capitulo 1 - o cientista louco

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Bateu a porta com força ao entrar em seu apartamento, encheu um copo de vinho e emborcou de vez, caminhou até o banheiro enquanto a raiva o consumia. Dante era um homem independente, sem amigos ou família, morava sozinho desde os tempos de faculdade, trabalhava durante o dia e durante a noite trabalhava mais em casa acompanhado de um copo de vodka, quando sentia que estava prestes a ficar bêbado tomava um banho gelado e preparava café, dormia sete horas por dia e seus finais de semana se baseavam em exercícios físicos, um filme de ação por noite e mais trabalho. Aos 29 anos ele era o detetive de Porto Alegre, estava acostumado com o frio, com seus sentimentos mortos, com seu trabalho e nunca havia se apaixonado.
Olhou-se no espelho e se odiou, não havia conseguido chegar a tempo de salvar aquela pobre mulher que morreu em um assalto. Lembrava-se da sua aflição enquanto sagrava no chão. Sabia que veria cenas destas quando decidiu se tornar um policial, mas sentia a dor das pessoas sempre que via. Encarrou seus olhos tão escuros refletidos e espelho e socou-o, uma parte do espelho se quebrou, sangue escorria de sua mão e pelo vidro que ainda restava.
- Ótimo, agora eu vou ter sete anos de azar! - Foi irônico, não acreditava em crendices, superstições, milagres ou forças divinas.
Com pouca vontade fez um curativo na mão e deitando-se na cama adormeceu tão rápido quanto o espelho se quebrou ao colidir com sua mão.
O sol ainda não havia raiado, Dante puxava a coberta ainda dormindo tentando aquecer-se, deu um salto quando seu telefone de trabalho tocou.
- Já falei pra nunca me ligarem antes das oito! - Resmungou ao perceber que eram apenas cinco horas da manhã. E atendeu.
- Detetive Dante falando.
- O senhor precisa vir para a rua General Eugenio Rodrigues número 356.
- É uma emergência?
- Eu não ligaria se não fosse.
Dante levantou rápido e colocou a farda, pegou as chaves do carro e saiu correndo pelas escadas, não poderia deixar que mais ninguém morresse. Dirigiu até a rua General Eugenio Rodrigues e viu um tumulto de pessoas na frente da clínica do cientista Skinner, também conhecido como doutor louco. Parou seu carro e foi atravessando a passos largos as pessoas em sua frente, assim que viu Diogo seu colega de trabalho, sussurrou para ele:
- Vai me dizer que o doutor louco matou alguém?
- Podemos dizer que alguém matou ele, ou foi suicídio, ainda não sabemos.
- Vou resolver isso. - Entrou bufando na clínica, aquele cientista era um verdadeiro desvairado, certo que alguém o mataria, ele já havia tentado seus experimentos em cobaias humanas e levava nas costas mais de sete processos. Pela primeira vez Dante não lamentava uma morte, mas lamentava seu sono perdido. Há mais de um ano precisava de férias e sempre se recusava a tira-las.
Olhou para todos os lados, havia frascos quebrados com diversas misturas no chão, animais mortos em vidros estilhaçados também faziam parte do ambiente. No chão estava um cadáver, perto dele uma adaga antiga. Quem olhasse juraria que algum experimento deu errado e o cientista decepcionado havia tirado sua vida, afinal até a adaga continha somente suas digitais, mas Dante tinha certeza que era assassinato, se algo houvesse dado errado e o cientista por raiva resolvesse quebrar tudo no laboratório não deixaria nada intacto para trás. A privilegiada coisa ilesa ali era um espelho, marrom rustico, grande e retangular, estava na parede e a luz fazia-o brilhar. Dante olhou para seu reflexo, sentiu-se atraído, tentou ignorar seus sentidos, mas pensou que fosse burrice afinal o cientista não possuía mais parentes, há família Flamelle já não existia, era o último de seu nome, ninguém iria querer um espelho velho e seu espelho havia sido quebrado em um ataque de raiva na noite passada. Recolheu as pistas na cena de crime, pegou o espelho e o levou para casa.
Um calafrio lhe percorreu a espinha assim que pôs o espelho na parede esquerda de seu quarto, embora que o povo diga que as coisas acontecem quando menos se espera, sentiu naquele dia um arrepio diferente na pele, uma sensação que duraria por dias, por meses, sabia que algo aconteceria e o coração disparado confirmava isso. Ainda assim negou isso a si mesmo, negou de pés juntos, mal sabia o que o destino o reservava.



O espelho de SkinnerOnde histórias criam vida. Descubra agora