capitulo 23- naquela noite chuvosa

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- Você está com uma aparência adorável essa noite senhorita valeria. - Ela vestia um vestido largo cor de mel de mangas extremamente apertadas.
- Muito obrigada senhor Hemplert.
- Vejo que seus olhos nesta noite estão misteriosos.
- Como disse?
- Uma mistura de tristeza inveja paixão, sem contar que sua boca sedutora lhe entrega.
- Você se engana.
Terminaram a dança em silencio e ela retornou para perto da mãe.
- Veja vai tocar uma quadrilha. Acompanha-me nessa dança minha noiva? - Perguntou o senhor Meireles. Sabia que era deselegante não aceitar uma dança ainda mais do noivo, mas não conseguiria fazer aquilo, era demais para ela. Sentia que o mundo frio que a cercava pedia demais para aquela noite. Tanta dor no peito, havia perdido o pai e perdido Bento. Todos da sociedade faziam mexericos a respeito dela e a haviam chamado de A DAMA DO COCHO, o tempo de luto não havia acabado e ela estava noiva de um velho xerife, e tinha Sebastian que também já era uma batalha perdida. Não queria trair a amiga, mas como viver sem ele? Cogitou suicídio mas também tinha medo da dor, era humana e esperava que tudo terminasse bem.
- Lhe concedo essa dança. - Ela cedeu em nome das boas maneiras. Então começou a bailar com o noivo.

Dante sentia que o tempo passava rápido demais, não possuía mais forças para lutar, mas ainda assim iria resistir até a morte. Não se entregaria nessa batalha. Sentia o fogo queimar seu rosto, a fumaça o fazia tossir e quase lhe cegava os Olhos, só restava lhe uma coisa para acha- lá, uma coisa agonizante que lhe causava apertos no peito de tamanha dor, os gritos de Marina.
- Estou indo meu amor.
- Alguém me ajuda! - Ela continuava a gritar, sua voz tão doce estava aterrorizada.
- Eu vou te salvar meu anjo. Já estou chegando.
- Não me deixa morrer Dante, por favor. - a voz dela parecia vir de todos os lados possíveis, não sabia por qual corredor seguir. Cerrou os pulsos como se isso o tornasse mais forte, dentre os gritos de Marina olhou pela janela para o jardim, lá estava Sebastian e uma mulher de vestido branco sorrindo.
- Malditos. - Dante gritou e então continuou a correr no meio das chamas para achar sua Marina. Um pedaço da casa- Assim ele teve a impressão. - Desabou diante de sim.
Dante empurrou uma porta e lá estava ela jogada na cama, uma camisola de cor marfim cobria seu corpo, o colchão cheio de sangue e no peito dela uma faça cravada. De repente muitas Marinas apareceram, suas feições estavam aborrecidas, também choravam, todas elas voaram para o corpo na cama e no meio do incêndio os olhos dela se abriram e ela disse:
- Você demorou você me deixou morrer.
Então tudo desapareceu agora ele estava em uma rua movimentada, estava na sua moto então algo colidiu com ele, sentiu seu corpo sair ao chão e prometeu a ela: Vou te salvar. Vou te salvar. Eu vou te buscar.
Tinha o mesmo pesadelo várias vezes durante o dia e a noite, já não tinha noção das horas ou dias, sabia que o tempo demorava a passar e ao mesmo tempo estava passando tão rápido. Não sabia o que tinha acontecido, também não conseguia acordar, mas esse sonho ruim não sumia de Sua mente.
Sebastian e Marina estavam sentados em poltronas perto da cama Onde o conde dormia. Marina fingia ler um livro de Shakespeare, mas não conseguia prestar atenção em uma única palavra. O médico havia saído daquela casa havia cinco horas, agora a Meia noite se aproximava e o Conde estava cada vez pior. Com dificuldade havia pregado os olhos e ninguém sabia ao certo se ele acordaria. A jovem havia se empenhado ao máximo no que dizia respeito a seus cuidados. Sebastian havia a auxiliado e estava grato por tudo o que ela estava fazendo, mais do que grato sentisse em dívida com Marina Flamelle.
  Ela levantou se tensa e tocou o rosto do Conde.
- A febre parece ter baixado.
- Graças aos céus.
Ela caminhou até a janela, lá fora chovia, raios e trovões preenchiam o céu. A cada estrondo ela sentia um arrepio. Sebastian caminhou até ela e a abraçou pelas costas. Ela não correspondeu, mas não esquivou- se.
- Está com frio?
- Um pouco. - Ele tirou o casaco e a cobriu com ele. Esperou que um sorriso brotasse em seus lábios, mas em vez disso, ela desvirou- se e o encarou.
-Obrigada.
- Eu que devo lhe agradecer por tudo o que tem feito por nós.
- Qualquer Boa moça faria o mesmo.
- Não dormiria aqui sozinha.
- Não me importo com o que falam de mim.
- Não deixarei que ninguém diga nada a teu respeito.
- Sebastian.
- O que foi? Pareces  mais aflita do que antes.
- Você ouviu falar de alguma revolução farroupilha?
- Não.
- Você acredita que os fazendeiros podem se revoltar Contra o governo devido a grandes impostos cobrados a esta região?
- Ouvi boatos de que não estão nem um pouco satisfeitos. Mas creio que isso geraria uma revolta.
- Isso ira gerar uma guerra.
- Como você sabe?
- Queria te contar toda verdade, mas não posso.
- Que verdade?
- Eu sei de coisa sobre o futuro.
- Não me diga que anda envolvida com bruxaria?
- Não, nunca faria isso.
- Então como sabe?
- Quando a revolução farroupilha estourar você vai lembrar-se desta conversa. Por favor, não se torne um caramuru, também não lute ao lado dos farrapos. Fique longe dessa guerra. - Sua voz era de súplica, as mãos estavam agarradas ao colete de Sebastian, ele viu que ela estava falando sério, mas nada daquilo iria acontecer, Marina estava cansada e preocupada.
- Está tudo bem querida. Vá descansar um pouco.
- Você promete que irá ficar longe desta guerra, não quero que você morra.
- Ficarei bem, você não precisa se preocupar, já estamos com a mente cheia para um dia só. Vá se deitar e descanse.
- Você não acredita em mim. - Ela abaixou os olhos.
- Eu acredito, em cada palavra eu acredito.
- Então...
- Estou pedindo que você descanse um pouco, há uma vida inteira para falarmos disso.
- Mas o seu pai, eu preciso cuidar dele.
- Pode ir Marina, preciso de um tempo sozinho para me despedir. - Querendo ou não eles sabiam que o tempo do Conde estava acabando.
- Compreendo.
- Mande que as criadas preparem um banho, depois durma um pouco.
- Qualquer coisa pode me chamar.
- Chamarei. - Ela apertou a mão dele, Sebastian lhe depositou um beijo na testa e então ela partiu.
Naquela noite chuvosa Sebastian teve a última conversa com o pai, quando o relógio bateu 5 horas, o sol ainda não havia surgido, a chuva agora era apenas uma garoa, uma criada bateu às portas do quarto de Marina para lhe anunciar que o conde havia partido. Ela levantou se é vestiu o roupão por cima da camisola, correu até os aposentos de Sebastian I, seu noivo chorava sob o cadáver do pai. Ela correu até ele e o abraçou.
- Sinto muito. Sinto muito. - repetiu baixinho respeitando a dor daquele homem.
A notícia se alastrou pela cidade, o funeral foi realizado ainda naquele dia, uma grande multidão se fez presente para acompanhar o Conde até sua última morada. Maria Laura foi a que mais chorou naquele enterro, ninguém ousou falar uma palavra, mas todos perceberam que derramou mais lagrimas pelo Conde do que pelo falecido Marido. Marina permaneceu ao lado de Sebastian o tempo inteiro e segurou sua mão quando lagrimas lhe vinham aos olhos, valeria também se fez presente, mas não ousou chegar perto de Sebastian por mais que desejasse, também não trocou nem uma palavra com Marina.
O senhor Lerand agora havia herdado todos os patrimônios do pai, a maior fazenda da região com as colheitas de café e estábulos lotados, a grande mansão na cidade e terras, muitas terras, sem contar a grande casa em Londres, herdará também o título de Conde.
Tinha tudo que um homem poderia almejar, tinha tudo, quão sortudo todos os consideravam, não tinha porem as coisas que mais deseja, não tinha o direito de ficar com Valeria, e sabia que não teria Marina. Tudo tinha e nada tinha. Como poderia o título de conde lhe dar um final feliz? Esperava por coisas boas, preferiu acreditar que a vida iria sorrir para ele em breve, escolheu acreditar, escolheu acreditar até o fim de sua vida.

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