Os Esquecidos

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Passado menos de dois dias, como estava previsto, antes que o sol já tivesse mergulhado na paisagem de erva daninha, do topo de uma colina, conseguiram avistar o enorme Forte da Resistência. Adaptado à paisagem, o Forte era baixo, comparando com a Torre de Magma, e era maioritariamente constituído por madeira, sendo que o topo estava coberto por algo parecido com pano bege; que Darrion sabia ser pele de animal tratada – a torre parecia ser uma tenda com estruturas em madeira. À frente da torre principal, havia duas réplicas, menos altas e robustas: uma voltada a Sul, para receber os homens das Terras Azuis durante a guerra e outra voltada a Noroeste, avistando qualquer guerreiro do Norte com facilidade.

Tinha sido nos campos que se estendiam à sua frente, sem vegetação, para que os guerreiros Esquecidos pudessem vigiar melhor quem se aproximava, que Duncan havia morrido. Talvez por estar demasiado esgotado pelos acontecimentos do dia anterior e por não ter dormido, Darrion não conseguiu sentir nada para além de urgência para que abandonassem aquelas terras o mais rapidamente possível. Seguiu as ordens dadas por Arorn e desceu o baixo planalto.

Quando ainda estavam a cerca de duzentos metros do Forte, Arorn ordenou-lhes que parassem e se colocassem lado a lado: Darrion notou que, iluminados pelo sol que se começava a esconder atrás dos planaltos que haviam descido, cavalgavam na sua direção mais de vinte cavaleiros. Sabendo o passado de guerra de Darrion, Arorn olhou para ele e fez-lhe um sinal com as mãos para que tivesse calma. Aquele que se ia dirigir aos guerreiros do Esquecimento era o príncipe e apenas o príncipe.

Darrion lembrava-se perfeitamente do galope dos cavalos dos Esquecidos. Eram cavalos que não existiam em mais nenhuma terra; cavalos altos e franzinos, com as pernas compridas de modo a poderem saltar por cima de qualquer obstáculo e nunca ficarem presos no solo traiçoeiro do Vale do Esquecimento. E lembrava-se perfeitamente de cortar pernas a esses cavalos, para derrubar os seus cavaleiros.

A menos de trinta metros, os cerca de vinte guerreiros pararam e ficaram, lado a lado, a observar o grupo. Nenhum dos homens do Esquecimento que olhava para eles era mais baixo do que Arorn e os seus músculos estavam bem delineados nos escuros braços queimados pelo sol, que terminavam em dedos a envolver, ora machados de uma mão, ora longas lanças cujas pontas estavam voltadas para eles. Isso, em conjunto com a falta de cabelo e com as peles finas que lhes cobriam o tronco e as pernas, fez com que Darrion se arrepiasse. Já lhes sentia o cheiro - um intermédio entre o odor da terra após as primeiras chuvas e o apodrecer de citrinos. E quase ouvia, através da memória, o batimento cardíaco lento e pausado, digno de um predador, característico dos Esquecidos.

Só nesse momento é que se lembrou de, durante a guerra, estar habituado a cheirar e ouvir os Esquecidos, mas raramente os ver tão nitidamente – costumavam estar pintados pela tinta Kameli, que os camuflava. Moviam-se como sombras pela vegetação, enquanto atacavam os nortenhos.

Passado cerca de um minuto, ouviu-se palavras que não desconhecia, pertencentes ao dialeto dos Esquecidos. Um dos cavalos avançou, passando por um que carregava uma mulher armada com uma lança. O homem que o montava era o maior deles todos e empunhava um machado do tamanho da maioria dos homens. Darrion sabia que apenas podiam segurar um machado com aquelas dimensões os melhores guerreiros não Rhargans do Vale do Esquecimento, conhecidos pelos seus inimigos como os "Demónios da Sombra". Dava-se-lhes esse nome porque, para além de serem guerreiros muito capazes, conheciam aqueles terrenos como mais ninguém e montavam emboscadas com toda a facilidade, surgindo das sombras.

A maioria do exército do Vale do Esquecimento era constituído por "Demónios da Sombra", porque os Rhargans, pelo que sabia, eram raros. Não conseguiu evitar lembrar-se do rapaz. Mas lá conseguiu focar a atenção no inimigo.

O Esquecido falou numa voz grave, com o sotaque elegante do Vale do Esquecimento: abriam mais a boca a falar porque davam maior ênfase às vogais, também fazendo com que a sua expressão facial se assemelhasse à de um animal pronto a atacar, com os dentes a ver-se.

-O que querem?

Arorn aclarou a garganta para falar e endireitou a postura.

– Eu sou Arorn, filho de Hawthorne, o rei do Norte dos Ventos. E esta é a comitiva que me acompanha. Planeamos passar a Ponte Proibida, como de certo o meu pai avisou o grande rei Calhorn "A Seta".

O "Demónio da Sombra" passou os olhos pelo resto do grupo, demorando-se mais em Darrion e Shaw.

- Quem são aqueles?

Arorn apontou para Darrion.

-Este é Darrion Bradley, um guerreiro do Norte dos Ventos. - Apontou para Shaw com a cabeça. - E Shaw, um dos homens da minha confiança.

Sem olhar mais para o príncipe, o Esquecido cuspiu no chão, voltou o seu cavalo e ordenou aos seus homens para se dirigirem para o Forte da Resistência. Arorn indicou ao grupo para os seguir. Darrion, antes de avançar, olhou para os pelos dos seus braços, que se haviam eriçado. Reparou que Shaw, quando passou pelo local onde haviam estado os Guerreiros do Esquecimento, também cuspiu no chão. Darrion cuspiu em cima do cuspo de Shaw. Kinsey, atrás dele, não parava de se mover na sela.

A cada passo que o seu cavalo dava em direção ao Forte da Resistência, a mente de Darrion passava-lhe uma imagem do passado; a maioria delas de irmãos de guerra a morrerem às mãos dos guerreiros do Esquecimento. Parecia que os cascos não estavam realmente a embater no chão, mas nas faces desfiguradas daqueles que haviam lutado ao seu lado. Sacudiu a cabeça e focou-se no caminho que tinha em frente. Deixa o passado no passado, tentava Darrion dizer para si mesmo. Mas o passado agarrava-o com mãos moribundas e ecoava na sua cabeça como um tambor descontrolado.


_ _ _ _ _ _ _ _ _  Próximo Capítulo: Bonn, um ser da Floresta das Sombras  _ _ _ _ _ _ _ _ _ 


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As Profecias da Tempestade I - A Ponte ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora