Marina voltava de seu passeio matinal no jardim, vestia um vestido tão amarelo quanto a visão do sol em um dia quente de verão. Não tombou com sua mãe na sala principal, também não incomodou-se em saber o que ela fazia, dirigiu-se às pressas para seu quarto, ansiava por ficar sozinha perdida em seus próprios pensamentos, tudo dentro dela estava um caos, e o nome desse caos que virava sua vida de cabeça para baixo, que a fazia rir dançar e chorar sozinha era Dante Cortez.
- Senhorita Marina! – Lhe saudou Joana que arrumava seu quarto. As expressões de Joana estavam assustadas, mas o que havia acontecido? Dante não havia voltado- quisera Marina que fosse isso. – Também havia escondido dentro de um vestido bufantes a mochila com as coisas que ele havia lhe dado, menos o livro que estava em uma gaveta de sua cômoda e o distintivo que ela guardava de baixo do colchão, precisava dormir perto dele para sentir-se próxima de Dante.
- Olá Joana.
- Achei esta carta próxima de seu espelho, ela devia estar escondida atrás dele pois em um minuto não havia nada e no outro ela estava aqui no chão.
“Dante” Ela pensou quase sorrindo.
- Você a abriu?
- De modo algum.
- Me dê esta carta. – Joana lhe entregou o envelope sem assinaturas, Dante pensava em tudo. – Deve ser de Sebastian.
- Certamente senhorita.
- Joana me prepare um banho.
- Mas está tão cedo e a senhorita banhou-se ontem à noite.
- Só me prepare um banho.
- Eu vou buscar a agua. Com licença.
Joana retirou-se. Marina não desejava banhar-se apenas ficar sozinha para poder ler o que Dante tinha a lhe dizer, já não aguentava ficar mais nem um minuto longe dele, aquela carta era sua agua no deserto, era a carta saudosa do amado que estava tão longe, era um motivo para respirar e seguir em frente na certeza de que um dia o veria de novo.
Abriu depressa o envelope.
- Então assim é sua caligrafia meu amor. – Era uma carta escrita às pressas, como se Dante tivesse presa em escrever para não esquecer-se de nenhuma palavra em seu coração. Não era escrita a pena, mas a uma caneta preta como a que ele tinha trago a ela também o que deixava sua letra mais perfeita e sem borrões. Sem mais analises começou a ler.
“Meu anjo, faz menos de um dia que lhe vi e ainda assim a saudade é tanta como se fizesse duzentos anos, teu cheiro está grudado na minha camisa e por isso ainda estou com ela, nunca a serei capaz de lavar até que voltes para mim e eu tenha teu cheiro de perto.
Sinto muito por não ter sido capaz de te convencer a vir comigo ou até mesmo não ter te empurrado no espelho te obrigando a vir. É que sem você meu mundo fica vazio, tudo de bom, toda parte boa do meu coração fica contigo minha Marina.
Esperarei o tempo que for preciso para que você venha para mim, e se por acaso você não vier desejo profundamente que sejas feliz, mas não aquele feliz que estas acostumada, desejo-te uma felicidade que vai além de casar, ter filhos e uma casa bonita, mas uma felicidade que faça você querer acordar cedo todos os dias para aproveitar cada minuto, uma alegria que te faça sorrir sozinha e sem motivos, uma felicidade que te faça viver plenamente. Experimente coisas novas não faça somente o que te dizem ser apropriado, você merece um pouco de aventura, verás que é viciante. Sorria sempre, mesmo longe meu mundo ganha cor quando você sorri, o mundo do século dezenove precisa do seu sorriso.
Estas vendo o que fizestes comigo? Já estou até falando como um cavalheiro da tua época, você transformou o Dante amargo em um príncipe quase encantado. Essa carta está tão boba e melosa que to quase tendo diabetes – é uma doença causada pelo nível alto de açúcar no sangue-. Sinto tua falta meu amor. Assim que desejar venha para mim, te esperarei por todo tempo que eu tiver e pelo que eu não tiver também, meu amor é seu e de mais ninguém.
Se por acaso algo me acontecer saiba que te amei desde o primeiro instante e até o ultimo, saiba que desde a primeira vez que te vi vestida de anjo você é meu último pensamento antes de dormir e o primeiro ao acordar.
O tão pouco tempo que passei contigo foi suficiente para conhecer-te e para conhecer-me, como diz Jane Austen, sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem e sete dias são mais que suficientes para outras. Este tempo ao seu lado foi o mais precioso da minha vida, você me mostrou um mundo diferente do meu e se tornou meu mundo, nunca se esqueça disso.
Conto os dias para o cumprimento de sua promessa.
Com todo meu amor.
Seu para sempre, Dante Cortez.”
Marina chorava ao ler, Dante a amava de verdade, a amava como ela o amava. Decidiu que falaria tudo a Sebastian e iria para Dante viveria com ele com ou sem a permissão de sua mãe, só precisava ser honesta com Sebastian e ele a libertaria.
Como Dante podia imaginar que ela seria feliz sem ele? Ele era a felicidade dela. Seria feliz ao lado dele ou não seria. Não esperaria por uma guerra para juntar-se a Dante, não esperaria afeiçoar-se a Sebastian para depois ir para seu amado. Iria agora mesmo se fosse possível, mais ainda com total certeza de seus sentimentos ousaria pedir uma prova de amor.
Joana voltou para o quarto acompanhada de outras criadas que com baldes de agua e uma bacia de agua fervendo lhe prepararam o banho. Ela rapidamente banhou-se pensando em cada palavra de Dante. Após o banho mandou que Joana se retirasse inventando mais uma indisposição. Sentou-se a cama com seu caderno e canetas que havia ganhado dele e começou a escrever sua carta em resposta a Dante.
“Meu amor, tua carta me trouxe de volta a vida que havias levado contigo. Escrevo agora esta carta em resposta a ti assim que recebi a tua, mesmo sabendo que ela só chegará em tuas mãos dentro de um mês. Penso em ti a toda hora e momento, como pude viver tanto tempo longe de você Dante se a cada batida meu coração grita de dor por estares tão longe? Não perderei mais tempo aqui meu amor, lembro-me do momento em que me dissestes que eu não havia criado raízes porque este não é meu lugar, estavas mais uma vez certo, meu lugar é ao teu lado seja em 1830 ou em 2018, basta-me apenas estar contigo. Irei viver junto a ti se me aceitares, mas ainda ouse lhe pedir uma última prova de amor: Venha me buscar e assim saberei que me desejas por perto, que é o teu sim a uma vida a dois, a nossa vida. Perdoe-me por não ter ido antes, perdoe-me por colocar honra antes de nosso amor e me perdoe por lhe pedir essa prova.
Você e só você sempre foi tudo o que eu quis, tudo o que eu procurava e não sabia o que era, você chegou do nada e virou minha vida de cabeça para baixo, você me ensinou que em assuntos do coração a razão não fala, apenas obedece. De nada arrependo-me senão de demorar tanto a entregar-me a ti. Amo-te como ninguém nunca te amou ou amará. Amo-te com um amor que ultrapassa a barreira de passado e futuro, amo-te com todas as minhas forças até a última batida de meu pobre coração!
Até muito em breve. Seu amor, Marina Flamelle.
Precisou esconder depressa o papel de baixo do travesseiro quando Joana pediu licença anunciando novamente sua chegada.
- Pois não.
- senhorita, acabou de lhe chegar mais esta carta, o mensageiro do Conde deixou com a governanta, é de seu noivo.
- Obrigada. – Joana entregou-lhe a carta com uma mistura de curiosidade e desconfiança.
- Seu noivo deve ama-la muito para mandar tantas cartas.
- Isso não diz respeito a você.
- De modo algum, mas a senhorita não concorda comigo?
- É ele me ama. – Respondeu desconfiada dirigindo a Joana um olhar desconfiado. “Aonde ela pretende chegar com esse assunto” pensou. Ao mesmo tempo que desejava que Sebastian amasse alguém que também o correspondesse, assim como ela e Dante.
- Eu nunca vi um homem mandar tantas cartas e visitar tanto a noiva.
- Minha convivência com Sebastian não lhe diz respeito, afinal você é somente uma criada e não a minha mãe.
- Perdoe-me, minha intenção era apenas alerta-la e não intrometer-me em sua vida. A senhorita bem sabe que para manter um bom noivado é preciso que você não seja motivo de chacota para seu noivo. Além do mais depois de casados ele pode achar que...
- Cala-te.
- Novamente me perdoe. Sabe, você tem muita sorte de ter um bom noivo, devia cuidar melhor de sua reputação para não perde-lo.
- Você está com inveja.
- De maneira alguma invejaria vossa senhoria, eu reconheço meu lugar. – Abaixou os olhos.
- Pois então coloque-se nele e obedeça minhas ordens.
- Eu só quis alerta-la.
- Saia do meu quarto agora!
- por favor não me mande embora.
-Obedeça, saia, quero que saia.
- Por favor.
- Saia daqui. – Ambas continham lagrimas nos olhos e não permitiram que estás caíssem. – E não fale sobre as cartas para ninguém, ninguém!
- Se é isto que deseja, com sua licença.
Joana retirou-se. Marina temia que ela descobrisse algo, decidiu que esconderia melhor a mochila que Dante havia trago e as cartas, afinal Joana arrumava seu quarto. Se Joana descobrisse toda cidade também saberia, ela era uma mexiriqueira. Não deixaria que o bom nome de Sebastian fosse jogado a lama e muito menos que seu amor por Dante fosse colocado em risco.
Marina abriu com cuidado e pressa a carta que desta vez recebeu de Sebastian. Ansiava por contar a ele toda verdade, mas como faria isso? Não importava, quanto mais deixasse que o tempo passasse pior seria. Pensou que um pouco de licor ou algumas taças de vinho antes ajudaria muito. Faria isso!
Começou a ler o que aquele nobre homem havia a escrito.
“Minha amada Marina, espero que estejas melhor. Teus mal estares repentinos têm deixado este noivo apaixonado extremamente preocupado, e lamento infinitamente dizer que não só isto, sinto que estás distante mesmo estando tão próxima, que posso tocar-te, mas não alcançar-te. Se fiz algo que lhe desagradou saiba que jamais foi minha intenção, peço-te perdão e peço também que me reveles minha falha para que eu a possa corrigir. Talvez eu esteja delirando, as damas costumam ficar nervosas por causa do casamento.
Sinto falta de lhe ver serena e com o sorriso que tanto faz meu coração disparar. Tudo ficará bem, em breve, muito em breve você será minha e então tudo estará bem. Volte logo para mim meu amor.
Seu noivo que muito a estima, Sebastian Lerand.”
Em lagrimas na cama ela caiu.
- Não ficará bem caro Sebastian. – Sussurrou para si mesma. Desta vez não usou a palavra “meu” referindo-se ao noivo que costumava achar de “meu caro Sebastian”. – Não posso ser sua, sinto muito, não posso.
Tinha agora a certeza que já devia ter acabado com isso tudo. Era inevitável que no fim desta história um coração fosse estraçalhado. O coração de Dante se ela seguisse seus princípios e cumprisse com sua palavra. O Coração de Sebastian se ela seguisse seu próprio coração. Ou o dela mesma se estivesse enganada e Dante fosse um típico canalha do século XXI.
Não escreveu uma resposta a Sebastian, levantou-se e guardou as cartas na mochila com as coisas que Dante havia lhe dado, a mesma mochila que ainda tinha seu cheiro forte e inebriante, aquele cheiro que era a causa de todo descontrole de Marina.
Se não fosse aquele cheiro misturado álcool com perfume caro, se não fosse aquele travesso sorriso no canto da boca, se não fosse aquele olha intenso de quem estava descobrindo o amor ela jamais seria dele, seguiria seu percurso e casaria com Sebastian. Agora era tarde já havia se entregado a Dante sem nem perceber e desde então pertencia a ele e só ele.
Nada mais importava, títulos, nobreza, família, honra ... Só Dante. Há anos atrás deixava de lado seus planos de cavalgar pelo mundo com uma espada e abraçava a ideia de se casar com um nobre, agora deixava de lado sua vida monótona para sua jornada final, Dante. Não iria mais se tornar a Condessa senhora Marina Lerand. Mas Marina Cortez até o fim de seus dias. Ela refletia sobre isso gastando todo seu tempo enquanto esperava a volta de Dante.
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O espelho de Skinner
Mistério / SuspenseO detetive Dante Côrtes, um homem frio e cético do século XXI jamais imaginou que investigar um caso - aquele caso - mudaria sua vida, seu destino e seu passado. Seu objetivo naquele instante era encontrar o assassino de Skinner Flamelle o cientis...