Próximos Passos

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 Arorn contraiu momentaneamente um punho.

-Meus caros, ainda bem que já estão de pé. Ia mesmo agora enviar um homem para vos acordar. Dormiram bem?

Arorn ignorou a pergunta provocadora do outro.

-Penso que o rei o avisou da nossa necessidade de informação relativamente ao território para lá deste forte.

Arorn observou o olhar sorridente de Bonn.

-Sem dúvida.

- Ótimo. Agora, guie-nos por estas terras. - Arorn tirou o mapa de um bolso e estendeu-o no chão.

-Sim, senhor! - afirmou Bonn, com um sorriso nos lábios. - Comecemos então.

Pensou durante alguns momentos, em silêncio.

- É difícil, para mim, apontar as zonas perigosas porque para mim nunca foram perigosas.

-Tente colocar-se nos nossos pés - sugeriu Arorn.

-Não, obrigado - respondeu Bonn, com repugnância estampada no rosto. Arorn apertou o seu polegar, fazendo com que ele estalasse.

- A forma mais fácil de vocês chegarem à Vila do Fumo é seguindo a orla da Floresta das Sombras. Quando chegarem ao extremo Este, dirijam-se para Sul, onde vão dar à Vila. Ou melhor, ela dá convosco.

O que quer ele dizer com isto? Todo o grupo expressou não entender o significado daquelas palavras.

- Vocês não sabem nada, pois não? Chegando lá, entendem. - A pupila de Bonn pareceu dilatar-se para lá da órbita dos seus olhos – E tenham muito cuidado com a Floresta das Sombras. Erunnyl tem uma maneira muito especial de atrair os estrangeiros.

Arorn manteve-se impassível perante a afirmação do outro. Focava a enorme pupila de Bonn, que parecia girar sobre si, tendo um efeito hipnotizante sobre o interlocutor. Arorn não sentia qualquer hipnose, para além de uma força a puxá-lo para o exterior. Havia passado demasiado tempo longe da sua espada e esta estava a chamá-lo.

-Ah, já me ia esquecendo! - gritou Bonn, fazendo com que Arorn recuasse um passo. - Ali, ali! - Apontou Bonn para o mapa: para meio do caminho entre o Forte da Resistência e o local onde a Vila do Fumo estava assinalada.

– Esse é o local mais perigoso para vocês, estrangeiros. Não há ninguém que conheça melhor esses pântanos do que os Esquecidos. Até o meu povo se recusa a lá passar.

Bonn chamou o "Demónio da Escuridão" que eles haviam seguido ao subir as escadas.

-Este é Marrow "Dentes d'Osso". Ele explica-vos como é que se passa por lá. Sempre é preferível à passagem pela Floresta.

Arorn entendeu, pelos dentes robustos e inclinados para dentro de Marrow, que o seu apelido havia sido bem atribuído.

-O que voxês chamam pântanoch, nóch chamamoch Terrach Chem Nome - disse ele num tom agressivo em que as palavras eram quase impercetíveis porque, para além do sotaque, os ossos que tinha na boca em vez dos dentes impediam-no de articular corretamente as palavras.

-Terras Sem Nome - repetiu Bonn, sem disfarçar o sorriso que a sua diminuta boca desenhava.

- Têm d'andar a pé. Och cavaloch afogam-se co' pecho doch homench. E pichar chempre ach pedrach do caminho.

Arorn ouviu o riso abafado de Kinsey atrás de si.

-E pisar sempre as pedras do caminho - concluiu Bonn.

– Obrigado, Marrow. Eles já devem ter informação suficiente -declarou, sarcasticamente. Marrow olhou para o seu superior com o olhar inflamado e atravessou a ponte, com uma passada pesada, mas ágil.

-Chega? - indagou Bonn, com um sorriso nos pequenos e finos lábios.

-Sim - respondeu Arorn. Pisar sempre as pedras do caminho? Aquilo teria de ser um exagero. Esperava que fosse, porque já lhe chegava a questão do assassino para dificultar a missão. Tinha de alertar Bonn para a existência do homem que os seguia.

- Quero só acrescentar uma coisa: esta companhia está a ser seguida por um homem que já matou um dos nossos. Não tenho a certeza do que ele quer, mas deduzo que seja matar-nos.

Bonn observava, concentrado.

- Peço-lhe para dizer aos seus homens para que tomem atenção ao terreno em volta do Forte - continuou Arorn - Se virem alguém com um aspeto suspeito, não hesitem em...

-Nós nunca hesitamos - interrompeu-o Bonn.

Arorn, com os seus olhos de águia, não desviava o olhar de Bonn.

- Ótimo. Também quero avisar de que vou enviar uma carta ao rei do Norte dos Ventos para o informar do nosso paradeiro. Não abatam o pombo.

Bonn anuiu, a sorrir. Arorn não conseguia entender as expressões do homem da Floresta das Sombras.

Arorn concluiu.

-E obrigado pelo alimento que nos dispensaram e por nos darem estadia. Não me esquecerei. - Das condições lastimáveis em que nos alojaram. Um dia ajustaremos contas, Esquecidos.

-De nada. Também não me esquecerei de vós, meu príncipe.

Bonn voltou-lhes as costas e sentou-se num banco que estava voltado para a paisagem que se estendia a Oeste do Forte da Resistência.

Arorn ordenou-lhes que atravessassem a ponte e que descessem as escadas. Foram seguidos por dois Esquecidos, que lhes entregaram as armas e os levaram aos cavalos.

Arorn tirou com um esticão a espada que estava a ser segurada por um Esquecido. Os seus dedos envolveram o cabo e Arorn sentiu de imediato uma sede de sangue que quase o levou a decepar a cabeça do Esquecido que olhava para ele com uma expressão furiosa. Controlou o seu impulso e colocou a espada embainhada às costas.

Os cavalos estavam a pastar erva seca e pareciam ter sido tão bem tratados quanto os seus donos. Arorn verificou o equipamento – tendas, gaiolas com pombos correio, capas e outros utensílios -, concluindo que nada havia sido roubado. Era natural – os Esquecidos pareciam desprezar tudo o que provinha do Norte.

Arorn tirou um pergaminho com uma mensagem escrita previamente de que haviam chegado ao Forte da Resistência e apenas acrescentou que estavam, naquele momento, a partir. Tinha muitos outros pergaminhos para as outras etapas da viagem - não havia tempo a perder. Como havia escrito aquela mensagem em duplicado, acrescentou o mesmo que na primeira mensagem a outro pergaminho. Atou os papéis em torno das patas de dois pombos, não fosse um deles não chegar ao Porto Ventoso, e atirou-os em direção ao céu. Ficou alguns momentos a contemplar as aves, que voavam com a ajuda de uma leve brisa quente que soprou.

Com Esquecidos à frente e atrás, foram dirigidos por um trilho que dividia o acampamento ao meio. Arorn observava as famílias que os rodeavam, com expressões, ou curiosas, ou agressivas. Conseguia perceber a hostilidade que eles demonstravam perante homens estrangeiros. Se fosse no Norte, os Esquecidos seriam igualmente mal recebidos, tendo em conta as histórias de selvajaria que os descreviam aos olhos dos nortenhos.

Nunca tinha estado tão a sul do acampamento, mas parecia que as tendas, embora variassem ligeiramente em tamanho, eram muito semelhantes entre si, bem como as pessoas que as rodeavam. Mas, à medida que se iam afastando do portão, o solo, menos pisado, mostrava-se mais irregular, estando coberto de pedras soltas e pequenos buracos onde, durante a época das chuvas, a água se devia acumular.

Quando atingiram o limite Este do acampamento e mais nenhuma tenda se desenhava à sua frente, o grupo parou. Arorn saudou respeitosamente os Esquecidos que os haviam acompanhado e recebeu como resposta um olhar desconfiado. Engoliu o orgulho e viu-os a afastarem-se. Depois olhou para trás, para o topo da torre principal do Forte da Resistência onde haviam estado a falar com Bonn. Sentia-se observado. Focou o seu olhar no espaço entre a madeira e a pele que cobria a torre. Não detetou movimento.


_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _  Próximo Capítulo: A Floresta das Sombras  _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _


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As Profecias da Tempestade I - A Ponte ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora