"Os Olhos do Furacão"

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O príncipe ordenou que lhe dessem a chave da sela.

-Meu príncipe, vós tendes a certeza? - Osbert parecia atrapalhado.

-Se não tenho a coragem de entrar na cela onde ele está, como poderei passar mais de dois meses a cavalo ao seu lado?

Glarstone acabou por fazer sinal a um guarda. A chave foi entregue ao príncipe.

Sem hesitar, Arorn abriu a cela. Deu dois passos e ficou a observá-lo, quase sem piscar os olhos, como uma ave. Buckley rastejou até à parede mais distante, esmagado pela realidade de estar a ver de perto o Príncipe dos Ventos.

Arrogância. Darrion deu um passo em frente. Atraiu o olhar de todos. Parou. Não, controlo. O príncipe sabia que nenhum deles o podia atacar. E Darrion sabia que o seu corpo se queria mover sozinho e vingar-se daquele homem mimado com carapaça de guerreiro por todos os anos que passara a viver como um escravo. E por todos os anos que lutara sem receber nada em troca para além de memórias traumáticas.

Arorn olhou para os outros dois.

-Entrem.

O homem do Sul deixou de sorrir e entrou cautelosamente dentro da cela, mantendo a sua distância. O mais velho não desviou o olhar de Darrion enquanto entrava. No primeiro, viu medo a ser disfarçado, enquanto no segundo viu cólera sem ser disfarçada.

Após o que pareceu uma eternidade, Arorn aclarou a voz.

-O meu nome é Arorn Sayler, o príncipe dos Ventos. Sou também o chefe da comitiva de que farás parte. Já fui informado acerca do teu crime. Do que fizeste para seres prisioneiro. - O seu olhar intensificou-se. - Foste escolhido porque apenas foste apanhado numa escaramuça com soldados sem que nenhum ficasse gravemente ferido, o que é um crime pouco grave aos olhos da justiça e do rei. Quero que saibas que, para mim, qualquer crime é grave. Não há razões válidas. Mas o rei acredita que podes voltar a fazer parte da sociedade se esta missão for bem-sucedida. O que será. - O seu olhar negro intensificou-se ainda mais. - Se não cumprires as regras, serás eliminado. Entendido?

Observou Osbert. Atentava a algo no pavimento. Espelhava algum temor. O antigo irmão havia sido um guerreiro feroz e respeitável. Agora não passava de mais um burocrata que temia os poderosos.

Darrion soltou uma gargalhada seca que fez com que os guardas se movessem no mesmo lugar.

-Há algo que eu não entendo. Quem é que vos disse que eu já tinha aceitado?

Arorn pareceu ter sido apanhado de surpresa por aquela resposta. Devia estar habituado a que lhe respondessem com respeito e certamente não esperava que ele recusasse aquela proposta.

Darrion deu outro passo em frente, ficando muito próximo do príncipe. Os guardas avançaram, mas foram parados por Osbert.

-É verdade que aceito. Estava apenas a meter-me convosco. Mas, tenho uma condição. - Ao ouvir as palavras de Darrion, Buckley encolheu-se ainda mais no seu canto, como se não conseguisse acreditar naquilo que presenciava; e Osbert sorriu para si mesmo, como se ele próprio quisesse ter aquela coragem.

O príncipe havia recuperado a compostura. Erguia-se alto e imponente.

-Não me parece que possas apresentar condições, prisioneiro.

Darrion sentiu a chama da cólera a endurecer-lhe a expressão.

-Discordo, meu príncipe. Sois acompanhado por um homem do Sul e por um mercenário. - O homem das Terras Azuis mudou o peso de uma perna para a outra. - E agora vindes buscar um prisioneiro? Estais desesperado.

As Profecias da Tempestade I - A Ponte ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora