Braços das Terras Sem Nome

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Kinsey demorou algum tempo a reagir, caindo de rabo no chão.

-Eu sabia... Eu sabia! - Com um salto, ergueu-se e tirou o arco das costas. - Eu não estou louco!

A vergonha pelo erro de Arorn transformou-se em cólera. Não só quase havia deixado um dos seus homens morrer, como demorara demasiado tempo a reagir, tendo de ser Darrion a defender Kinsey. Isso, para "Os Olhos do Furacão", era inadmissível.

Desembainhou o "Sabre do Furacão" e olhou em redor.

-Darrion, ouves alguma coisa? - indagou Arorn.

-Apenas quando ele se move a maior velocidade. Agora não oiço nada!

-E tu, Shaw?

O homem mais velho abanou a cabeça, aparentemente furioso com ele mesmo.

-Não vejo nada através deste nevoeiro, nem consigo dissipá-lo! Merda!

Olhavam todos em redor, a tentar prever o próximo movimento do inimigo. Arorn ouvia a corda do arco de Kinsey a ranger.

-Guarda o arco! Não consegues enviar setas para aquilo que não vês. - Kinsey pareceu ponderar durante um instante e, depois, colocou o arco nas costas. Envolveu com os dedos a sua pequena faca.

-Atrás! - gritou Darrion.

Arorn ergueu a espada a tempo de defletir o golpe. Reparou, antes que o outro desaparecesse, que o outro tinha um capuz negro a cobrir a cabeça.

Ao fim de uns embates de facas contra a espada de Arorn, conseguiu perceber que ele era claramente o alvo. Apenas havia sofrido cortes superficiais nas mãos e no braço direito. Mas também não havia conseguido atingir o inimigo. Estava completamente frustrado: o ar que lhe saía entre os dentes era fumo quente que atacava o ar.

Estava apenas atento à voz de Darrion, que lhe dava as instruções. Por vezes, os outros eram atacados. Darrion defendia muitas vezes Kinsey, enquanto Shaw parecia apenas tentar proteger a sua vida.

-Direita! - soou a voz de Darrion.

O punhal do assassino atingiu a sua espada num embate violento e, antes de ser atingido pela adaga de Darrion, já o outro saltava de volta para o nevoeiro. Arorn estava a ofegar. Tentar perceber de onde vinham os ataques era uma atividade penosa.

Sentiu alguém a puxá-lo para trás. Um silvo. Um corte na bochecha esquerda. Olhou para trás e viu Darrion. Anuiu em agradecimento, mas sentia-se ridículo - não estava habituado a precisar da ajuda de ninguém. Levou a mão à bochecha. A sua luva veio encharcada de sangue. O corte era mais profundo do que os outros.

Nesse momento, ao ver a luva coberta com o seu próprio sangue, o chamamento da espada foi mais forte.

-Afastem-se! - gritou aos outros.

-Mas, meu... - ia Darrion a dizer, mas foi interrompido por um empurrão de Arorn.

-Obedece-me! Vou-te mostrar como é que eu lido com quem me irrita!

Arorn segurou a espada com as duas mãos e fechou os olhos. Esperou o sinal de Darrion. Não tardou a chegar.

-Atrás!

Enquanto se voltava, Arorn sentiu-se inundado de poder e proferiu as palavras que poucos conseguiam proferir.

-Irksaygor Eptum! - E cortou o ar com a espada. O Ímpeto. Ouviu-se o urro dos ventos e o nevoeiro foi cortado em direção ao assassino. O outro, a meio do ar, procurou desviar-se, surpreendido. A magia lendária dos ventos ainda o atingiu num braço e ele foi atirado para trás, desaparecendo. Ouviu-se o som de troncos a estalar na direção do golpe.

As Profecias da Tempestade I - A Ponte ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora