- Suplico que me conceda mais uma dança senhorita Marina.
- Eu fico honrada por desejar minha companhia, mas já lhe concedi duas danças, o máximo bem visto pela sociedade, e além disso não quero ficar mal falada.
- Oh minha cara, a última coisa que desejo é seu nome na boca do povo dessa cidade, porém minhas intenções com você são as melhores possíveis.
Marina corou e sentiu algo dentro de si estremecer, o espartilho que lhe apertava fez falhar que respirasse normalmente, a moça ficou mais branca que do que um fantasma, sentiu suas pernas ficarem bambas, mas agarrou-se discretamente a mesa atrás de si. Por acaso Sebastian II o filho do conde Lerand estava indiretamente a pedindo em casamento?
- Você está bem? – Ele indagou enquanto não deixava passar a chance de pôr suas mãos nas costas nuas da bela jovem.
- Ah sim, eu estou, não há com o que se preocupar.
- Excelente. – Marina deu um sorriso fraco. – Avise sua mãe que farei uma visita a vocês amanhã por volta da hora do chá. – Sebastian fez uma reverencia e saiu de perto dela, não dançou com mais nenhuma moça aquela noite e de longe conversando com os homens mais bem sucedidos daquela região lhe lançava olhares com chamas de fogo.
Marina procurava com os olhos sua amiga para contar-lhe do acontecido, desejava logo dividir essa angustia com alguém, mas não ousaria contar para mãe ali, era melhor chegar em sua casa, sabia que dona Maria Laura iria correndo falar com o filho do conde só para contar que sua filha tocava piano como ninguém, ou que ela tinha a mania de querer bordar seus vestidos e estes ficavam muito mais elegantes que os bordados nos ateliês, e que a jovem era muito inteligente passava os dias na biblioteca com a cara enfurnada nos livros, já havia lido mais de cem romances e nunca se quer havia chegado a ter um. É claro que Maria Laura também falaria de como está ansiosa por casar a filha com um bom homem e sobre a possibilidade delas serem assaltadas, mortas ou sabe-se Deus o que mais caso a filha não se cassasse imediatamente.
- Como você está bonita senhorita Marina. – Lhe falou senhor Meireles.
- Obrigada. – Ela agradeceu ao sorrir exibindo as covinhas.
- Se parece muito com sua avó paterna.
- Todos dizem que ela era extremamente bela.
- Oh sim, ela era. Lembro-me como se fosse hoje dos bailes de minha juventude. Lembro-me também do primeiro baile que ela levou seu pai, ele ainda era um menino de quinze anos e neste dia ele conheceu sua mãe, dois anos depois eles se casaram e não demorou muito para você chegar.
Marina odiava quando lhe lembravam do pai, sentia tanta falta dele. Entendia que a intenção das pessoas não era ofendê-la ou lhe causar saudades, mas sentia tanto quando se lembrava do sorriso do pai, quando lembrava que ele a ensinou a cavalgar e que brincava com ela de construir castelos de areia sem se importar com etiquetas, antes de tudo ele era um pai, um pai muito presente que se foi cedo demais.
- Com licença senhor Meireles, eu preciso achar minha mãe, mais tarde continuamos nossa agradável conversa.
- Fique à vontade senhorita. – Marina saiu com água nos olhos. Não gostava de ser mal educada com as pessoas, mas se continuasse mais um minuto na presença daquele homem acabaria chorando, além dele viver falando sobre o como ela lembrava seu pai ele era o xerife da cidade, ele havia encontrado o corpo de seu pai nas redondezas e dado a triste notícia a família.
A menina caminhou até a mãe que estava sentada em um sofá no canto da sala, Maria Laura abanava-se com um leque de penas de pavão e bebericava uma taça de vinho.
- Por que raios você não está dançando com o filho do conde?
- Mamãe! – a jovem a repreendeu.
- Ele é um excelente pretendente.
- Eu já dancei duas vezes com ele. – Ela não precisava lhe contar isso, era claro que Maria Laura não havia tirado os olhos da filha e sabia bem que ela havia dançado com Sebastian Lerand o filho do conde por duas vezes, e mais do que isto, Maria Laura era uma típica mãe que sonhava em ver a filha muito bem casada, imaginou toda celebração do matrimonio enquanto eles dançavam. - Você mesma diz que uma moça vira assunto de chacota se dança mais de duas vezes com o mesmo homem.
- Ah meu raio de luz, os homens que eu falo não são o filho do conde.
- Isso por acaso o torna uma mulher? – Ironizou.
- Olha os modos menina. – Marina abaixou os olhos diante da repressão. – Se você conseguir se casar com um conde, sua mãe poderá morrer em paz, você estará em boas mãos.
- Ele não é um conde.
- Mas um dia será.
- Mas você não vai morrer agora.
- A vida é como uma caixinha de surpresas meu amor. Um dia sua mãe está aqui e no outro não se sabe onde posso estar.
- A senhora está em perfeitas condições mamãe, há de viver muito e ter muitas alegrias.
- Terei muitas alegrias até mesmo do tumulo se você se tornar a condessa. – Abanou-se com o leque de penas de pavão.
- Não tenha esperanças mamãe, o senhor Lerand não aparenta desejar se casar tão cedo.
- Ele é o futuro conde minha filha, as pessoas esperam que ele se case logo, tenho certeza que ele está procurado uma moça decente para se casar, uma moça de boa aparência, inteligente e de bons modos e boa família, você tem todos os requisitos para ser a futura condessa.
De fato, Marina tinha todas essas características e Sebastian as notou.
O homem seria um conde, desde cedo havia aprendido tudo sobre administração das propriedades, etiqueta, francês, inglês, espanhol, astronomia, a dar discursos inteligentes e saber quando devia calar-se e tudo mais que um homem respeitável deveria saber, também havia aprendido a ser um observador.
- Por acaso Sebastian não lhe deu alguma indireta sobre lhe fazer a corte?
Marina iria contar a mãe que ele dissera que suas intenções com ela eram as melhores possíveis e que faria uma visita no dia seguinte, mas um som agudo e alto fez virar seu rosto para a grande porta e esquecer-se do que falava com a mãe.
- ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! - Gritos vindos do jardim tiraram mãe e filha da conversa que mantinham.
- É no jardim, venha vamos ver o que significa esse escândalo. – Maria Laura saiu puxando a filha pela mão rumo à grande porta da sala onde todos convidados se alvoroçavam tentando verem também o que acontecia.
No jardim um escândalo.
Marina pôs as mãos na boca de tão escandalizada.
- Que vergonha! – Balbuciou Maria Laura.
O senhor Afonso de Lavontes gritava com a filha, dizia que em sua família não havia vergonha maior, ameaçava dar uma surra na menina. Sua mãe Dailane de Lavontes chorava a triste sorte da única filha. Dos olhos de Valeria Luize Caim lágrimas porem sua expressão era firme, sentia medo e não arrependimento. Com Três botões do vestido abertos e boa parte de suas costas a mostra ela tentava se esconder sob os braços de Bento Ronald Mortol o cocheiro da família.
Afonso de Lavontes puxou a filha pelo braço a jogando para longe do empregado.
- Amanhã as três horas da tarde. – Gritou. – Eu o desafio a um duelo pela honra de minha filha.
- oooh! – Ouviu-se o coro de convidados do baile dizer, tapando os baixos cochichos.
- Pois eu aceito meu senhor.
- Não. – Gritou Valeria. – Eu o amo papai.
- Cale-se.
Um duelo, o único jeito de se limpar a honra de uma dama, foi à saída achada pelo senhor Lavontes para que a filha não perdesse as boas propostas de casamento que possuía, embora que agora ele teria de triplicar o dote.
- Não posso perder um de vocês dois, podemos resolver isso com uma conversa. – A jovem insistia em dizer.
- Calada!
- Papai, não posso deixar que um de vocês morra. – Senhor Lavontes tinha certeza que não seria ele a morrer nesse duelo, nunca havia ensinado seus empregados a usarem espadas, além disso, ele era da alta sociedade e o adversário apenas um cocheiro sem ter onde cair morto. – Podemos resolver isso de uma forma mais simples, eu me caso com Bento Ronald.
O pai da moça desvirou decepcionado, desvirou odiando a filha, e com brutalidade lhe deu um tapa em sua face. Valeria caiu aos pratos no chão. Marina deu um passo à frente, defenderia a amiga, sua mãe a segurou pelo braço tentando a impedir.
- Fique quieta.
- Ela precisa de mim.
- Não importa, sua amiga acabou de virar a mulher mais falada dessa cidade nos próximos vinte anos, acabou de perder um bom casamento, ficar perto dela irá manchar sua reputação.
- Não me importo.
- Você irá perder o filho do conde.
- Melhor do que perder uma amiga. – E então pela primeira vez em toda sua vida Marina desobedeceu a sua mãe e ajoelhando-se do lado de valeria, a abraçou e a deixou que chorasse. Todos olhavam com desprezo para a pobre menina que no chão aos braços da amiga soluçava, Marina a levantou e sob olhares reprovadores levou sua amiga para dentro de casa. Ambas se trancaram no quarto e então juntas mais lagrimas derramaram.
13 DE NOVEMBRO DE 2018 – DOMINGO A NOITE.
- Por que raios esse espelho me faz parecer onze quilos mais gordo? – Dante reclamava sozinho. Ajeitou o paletó preto sob o corpo musculoso, passou a mão na barba grande, precisava apará-la imediatamente, mas não a tirava de jeito nenhum, como ele costuma dizer “a barba o deixava com a famosa cara carrancuda de detetive mal”. Sorriu sozinho se sentindo um deus grego. Pegou sua moto, uma Harley Davidson preta e dirigiu até a boate Eclipse.
