Abriu os olhos com força, de volta a 2018!
Jogou-se na cama extremante cansado, como se tivesse corrido por dois dias seguidos sem parar um único minuto. Do bolso da calça tirou o colar de turquesa da qual já sentia tanta falta da dona.
- Te esperarei o tempo que for preciso meu amor. – Falou sozinho na esperança de que ela ouvisse mesmo estando tão longe.
O tempo... Seu grande amigo e inimigo. Dante bem sabia que um segundo era preciso, em um segundo um gatilho era apertado e uma vida poderia se perder ou se salvar. Sabia como o tempo era preciso quando um médico chegava em uma cena de crime e um segundo podia mudar tudo. Era grato por o tempo o ter apresentado Marina e o odiava por ter a tirado dele.
Era uma questão de espera e esperança, este mesmo tempo devia um dia traze-la para ele.
Para o detetive esperar era angustiante...
Para a donzela era questão de virtude...
Para dois apaixonados era tortura, era prova de amor.
Dante levantou-se da cama e foi tomar um banho quente, no chuveiro uma imagem não saia de sua mente, a da mulher com cabelos cor de mel que disse a mãe que não queria o homem certo, mas o homem errado, ele era o homem errado ela sabia disso e ainda assim o queria, ainda assim deixaria tudo por ele, só ainda não havia feito isso por causa de uma maldita consciência de que tinha um dever com Sebastian e por isso precisava da autorização dele.
“Minha menina tão pura e delicada com uma flor. Tão forte como um soldado. Tão perfeita que foi preciso atravessar dois séculos para encontrá-la. Como perderia seu amor?” A raiva o consumia só de pensar que ela seria de Sebastian, que ela teria filhos com ele. Não era justo, ele amava Marina e Marina o amava, por que não podiam ficar juntos? Só cento e oitenta e oito anos os separavam e ainda assim não era um motivo forte. O que os separava já não era nem o tempo, mas a maldita honra de dois séculos atrás.
Saiu do banho e pediu uma pizza, a comeu depressa e caiu na cama adormecendo com o colar na mão.
A noite passou mais depressa que o esperado, Dante levantou-se e preparou-se para voltar a sua vida monótona, entediante e sem cor. Claro que não importava – pelo menos naquela manhã não – quantas vezes a chefe o ligasse dizendo que ele estava atrasado, ele tinha algo mais importante para fazer, três horas e meia de atraso no expediente não iriam mudar muita coisa, ele não seria demitido pois era o melhor, sempre foi.
Enfim dez horas, o espelho brilhou. Se uma mochila cheia de bugigangas foi capaz de atravessar o portal aquele pedaço de papel seria, engranzou a carta que havia escrito assim que acordou no espelho com cuidado para que seu corpo não fosse levado junto. Havia dado certo, restava agora torcer para que só Marina a visse e mais ninguém.
Foi então trabalhar naquele último dia de lua nova.
- Olha quem está de volta o querido Dante. – Lhe saudou Clary quando ele chegou na agencia.
- Bom te ver de novo Clary.
- Essa simpatia, esse brilho no olhar, você não me engana Dante. Bem que Diego falou que você estava apaixonado.
- Diego já fofocou isso?
- Aham.
- Meu dia vai ser pior que o esperado.
- Pelo jeito irá. A chefe está furiosa atrás de você.
- Então eu vou lá domar a fera. – Eles riram e Dante se dirigiu ao escritório da chefe a doutora Santana.
Bateu na porta anunciando sua chegada.
- Desejava me ver?
- Sente-se. – Dante se sentou.
- Aqui estou.
- Quase quatro horas de atraso Dante. Isso é lamentável.
- Sinto muito eu tinha assuntos particulares a tratar.
- Não bastou a folga que lhe dei ontem?
- Infelizmente não.
- Eu soube que você desobedeceu minhas ordens indo visitar o homem que colocou fogo em sua casa.
- Era uma questão de honra.
- Que isso nunca mais se repita.
- Sim senhora.
- Agora tenho outro assunto de seu interesse. A doutora Luiza Santiago que fez a autopsia no corpo de Skinner Flamelle voltou de férias, você devia falar com ela e concluir o caso.
- Farei isso imediatamente.
Duas horas depois Dante ainda conversava com Luiza Santiago, ela havia lhe dado pistas que não levavam ao assassino, que não levam sequer a um suspeito.
- Tudo o que tenho a lhe dizer é isto Detetive Cortez.
- Como você quer que eu prenda o assassino apenas me dizendo que o assassinato ocorreu as duas horas e cinco minutos da madrugada e que por uma unha perdida você detectou que ele tem olhos azuis? Milhares de pessoas tem olhos azuis!
- Me perdoe por esquecer tão importante tão irrelevante informação, eles brigaram antes de Skinner ser morto, o tipo sanguíneo encontrado que não pertencia a Skinner é A negativo, e indo a fundo na biologia posso lhe dizer que tem traços com o DNA de Skinner, como se eles fossem parentes distantes.
- Isso é interessante. Seja mais especifica, que tipo de parentesco você chutaria palpite? – Ela mostrou os dentes fingindo um sorriso.
- Você é muito intrigante detetive Cortez. Meu palpite não deve ser levado em consideração pois é impossível.
