4 | A festa dos anos 80

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Sim, é mesmo incrível

A música é invencível

Pra cantar o amor

Espantar a dor

De verdade, amor

A felicidade

Sim, é mesmo incrível

A música é invencível

Toda emoção, pura sensação

Viva voz no coração

Não dá pra parar a música, A Turma do Balão Mágico e Metrô

No salão um do Cerimonial First Class, a Festa Trash 80 acontecia, onde os adolescentes se vestiram de personagens de programas de televisão, de filmes, séries, desenhos animados ou dos cantores da época.

As paredes estavam cheias de capas de LPs, pôsteres de artistas daquela década e no teto, havia um globo espelhado com luzes coloridas. Como comes e bebes, tinha refrigerante Baré, suco de gro­selha, cigarrinhos de chocolate, jujubas, ponche de fru­tas, sanduíche de atum, sanduíche de carne louca e bolo nega maluca.

Montaram uma televisão com Atari, em pleno funciona­mento, tendo vários cartuchos de jogos para a diversão da moçada, dentre eles, o lendário Pac-Man.

Havia uma mesa com vários brinquedos: Cubo Mágico, Playmobil, bonecas Fofolete, Me­nina Flor e Moranguinho, Mini-Garrafinhas da Coca-Cola, Aquaplay, Genius e Futuro Enge­nheiro.

Por serem evangélicos, Hellen e Henrique não participa­ram da festa. Hellen foi para o Se­minário de Principiantes da Igreja Maranata, no Maanaim e Henrique estava envolvi­do no Congresso dos Adolescentes na Assembleia de Deus – Ministério Dracma Perdida, onde seu pai era pastor presi­dente.

No comando das carrapetas, estava o DJ Michael, moreno, alto, gordo e com cavanhaque. A primeira música tocada foi Conga, Conga, Conga, de Gretchen e a segunda, É bom para o moral, de Rita Cadillac.

Hudson, fantasiado de Presto, da Caverna do Dragão, pe­diu ao DJ para tocar Beat It, de Michael Jackson. Ele treinou a coreografia da canção por três dias e arrasou na pista. A le­tra, escrita pelo eterno Rei do Pop, é um protesto contra as brigas entre gangues de rua. O solo de guitarra, assinado por Eddie Van Halen, é considerado um dos melhores de todos os tempos.

Kelly, fantasiada de Smurfette, mandou um bilhetinho para o DJ tocar Like a Virgin, de Madonna. Ela não parava de olhar Hudson, que devolvia os olhares na mesma proporção. Ele já não conseguia mais esconder o que sentia pela loiri­nha. Seu coração batia mais rápi­do a cada minuto. Hudson tinha uma adversária, a timidez, mas estava decidido a vencê-la.

"É hoje que eu mando a real e conquisto essa bonequinha" – pensou o jovem.

Kelly foi ao toalete, acompanhada de Daniella, fantasiada de Madonna para retocar a ma­quiagem. A loirinha falou:

– Dani, será que hoje é o dia?

– Dia do quê, Kelly?

– O dia mais feliz da minha vida.

– Ainda não consegui entender.

– Eu tô apaixonada pelo Hudson. Meu príncipe tá lindo fantasiado de Presto.

– Pensei que abafaria como a Madonna. Como me enga­nei. Você como Smurfette tá rou­bando a cena.

– Jura?

– Sim, Kelly. Você tá di-vi-na!

– Obrigada, Dani.

– De nada, meu bem. Boa sorte com seu príncipe.

Nesse momento, tocava a música Tempos Modernos, de Lulu Santos. A música seguinte foi Girls Just Wanna Have Fun, de Cyndi Lauper.

Paulinho, 14 anos, um simpático gordinho, moreno claro e cabelo liso e preto, fantasiado de Daniel-san, da trilogia Karate Kid, se aproximou de Arianne, fantasiada de Xuxa e dis­se:

– Oi, Arianne. Vamos dançar lambada?

– Claro, Paulinho – respondeu Arianne, fazendo sinal para o DJ tocar Preta, de Beto Bar­bosa.

Com Serão Extra, do Dr. Silvana e Cia, Meu Ursinho Blau Blau, do Absyntho, Marylou, do Ultraje a Rigor, Minchura, de Neusinha Brizola, Rock da cachorra, de Eduardo Dussek e Adelaide, do Inimigos do Rei, os adolescentes se borraram de tanto rir.

– Diante do que se toca nas rádios hoje em dia, essas músicas são verdadeiros clássicos da MPB – observou Hud­son.

– É verdade, Hudson – concordou Paulinho – Só tem lixo tocando nas rádios. E tem gente que chama isso de manifes­tação popular.

– Cadê o povo nessas canções? O que vejo ai são pseudo­cantores, ídolos fabricados pelo marketing das gravadoras multinacionais e manipulados por produtores e empresários ávidos pelo vil metal. Esse tipo de música é que nem chiclete: a gente masca e depois, joga fora – respondeu Hudson.

– São os one-hit wonders de verão – afirmou Paulinho.

– As canções são escritas pra grudar na cabeça da gente durante o verão inteirinho –comen­tou Hudson.

– Tipo aquela da Dança do Créu? - perguntou Paulinho.

– Na mosca, Paulinho – respondeu Hudson.

Para voltar à inocência dos namorinhos infantojuvenis, só com Se Enamora, da Turma do Balão Mágico e Pra ver se cola, do Trem da Alegria, os dois grupos infantis de maior desta­que nos anos 80.

Depois, vieram as músicas politizadas do rock nacional oitentista, como Alvorada Voraz e Revoluções por Minuto, do RPM, Polícia, do Titãs, Que pais é esse, do Legião Urbana, Ala­gados, do Paralamas do Sucesso, Ideologia, de Cazuza e Vera­neio Vascaína, do Capital Inici­al.

O rock da gringa não ficou de fora, com Livin' On A Prayer, do Bon Jovi, Eye of the ti­ger, do Survivor, Every Breath You Take, do The Police, Sweet Child O'Mine, do Guns n' Ro­ses e Hunting High and Low, do A-ha.

Chegou a hora: Hudson tomou coragem, se aproximou de Kelly e disse:

– Kelly, eu quero dançar com você.

– Claro – respondeu Kelly, com um lindo sorriso.

Os dois foram para um canto do salão. A música que toca­va era Escrito nas estrelas, de Tetê Espíndola.

– Kelly, você tá muito linda de Smurfette e muito cheirosa – disse Hudson no ouvido de Kelly.

– E você tá um gatinho como Presto – respondeu Kelly, acariciando o rosto de Hudson.

– O poeta não se enganou quando disse que o meu amor, nosso amor estava escrito nas es­trelas – disse Hudson, acari­ciando as mãos de Kelly.

– É verdade, meu amor. O poeta nunca erra, assim como os astros, que conspiram a nosso favor. Você é o menino mais fofo do mundo! Eu te amo, meu verdinho – respondeu Kelly, afa­gando o braço de Hudson.

– Eu também te amo, minha azulzinha – respondeu Hud­son, dando um beijo na boca de Kelly.

– Você me deu a noite mais linda de todas as noites – fa­lou Kelly, chorando de alegria.

– Com você, tô descobrindo o que é o amor – respondeu Hudson, com os olhos cheios de lágrimas.

Arianne viu a cena e não acreditou.

– Gente, tô passada! A Kelly conseguiu fisgar o Hudson. Ou a Smurfette encantou o Presto. Nem o Vingador, tam­pouco o Gargamel vão atrapalhar este amor – disse a meni­na.


Os senhores da fome [COMPLETO]Where stories live. Discover now