Estacionou a moto e então pegou o celular que não havia parado de tocar durante todo o trajeto, havia sete chamadas não atendidas do policial Diego. Dante gargalhou sozinho enquanto via o tédio ir embora para bem longe, Diego estava de plantão então isso significava mais trabalho.
- Detetive Dante falando. – Falou ao retornar a ligação.
- Dante, olha só, você está muito ocupado?
- Não. Pode falar.
- Estou com problemas.
- Desembucha Diego.
- Lembra da quadrilha que você prendeu mês passado, aqueles que mataram três homens em um assalto e eram responsáveis pelo tráfico de drogas no estado?
- Sim.
- Eles fugiram da cadeia.
- O que? – Gritou.
- Eu não sei como, mas eles pegaram de reféns dois guardas e ameaçaram os matar caso não abrissem a porta dos fundos. - E não me diga que os idiotas abriram?
- Sim, eles abriram.
- Obvio que sim. – Dante ficou um pouco em silencio pensando, havia deduzido que Provavelmente alguém da equipe do presídio havia traído a força policial e assim a quadrilha havia conseguido acesso as câmeras de segurança.
- Você está vindo para Ca?
- Não, eu vou resolver. Aguardem minha ligação.
Dante gargalhou sozinho, não era à toa que ele era o melhor detetive do estado, ele se previne em relação a tudo e isso incluía escondido de sua equipe policial colocar um rastreador nos óculos de um membro da quadrinha, o irmão do chefão, ele sabia que achando a galinha acharia os pintinhos. Pegou o celular e obteve a localização do rastreador. Ligou para a polícia e mandou que o encontrasse na esquina da rua onde ficava a boate Sensuallyty, em dez minutos todos já estavam lá. Dante deu as coordenadas a sua equipe, entraram em um beco do lado da boate e lá no fundo estava a quadrilha reunida fornecendo drogas para uma jovem de cabelos vermelhos.
Assim que viram a polícia tentaram fugir, mas estavam cercados. Bruce que era o chefe agarrou a garota e colocou uma arma em sua cabeça a fazendo de refém.
- Solta a menina. – Dante ordenou enquanto apontava uma pistola baretta 9mm preta de grande precisão para ele.
- Deixa a gente sair que ela vive.
- Solta a menina e devagar coloque a arma no chão. – Repetiu.
- Deixa a gente ir embora ou eu vou explodir os miolos dela.
- você não vai sair daqui, então não piora a situação e solta ela.
- Não. – E antes que ele pudesse machucar a garota, Dante atirou na perna do irmão de Bruce, ele caiu, Dante da mais um tiro no chão para provocar o caos, ele sabia que Bruce não atiraria na garota afinal ela era a única chance dele escapar dali. Bruce o grande chefe ficou desacreditado do que via e esqueceu-se da mulher em seus braços, ela por sua vez jogou-se ao chão Bruce apontou a arma para ela.
- Droga. – Murmurou Dante, ele havia se enganado. Bruce era um louco, é claro que atiraria na pobre garota só por raiva. Dante agiu depressa e antes que Bruce apertasse o gatilho da arma, disparou acertando o coração de Bruce que imediatamente cai sem vida ao chão.
Três horas depois o restante da quadrilha já estava novamente atrás das grades. Dante estava sentado em sua cadeira sofisticada de detetive, ainda sentia a adrenalina correr nas veias. Levantou a cabeça assim que Diego entrou em sua sala.
- Você não acha que se passou um pouco hoje?
- Sinceramente não.
- Você não precisava ter atirado para matar.
- Ele ia matar a moça.
- Ou não, ela era a única chance deles conseguirem escapar.
- Veja todas as cidades na nossa volta, acontecem no mínimo três mortes por semana por tráfico de drogas. Aqui é raro acontecer três por ano, e sabe por quê? Porque eu não sou um detetive meia boca que dá arrego para bandidinho. Porque eu controlo as coisas por aqui e não eles.
- Você não tem medo que eles se vinguem?
- O que de mais pode acontecer? Eles podem me torturar ou me matar. E eu não tenho medo da dor nem da morte.
- Se eu fosse você lembrava também que o homem que você matou era comparsa da sua mãe e que ela prometeu que se vingaria, ainda mais agora que...
- Ela não é minha mãe. – Falou e retirou-se a passos largos.-----------------------
Na imagem de mídia vos apresento O nobre Sebastian.

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O espelho de Skinner
Mystery / ThrillerO detetive Dante Côrtes, um homem frio e cético do século XXI jamais imaginou que investigar um caso - aquele caso - mudaria sua vida, seu destino e seu passado. Seu objetivo naquele instante era encontrar o assassino de Skinner Flamelle o cientis...