- Eu gosto de coisas impossíveis.
- Já que insiste, se não fosse tão improvável eu apostaria meu doutorado no parentesco de tataraneto.
- Muito obrigada pela sua atenção, eu preciso ir. – E saiu correndo, tentava organizar seus pensamentos sem dar muita atenção para a razão. Marina não podia ser a assassina – disso ele já sabia desde o primeiro momento em que a viu. – pois ela não tinha olhos azuis, lembrava-se dela lamentar de não ter os olhos como os do pai, e ele era o único naquela região com olhos daquela cor. Mas a genética do pai de Marina podia passar para o filho dela com Sebastian que podia ter olhos azuis. O espelho sempre continuava naquela família então o filho de Marina de uma época diferente podia ter vindo para o futuro e matado seu tataraneto. Mas por que? Qual a razão? Nada mais fazia sentido por ali.
- Sargento Diego! Preciso de você na minha mesa agora. – Dante gritou sem se importar com os olhares reprovadores. Em menos de um minuto Diego já estava na mesa de Dante que havia lhe contado tudo sobre as pistas do assassino.
- Dante você não raciocinou.
- Eu não sei o que é isso desde quando aquela mulher entrou na minha vida meu amigo.
- Se você achou o colar de Marina na cena do crime significa que o assassino está no passado.
- Mas se eu trazer alguém do passado como assassino vou passar por louco, e ninguém vai acreditar que eu o trouxe por um espelho.
- Então de o caso por encerrado, declare que foi assassino ou prenda qualquer traficante de olhos azuis o culpando, você já fez isso uma vez quando não conseguiu resolver um caso.
- Cala boca. Eu vou pegar esse assassino, é uma questão de honra.
- E da segurança do seu amor. Porque se ele atravessou o espelho saiu do quarto de Marina ou seja ela está próxima de um assassino.
- Marina, eu preciso salva-la.
- Use o espelho traz ela para cá.
- A lua nova termina hoje, o portal já fechou não é mais possível.
- Xi, mês que vem então. – Dante estava apavorado, os olhos estavam cheios de lagrimas e no coração uma dor horrível, um pressentimento tão ruim como se algo fosse acontecer a ela.
- Não faz sentido Dante. Se foi algum filho de Marina porque ele estaria com o colar dela na cena de crime?
- Eu não sei.
- E quem teria acesso a seu quarto duas horas da madrugada? Sua mãe?
- Não vi a cor dos olhos dela, é uma suspeita.
- Ou alguma criada.
- Mas Marina veria alguém entrando em seu quarto.
- E se ela não estivesse no quarto?
- Onde mais estaria?
- Ela é sua namorada e eu que vou saber.
- Na casa de uma amiga, na casa de Valeria, só pode ser.
- Você acredita que a mãe dela matou Skinner?
- É a maior suspeita por causa da descendência, mas a pergunta que não quer calar é: Por que?
- E o noivo dela, o tal Sebastian?
- Sebastian não estaria no quarto dela.
- Mas se eles se casarão, se casaram, um descendente de Marina teria também o sangue de Sebastian.
- Faz sentido. Vamos perguntar ao tio Google tudo sobre esse Sebastian.
E eles começaram sua pesquisa.
- Olha Dante que boas notícias, Marina vai voltar para você.
- O que? Diz isso ai? Onde?
- Aqui ó, “O conde Sebastian Lerand II foi morto na revolução farroupilha onde era um general caramuru por Garibaldi deixando gravida sua viúva a senhora Valéria Luize Lerand gravida”
- O que? Então Marina não se casará com ele?
- Pelo que tudo indica a sorte irá sorrir para você meu amigo.
Dante sorria sozinho ao pensar que Marina seria sua, só sua, que não teria de esperar cinco anos por ela. Então ela abandonaria tudo para ficar com ele, então ela era mesmo capaz de deixar tudo para trás para ficar com o cara errado. Dante não podia acreditar em tudo isso, a alegria irradiava seu peito.
- Minha Marina será minha para sempre.
- E eu vou ficar na vela para sempre.
- Diego pesquisa ai, Marina Flamelle. – Diego obedeceu, Dante ainda sorria sozinho quando Diego pôs a mão no peito e não soube esconder o quão assustado estava.
- Meu Deus! – Balbuciou ele.
- O que foi Diegão?
- Melhor você não saber. – Tentou esconder o notebook de Dante, mas ele foi mais rápido e o puxou. Caiu de joelhos ao chão em prantos e desespero ao ler.
“Marina Flamelle viveu do ano 1814 a 1831, filha de um barão muito respeitado, foi morta na noite do casamento pelo noivo, o conde Sebastian Lerand II, após estrangular a noiva por ela dizer que não o amava ele pôs fogo na casa com o corpo de Marina Flamelle dentro. Sebastian nunca foi incriminado na falta de provas, pouco tempo depois casou-se com Valeria Luize, a única testemunha do assassinato foi Eliot Flamelle irmão bastardo da vítima.”
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O espelho de Skinner
Mystery / ThrillerO detetive Dante Côrtes, um homem frio e cético do século XXI jamais imaginou que investigar um caso - aquele caso - mudaria sua vida, seu destino e seu passado. Seu objetivo naquele instante era encontrar o assassino de Skinner Flamelle o cientis...