capitulo 21 - o conde padece

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  Marina e Valeria haviam combinado um passeio pela propriedade dos Flamelles, haviam sentado próximas ao rio de aguas cristalinas na sombra de três grandes arvores, faziam um piquenique com frutas, sucos e doces quando Eliot se aproximou cavalgando.
- Eliot é inconveniente um criado atrapalhar o piquenique de duas damas. – Ralhou Valéria Luize.
- Lamento incomoda-la senhorita.
- Deseja algo meu caro? – Perguntou Marina.
- Sua mãe está a chamando Marina, recebeu uma carta de Sebastian na qual ele a chama até a cidade. – Valéria notou que Eliot referiu-se ao futuro conde sem reverencia alguma, chamando-o de Sebastian e não senhor Sebastian como devia.
- Obrigada pela notícia Eliot. – Ambas se levantaram recolhendo os alimentos e os colando na cesta. – Você me acompanha Valéria?
- Sim, sem dúvidas irei com você, não é bom que vá sozinha a casa do noivo.
- Excelente.
- Vamos.
- Vamos.
Eliot acompanhou as damas devagar, como se zelasse por elas durante a volta para a fazenda. Maria Laura esperava Marina zanzando pela sala principal. Não gostou de ver que Valéria voltava com Marina, esperava que após Eliot dar o recado ela atravessasse a cerca e fosse para sua casa.
- Onde já se viu. Essa menina, a Valéria sai de casa como se não fosse motivo de chacota para o povo, e pior que tudo não sofre o luto pelo pai, pela morte que causou. – Falava para a criada.
- Marina depressa! – Gritou da grande porta ao ver que a filha se aproximava. Marina e Valéria apressaram o passo diante de tanta impaciência.
- Aqui estou minha mãe. – Ela disse ao pôr os pés dentro de casa e tirar o chapéu de fitas verde esmeralda que combinavam com o vestido verde escuro de pouco decote e mangas transparentes em um bordado onde marrom e diferentes tons davam um contraste com sua pele clara.
- Vá imediatamente para a casa de Sebastian, ele chama por ti.
- Aconteceu algo?
- Teu sogro padece, ele não pode ficar nas mãos das criadas, é um nobre.
- Mas mamãe a senhora mesma diz que não se deve ficar na mesma casa que o noivo em ambientes fechados.
- O conde está morrendo Marina. – Gritou. – Teu bom noivo precisa de ti, irás deixa-lo sozinho?
- Não. – Ela falou baixinho.
- Pois então vá. – E leve alguns vestidos, não retornarás até que ele melhore.
- Valeria você ficará lá comigo?
- Preciso pedir autorização de minha mãe Marina, mas creio que sim. Preciso apenas pegar algumas roupas em minha casa.
- Não há tempo. – Maria Laura gritou exaltada.
- Mamãe eu não posso ir sozinha.
- Ora essa Maria. – Ralhou Maria Laura que suspeitava da paixão de Valeria por Sebastian. – A senhorita Valéria tem obrigações em sua casa, ela mesma disse que não gostava de deixar a mãe sozinha.
- Ela entenderá a situação senhora Maria Laura. – A moça querendo ir até a casa de Sebastian argumentou.
- Marina é a noiva de Sebastian, não você. – Maria Laura falou de modo frio. Dirigiu o olhar a filha e fingindo serenidade falou: - Vá sem medo meu anjo, ninguém ousará levantar mexericos sobre a família do conde.
- Vou buscar algumas roupas mamãe.
- Vou com você. – Dirigiu-se a Valéria. – Espere aqui querida, desejo falar a sós com minha filha.
- Sim senhora.
Maria Laura subiu as escadas atrás de Marina, fechou a porta atrás de si com uma mistura de raiva, ambição e felicidade. Essa não seria só o início de sua subida a sociedade, mas a aproximação de Marina e Sebastian, como a cobra sorrateira que era ela percebeu o quão distante eles estavam. Suspeitou que Marina estivesse amando outro homem, mas ela não tinha contato com homem nenhum, suspeitou de Eliot mas Marina mal lhe dirigia o olhar, definitivamente não era ele. Com essa aproximação nada mais poderia estragar seus planos, e se caso Valéria se metesse ela mesma iria destruí-la.  Começou a falar enquanto Marina rapidamente pegava alguns vestidos e colocava-os na maleta.
- Você está confraternizando com o inimigo.
- Que inimigo mamãe?
- Valéria é o inimigo.
- Tire isso da sua cabeça, ela é minha amiga, irá comigo para manter as boas aparências.
- Irá contigo porque quer tirar Sebastian de ti. – Bufou e mexeu-se fazendo o vestido preto girar.
- Pense o que quiser, tenho a firme certeza de que ela não é o inimigo.
- Se ela não é o inimigo quem é então Marina?
- O inimigo da alma. Bom a senhora sabe....
- Marina não é o momento de falarmos sobre sermões do padre. Abra os olhos com Valéria Luize.
- Valéria não ama Sebastian mamãe, ela mesma me empurrou para ele no baile de seu aniversário.
- Porque ela ainda não sabia o quão gentil ele era mina filha.
-  Não ire me preocupar com isso mamãe, o conde padece e Valéria não é um problema por aqui, nunca será.
- Maldita teimosia dos Flamelles. – Marina sorriu. – Quando me dará ouvidos minha filha?
- Não se preocupe mamãe, tudo é como deve ser. – Maria Laura calou-se por um breve minuto.
- Se pai ficaria orgulhoso de você.
- Espero que sim.
- Agora vá querida.
- Mais uma coisa.
- O que?
- Como a senhora sabia que o conde adoeceria, aquele dia, lembro-me bem, a senhora disse que eu devia cuidar dele.
- Foi um sonho minha filha, um sonho.
- Ah sim.
- Agora vá.
- Sua benção.
- Deus lhe abençoe.
As duas desceram, minutos depois Marina e Valéria Luize estavam dentro da carruagem rumo a casa dos Lerand onde o conde padecia.
Pelo caminho estavam em silencio sob o cantar dos pássaros, o relógio marcava onze horas e ainda faltavam quarenta minutos para chegarem. Em silencio elas pensavam em algo distante. Marina cogitava a possibilidade de Dante ser casado e ter filhos, em sua cabeça corria com vida a ideia de que ele apenas a encantou jurando-lhe amor para poder voltar para casa, mas por que ele voltaria pela segunda vez? Nada mais fazia sentido.
Valéria quebrou o silencio ao dizer:
- Que sorte tens minha amiga.
- Sorte? – Que sorte, desejou dizer, fui enganada, traída, abandona pelo homem que seria capaz de largar tudo por ele, e fui ingrata com Sebastian, quis acrescentar.
- Terás um belo noivo, serás a condessa.
- Não tenho amor.
- Não amas a Sebastian?
- Ainda não.
- Como é possível?
- Não sei.
- Sabe minha amiga, eu amei tanto o Bento e ele morreu por uma espada. Talvez seja melhor mesmo casar sem amor.
- Ou viver com um pouco de amor.
- Do que falas?
- Eu daria tudo, tudo, para ter um amor de verdade, alguém que me amasse a ponto de enfrentar um duelo por mim, alguém que me amasse até o último suspiro.
- Você não entende a dor que isso causa.
- Dói, eu imagino. Mas você deve ser grata por essa dor, imagine como sua vida seria sem a lembrança desse amor.
- Eu mandei que ele fugisse, eu tentei fugir com ele.
- Vocês amaram um ao outro, vocês lutaram e nenhum dos dois desistiu.
- É verdade, mas agora devo sofrer as consequências e me casar com o senhor Meireles.
- Casarás com ele e dormirás pensando em Bento todas as noites, pois nem a escuridão da noite é capaz de tirar a luz deste amor que está em teu peito.
- Eu o preferia vivo, ele podia casar, ser feliz, eu fui a culpada da morte dele. – Ela chorou e Maria lhe segurou a mão.
- Você não sabia que isso aconteceria. Não se culpe.
- Quisera eu voltar no tempo e mudar tudo.
- Você não pode voltar no tempo e mudar tudo. Mas pode fazer com que ela seja lembrada no futuro.
- Como?
- Escreva sua história, seus sentimentos, eternize bento em um papel e deixe que no futuro alguém encontre.
- E não serei mal falada?
- Honre a memória de teu amor. Me prometa que não se preocupará com a opinião alheia.
- Prometo se me prometer que fará de tudo para amar a Sebastian.

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