18 | Os professores estão à míngua

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 Pietro Tabachi estava em festa, mas os professores, com atraso nos salários e passando ne­cessidades, fretaram três ônibus para Vitória, ocupando as galerias da Assem­bleia Legislativa, com faixas clamando por socorro aos nobres de­putados.

 Pietro Tabachi estava em festa, mas os professores, com atraso nos salários e passando ne­cessidades, fretaram três ônibus para Vitória, ocupando as galerias da Assem­bleia Legislativa, com faixas clamando por socorro aos nobres de­putados

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 O deputado Fábio Brito, horas antes, recebeu as lideranças do SINPROPT em seu gabinete, recebendo sua pauta de reivindica­ções

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O deputado Fábio Brito, horas antes, recebeu as lideranças do SINPROPT em seu gabinete, recebendo sua pauta de reivindica­ções. No pequeno expediente, ele se pronunciou no plená­rio:

– Senhor presidente, senhores deputados. É com muita triste­za que venho a esta tribuna pra denunciar um fato escabroso que tá ocorrendo em Pietro Tabachi. Há pouco, eu recebi as lideran­ças do SINPROPT em meu gabinete, denunciando o atraso dos salá­rios do magistério por três meses consecutivos. Enquanto o pre­feito Jalmir Barrreira gasta uma fortuna na construção de um parque de exposições e paga um show absurdamente caro da du­pla Ana Flávia e Gabriel, os professo­res têm passado fome, tendo que recorrer a parentes, amigos e às igrejas pra garan­tir os víve­res. Muitos deles tiveram seus nomes negativados, porque pega­ram empréstimo consignado e a prefeitura não repassou as par­celas aos bancos. Outros mais estão ameaçados de despejo ou fo­ram despejados de suas casas, pela falta de pagamento do aluguel ou do financiamento da casa própria. Quero saudar os professo­res aqui presentes nas galerias desta casa que vieram buscando socorro para receber seus proventos.

– Deputado, Pietro Tabachi recebeu R$ 3,5 milhões do Fun­deb, de janeiro até o mês cor­rente. Do montante, 60% deve ser usado pra pagar os professores. Esses dados, eu tirei há pouco do site Transparência Brasil – observou a deputada Ivonete Moraes, do PSOB, presi­dente da Comissão de Educação.

– Obrigado pela informação de vossa excelência, deputada. Contudo, este dinheiro não tem chegado aos bolsos dos professo­res. Há fortes indícios de que não só o Fundeb, como o PNAE, o PDDE e o PNATE têm sido desviados pros bolsos de Karine Bar­reira, a secretá­ria de Educação daquela cidade, através de licita­ções fraudulentas e outros métodos espúrios que só em falá-los, sinto ânsia de vômito.

– As acusações de vossa excelência são muito graves. É preciso ter provas concretas e não expor meras ilações – advertiu o depu­tado Paulo Binda, do PRT.

– Se fossem ilações, eu jamais usaria o pequeno expediente pra denunciar a roubalheira da família Metralha, perdão, da fa­mília Barreira – irritou-se Fábio Brito.

– Quais são estas provas? - perguntou Ivonete Morais, bastan­te curiosa.

– Comecemos pela exposição constante de sinais exteriores de riqueza por parte de Karine, como a compra de um Volvo XC 60, avaliado em 233 mil reais, no qual desfila pela cidade pra cima e pra baixo. Em seguida, as constantes viagens a São Paulo, fre­quentando à Rua Os­car Freire, endereço das grifes mais deseja­das do mundo, como Versace, Giorgio Armani, Louis Vuitton e Tommy Hilfiger, e lá torra os recursos do erário em bolsas, vesti­dos e sapatos. Seu closet mataria Imelda Marcos, a finada ex-pri­meira-dama das Filipinas de inveja. Karine ganha R$ 7 mil como secretária. Ela não te­ria dinheiro pra comprar essas coisas.

– Deputado, olha o que vossa excelência tá falando – voltou a advertir Paulo Binda.

– Vossa excelência acha que eu sou menino? - gritou Fábio Bri­to, apontando o dedo para Paulo Binda – Há farta documentação e testemunhas que evidenciam a dilapidação do erá­rio pietrota­bachiano pela quadrilha Barreira.

Emocionado, Fabio Brito tirou os óculos e finalizou seu dis­curso:

- Pelos fatos que expus, agora mesmo, eu e as lideranças do SINPROPT iremos ao Ministério Público, onde já temos uma au­diência marcada com o procurador-geral de Justiça para que este tome as devidas providências. Não posso mais tolerar tanto des­mando na minha terra querida, onde os professores não recebem seus salários em dia e as crianças recebem me­renda de baixa qua­lidade. Muito obrigado.

Karine Barreira, após assistir a sessão ordinária da Assembleia Legislativa na TV Educati­va, ordenou a abertura de processo ad­ministrativo contra os professores da rede municipal pela não participação do desfile cívi­co alusivo aos 120 anos de emancipa­ção da cidade e pelo não cumprimento do decreto que proibia os professores de fazerem manifestações em relação ao atraso de sa­lários, o que em sua obtusa visão, gerava críticas negativas à cida­de, ao prefeito e à secretária de Educação.

– Vou botar esses professores nos seus devidos lugares. Os professores passaram da conta ao expor a mim e ao meu pai na Assembleia. Eles vão saber que quem manda aqui sou eu – gritou Karine, esmurrando sua mesa.

A comissão formada era ilegítima, porque seus membros, ali­nhados com a atual gestão, não eram do quadro efetivo e tinham um nível de formação abaixo dos professores. Em suma, eles seri­am ouvidos por servidores sem conhecimento de causa, podendo deliberar pela de­missão porque o requerimento de Karine já de­terminava tal sanção.

A rata de esgoto pretendia ainda acionar juridica­mente Fábio Brito por conta de suas declarações contra ela e seu pai no plená­rio da Assem­bleia e pediria sua cassação do seu mandato por quebra de decoro.

Fábio Brito e os sindicalistas foram ao Ministério Público, onde foram recebi­dos por Tibé­rio Augusto, procurador-geral de Justiça e expuseram o atraso de salários do magisté­rio. Sensibili­zado com o relato, recebeu os documentos dos representantes do SINPROPT, pediu que um estagiário escaneasse os mesmos, mandou um e-mail para o promotor da cidade, determinan­do que este entrasse na Vara de Pietro Tabachi com um pedido de bloqueio das contas do mu­nicípio, para garantir os proventos dos professores.

O Ministério Público Estadual entrou com ação cível pública com pedido de tutela anteci­pada, determinando o afastamento imediato do prefeito e da secretária de Educação, além do blo­queio total das contas do município, para garantir o pagamento dos professores e impedi­mento da aproximação de pai e filha de entrarem no paço municipal.

Além disso, o parquet estadual pediu na peça que fosse envia­do ofício aos gerentes do Banestes e do Banco do Bra­sil para blo­quearem as contas e fosse notificado o chefe do departamento de pessoal da Prefeitura de Pietro Tabachi para enviar as folhas de pagamento em aberto.

A seu turno, o Ministério Público Federal impetrou, na Vara Federal de Linhares, uma ação cível pública por improbidade ad­ministrativa contra Jalmir e Karine Barreira, requerendo a indis­ponibilidade dos bens destes últimos e a quebra dos sigilos fiscal e bancário de pai e filha, baseada na denúncia do vereador Leo­nardo Costa.

O juiz Laércio do Couto Reis Filho, da Vara Federal de Linha­res, acolheu a denúncia do Ministério Público Federal contra Jal­mir e Karine Barreira, tornando-os réus na ação de im­probidade administrativa, tornando indisponíveis os bens destes. Na justiça estadual, eles sofreram outro revés: a juíza da comarca de Pietro Taba­chi, Adriana Lodi Santana, determi­nou o afastamento do prefeito e da secretária de Educação de seus cargos e o bloqueio total das contas do município. Hugo Peçanha assumiu interina­mente a prefeitura.

Com os salários acertados, os professores, em assembleia, de­liberaram pela volta às aulas.

Os senhores da fome [COMPLETO]Where stories live. Discover now