

-Meu pai, ouvi a confirmação dos boatos.

-Ouviste? O Alfred já não consegue manter a boca calada? Eu apenas te mandei chamar. Ah, suponho que não tem importância... - Observou o filho. - E o que achas?

- Meu rei, eu treino todos os dias e defendo as vossas terras sempre que há problemas. Só não lutei em guerra nenhuma porque os reinos estão em paz. Esta missão é o melhor que me podia acontecer.

Hawthorne observou o filho. Uma parte de si não o queria enviar na missão. Mas essa parte não era maioritária.

-Sei que muitas vezes fui duro contigo. Que te protegi em demasia. Mas eu nunca fui grande coisa a lutar. Sempre fui melhor a apreciar a vida. A beber, a comer, com as mulheres... tu sabes o que eu quero dizer.

Arorn anuiu e Hawthorne continuou.

-O teu avô e o pai dele é que eram como tu. Só pensavam em treinar e lutar. Dar-se-iam bem de certeza...

Arorn colocou um joelho no chão e olhou para baixo.

- Obrigado, meu pai e meu rei. A minha espada é vossa. Prometo fazer tudo ao meu alcance para que esta missão seja bem-sucedida.

Hawthorne fez um movimento com a mão para que o filho se levantasse e encheu outra caneca, entregando-a a Arorn.

- Toma. Bebe.

Enquanto Arorn bebia, o rei observava-o. Até a bebida parecia ser um dever. Só não o via a cumprir um dever enquanto lutava.

Arorn acabou de beber e olhou para o seu pai.

-Quando posso partir?

-Já amanhã, se estiveres preparado. - Arorn anuiu. O rei observou a expressão intrépida do filho. - Não tens medo?

-O medo não tem lugar no dever.

O rei sorriu para si. Era aquela a diferença entre Hawthorne e os outros homens da sua linhagem – nunca conseguiu perceber porque é que o dever pesava tanto. Ao contrário dele, o sangue dos antepassados corria nas veias de Arorn. Sentiu o sabor ácido da inveja na boca. Tentou afugentar aqueles pensamentos.

-Qual é a tua opinião acerca da profecia?

A seriedade voltou a Arorn.

- As profecias ganham força quando são passadas de boca em boca durante gerações. E esta profecia foi escrita há muitos anos por homens sábios como Alfred. É uma profecia com muita magia. Mas... - Ponderou por uns momentos.

-Continua.

-Ao serem passadas de boca em boca, as profecias são alteradas, perdendo o sentido original. Perdendo parte da magia original de quem as escreveu. Portanto, acredito que a passagem da Ponte Proibida trará algumas consequências, mas não tão catastróficas quanto as descritas na profecia. E se vós acreditais que os benefícios serão superiores às consequências, para mim chega.

Hawthorne soltou uma gargalhada.

- Um brinde a esta coroa, à sua sabedoria e às riquezas por descobrir! - As duas canecas embateram uma na outra.

As Profecias da Tempestade I - A Ponte ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora