Capitulo 3 - O colar de Marina

243 37 5
                                    

27 de novembro de 2019.
  
   Marina sentiu todo seu corpo tremer, ansiava por poder controlar suas ações mais uma vez. Levou a boca o pequeno comprimido amargo e começou a tomar água para engoli-lo, ela derramou um pouco na blusa branca, pareceu não ligar. Respirou fundo por três vezes e começou a sentir seu corpo relaxar. O vento forte  que entrava pela sala balançava sua saia midi de cor marsala. Ela não pareceu parecer que Dante a observava da porta atrás dela.
  Ele se aproximou. Seu olhar estava sombrio, colocaria medo no maior mafioso da cidade, mas não em Marina. Ele tocou seus ombros, em seguida começou a massagea-los. Ela suspirou e continuou parada, sem reação.
- Você não precisa de mais um calmante.
Ela deixou uma lágrima escorrer. Sentia-se fraca, imponente, dividida entre dois mundos.
- Já fazem quase dois anos, eu não deveria sentir mais nada, deveria ter me acostumado, deveria não pensar tanto no passado.
- Deveria pensar mais em mim. - Ele lhe arrancou um sorriso fraco.
- Eu penso em você sempre meu amor.
- Pois então pense mais em nossa familia. Nossas filhas precisam que você lute contra essa depressão Marina, eu preciso que você lute.
- Tenho tentado meu esposo, mas está cada dia mais difícil, Dante eu os amo tanto, mas não consigo, não tenho forças.
- Então pegue as minhas forças, as faça suas.
- Você já faz muito por mim.
- Eu sou seu esposo, é minha obrigação.
- Sua obrigação é prover nossa casa e a minha é de manter nossa familia unida, alegre, esperançosa. - Ela olhou profundamente em seus olhos e ele percebeu que os olhos de Marina já não tinham o brilho que outrora tiveram. Ela parecia um animal ferido que tentava se esconder da sua própria dor. - Eu estou sendo uma péssima mãe, uma péssima esposa, estou sendo pior que minha mãe.
- Não diga isso minha vida. Eu te jurei Marina, que te seria fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, que iria te amar e te respeitar todos os dias da minha vida. Você não está sozinha, eu estou aqui, não tente me afastar porque não vou embora, o nosso caminho é um só caminho e nossa alma já é uma só alma, o teu pranto dita a minha tristeza e o teu riso a minha alegria.
- Não desista de mim, de nós. Eu prometo melhorar.
- Me deixa te ajudar?
Ela consentiu com a cabeça. E no fundo do peito sentiu que algo voltava para seu lugar. Dante a abraçou e ela teve certeza de que era aquele abraço que a fazia acordar todos os dias e lutar para viver.
  - Eu te amo Dante, apesar de todos meus defeitos eu te amo tanto.
- Eu te amo Marina.
Ela sentou -se na cama do casal e ficou observando a rua pela janela aberta do apartamento. Era noite, já se passava das onze horas, os carros corriam pelas ruas, as luzes davam muitas cores a avenida e na esquina havia um café que estava movimentado aquela noite. Marina sentia que não pertencia aquele mundo.
- Quer sentar comigo? - Ele se aproximou e sentou em silêncio, que o céu o ajudasse ele já estava ficando impaciente com aquela mulher, não que no Passado paciência tenha sido um de seus pontos fortes, mas nunca imaginou que sua Marina, a pessoa mais alegre e pura que conhecerá em toda sua vida se tornasse uma pessoa triste, uma pessoa de olhos vazios. E aquilo o matava dia após dia.
- Você respeitou todo meu tempo em silêncio, e eu não sei como lhe agradecer por isso...
Ele não a deixou terminar a frase e falou:
- Sendo feliz.
- Chegou agora de partilhar com você o que sinto. Eu criei uma bolha e comecei a viver dentro dela, mas não posso mais te deixar fora dela. Fica difícil respirar sem você. - Ela sorriu um pouco desconfiada, não aquele sorriso dado com a alma, mas ainda assim era um sorriso e isso valia muito.
  Por sua vez Dante tambem sorriu. Para seu alivio Marina falaria alguma coisa. Dante agradeceu em silêncio. Ele segurou sua mão para que ela se sentisse segura ao falar. Ela a apertou forte entrelaçando seus dedos.
- Eu não coomprendo bem esse mundo Dante. As pessoas se traem, viver pensando em dinheiro, as pessoas fazem coisas horríveis. Perdeu-se a razão, a fé, o juízo. Eu não consigo me encontrar aqui.
  Dante sentiu como se uma faca atravessasse seu peito. Continuou segurando a mão dela, antes que ele mesmo saísse correndo. E Marina continuou falando:
- Sinto falta do casarão, sinto falta dos chás da tarde, dos bailes daquela época, do piano, dos meus vestidos.
Dante alterou a voz.
- Pelos anjos Marina, eu não acredito que você chora toda noite porque sente falta dos chás da tarde. - Ele respirou fundo e acalmou seu tom de voz - Pelos céus Marina, se este é o problema nós nos mudamos para uma fazenda, eu compro um piano e você pode tomar chá todas as tardes. Eu faço tudo por você mulher, entenda isso!
- Não é só isso. - Ela gritou e voltou a chorar.
- Me desculpe eu não queria gritar com você, por favor me desculpe.
Ela se encolheu. Pareceu ficar  minutos em silêncio então respirou fundo ergues os olhos e eles estavam diferentes, ele nunca havia visto Marina com aquele olhar.
- Quando eu fugi para o seu tempo nós mudamos a história, eu deveria ter morrido mas não morri. Não sei se Sebastian sobreviveu, espero que sim, mas não quero que ele morra na revolução farroupilha, não quero que valeria fique viúva. E muito mais do que isso Dante, eu quero justiça, quero que Eliot pague pelo o que fez e quero que minha mãe pague por todos os seus crimes, ela matou meu pai, a única pessoa que me amou.
- Eu amo você Marina, seu pai não foi o único a lhe amar.
- Desculpe. Eu quis dizer no passado.
Dante pensou em dizer que não importava se Sebastian morreria ou não, se Eliot ou Maria Laura pagariam por seus crimes. Afinal de contas estavam em 2019 e historicamente falando Sebastian, Valéria, Eliot e Maria Laura estavam mortos.
- Você ficaria em paz se soubesse o que realmente aconteceu com eles?
- Sim. Eu ficaria em paz. Acho que ao menos tenho o direito de saber o que aconteceu com aqueles que marcaram minha vida. Mas como isso será possível se todos os jornais continuam com a mesma versão?
- Marina, se houvesse uma chance de você mandar um recado para o passado, saber ao certo tudo que aconteceu, saber que sua mãe e Eliot pagaram por tudo, você promete que ficaria em paz, que nunca mais irá se entupir de anti depressivos e que vai voltar a ter a alegria de antes, seguir sua vida e se dedicar a educar e amar nossos filhos?
  - Eu juro. - Dante se levantou - Mas isso é impossível o espelho foi quebrado e eu nunca saberei a verdade.
Ela ergueu os olhos e viu que ele colocava a antiga farda de policial e pegava duas armas de dentro do cofre.
- Achei que você estivesse de folga. O que você vai fazer Dante?
Ele a ficou com os olhos.
- Você veio até o meu tempo para salvar minha vida, chegou a vez de retribuir o favor. Você parece morrer um pouco a cada dia Marina, não posso deixá-la deste jeito.
-  Por favor me diga aonde você vai.
- Eu vou até o fim do mundo por você.
- Me deixe ir com você, essa luta é minha. - De repente ele percebeu que ela estava pronta para lutar, do fundo de seus olhos haviam surgido uma força jamais vista.
- Não! - Ele falou de modo rude, saindo do quarto atravessou a sala e bateu a porta ao sair.
E ela ficou com o coração apertado não querendo se separar dele, e temeu que fosse para sempre.

-------------------------------------------------------------
Nota da autora.

  VOLTEIII.
  Não consegui a capa para o livro 2 então "que se dane" vou seguir postando a continuação da história por aqui mesmo.

  Espero que gostem. Boa leitura!

O espelho de SkinnerOnde histórias criam vida. Descubra agora