12 | Não nos calarão

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 Na segunda-feira, Soraya entrou na aula e entregou bi­lhetes para Hudson, Hellen, Henrique e Arianne, con­vocando seus pais para uma reunião no dia se­guinte. Eles só entrariam se estivessem acompa­nhados.

No recreio, Hellen foi obrigada a ouvir gracinhas das meren­deiras.

– Lá vem a fotografa! – disse uma merendeira.

– Ruivinha dedo-dura – falou outra.

Joanna e Anderson foram colocados à disposição da secreta­ria de Educação, que os remo­veu para uma escola no distrito de Pa­triarca Abraão, na zona rural. Eles eram desafe­tos de So­raya, que aproveitou o momento para se vingar des­tes.

Anderson foi substituído por Miguel, branco, louro, 1,86 m, 25 anos. Ele era esposo de Soraya. Além de professor da rede muni­cipal, Miguel, formado em Jornalis­mo pela UFES, era editor-che­fe do quinzenário A Voz de Pietro Taba­chi, um jornale­co servil à ges­tão de Jalmir Bar­reira. No primeiro dia de aula, disparou indire­tas contra os editores do Amyltão Escancara­do:

– A gente tem que tomar muito cuidado com o que coloca na internet, pois corre o risco de ter dissabores. Não acho ético ex­por os problemas da escola num blog. O que acontece aqui, fica aqui. Essa exposição queima o nome da escola, os estu­dantes, professores e funcioná­rios. Imagina se eu expu­sesse os proble­mas da minha casa em meu blog? Eu aprendi com os mais velhos que roupa suja, a gente lava em casa. Ou seja, os assuntos inter­nos da escola devem ser tratados na escola.

"Qual é a desse cara? Ele preparou essa aula pra nos humi­lhar. Se ele falar mais uma graci­nha, eu vou pegar o meu es­tojo e arre­messar na cara dele", pensou Arianne.

– Eu odeio esse Miguel! Quem ele pensa que é pra falar nes­se tom? – perguntou Hudson a Hellen.

– É só um professor vendido pra direção – respondeu Hel­len.

Em casa, os blogueiros falaram com os responsáveis acerca do bilhete.

– Soraya não curtiu o blog e quer que você vá à escola pra con­versar com ela – falou Ari­anne.

– É mesmo? Me dá o bilhete pra assinar. Eu vou lá dizer umas verdades pra essa diretora – respondeu Mariana.

– Um tal de Miguel, o bofe da Soraya, preparou uma aula só pra mandar indiretas contra a gente – disse Arianne.

– Cachorro! Ah, se eu encontrar com ele, vai ter comigo! Ora, se vai – indignou-se Maria­na.

Hudson falou com a avó, dona Olga, 63 anos, 1,60 m, ma­gra e cabelo pintado de acaju, professora aposentada e com­bativa líder sindical:

– Vovó, a diretora tá desesperada com a repercussão do blog e quer que a senhora vá à es­cola pra conversar com ela.

– Diretora com medinho? Ela é capacho de Karine Dell'Anto­nio Barreira Borges. Com todo o prazer, eu vou en­frentar essa pe­lega – respondeu dona Olga.

Em casa, Hellen falou com o pai sobre o bilhete da dire­ção, lhe chamando para a reunião.

– Vou lá conversar com a diretora pra colocar essa história em pratos limpos – respondeu Denílson.

Na manhã do dia seguinte, no gabinete da diretora, com os pais, Soraya disse:

– O Amyltão Escancarado tem gerado constrangimentos à co­munidade escolar, porque expõe fatos que deveriam ser trata­dos internamente. Tem gente que sente vergonha de di­zer que estuda ou trabalha aqui. Eu, na qualidade de direto­ra, tenho a obrigação de zelar pelo bom nome da escola e exi­jo que obri­guem seus fi­lhos a encerrar as atividades desse blog ou eles se­rão transferidos desta escola.

Os senhores da fome [COMPLETO]Where stories live. Discover now