17 | Os mestres com pires na mão

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 Os professores da rede municipal de Pietro Tabachi fize­ram um protesto contra o atraso de três meses de salá­rios. De caras pintadas, vuvuzelas, apitos e falan­do pa­lavras de ordem, os docentes percorreram as principais ruas da cidade.

Ao passar pelo Centro, os mestres distribuíram panfletos nas lojas e um caminhão de som, pago pelo Sindicato dos Professores de Pietro Tabachi(SINPROPT), tendo ao fundo a Marcha Fú­nebre, de Chopin, expôs a real situação do magistério:

– Atenção! Os professores da Rede Municipal de Ensino de Pie­tro Tabachi, reunidos em assembleia, decretaram greve por tempo indeterminado a partir de hoje, dia 11 de junho, em virtude do atraso de três meses em seus salários. Pedimos o apoio da po­pulação na defesa do ensino público, gratuito e de qualidade.

Jalmir Barreira, ao tomar conhecimento do movimento pare­dista, baixou um decreto proibindo que os professores façam re­clamações em público em relação a atrasos salariais ou façam manifestações durante o expediente ou fora dele. Quem descum­prisse a determinação, seria submetido a um Processo Adminis­trativo Disciplinar (PAD), que poderia terminar em demissão.

Joanna, além de professora do Amylton, era uma das lideran­ças do sindicato. Ao tomar conhecimento do decreto, falou no mi­crofone indignada:

- Jalmir Barreira pensa que estamos num regime de exceção. Trata-se de mais um instrumento de coação dos servidores. Esta­mos num Estado democrático de direito. Ataca os direitos à liber­dade de expressão e de opinião.

Jalmir, em entrevista à Piraqueaçu FM, alinhada à atual admi­nistração, justificou o decreto da mordaça:

- Creio que os professores tão na razão deles em reivindicar seus salários em dia. Contudo, a questão deve ser tratada inter­namente. E não com um protesto com carro de som, panfleta­gem, porque isso mancha a imagem desta administração e isso pode repercutir até nos veículos de comunicação nacionais e aí, sou obrigado a tomar medidas enérgicas, que não são boas pro magistério. Professores, se estiverem me ouvindo, peço encareci­damente que retornem às salas de aula e segurem as pontas um pouco. Quando der, vamos acertar os salários. Do contrário, va­mos entrar na justiça pra decretar a ilegalidade do movimento, pois a educação é um serviço essencial e essa greve tem viés po­lítico. As crianças e adolescentes querem estudar e vocês sempre caçam uma desculpa pra entrar em greve. Quem avisa, amigo é.

No Centro, o protesto docente continuava.

– Companheiros, soube de fonte segura que Jalmir Barreira vai inaugurar o Parque de Ex­posições, marcando a abertura das comemorações dos 120 anos de emancipação política da cidade. Vamos pra lá cobrar o que é nosso por direito – disse dona Olga, segurando o microfo­ne.

No novo equipamento público, Flávio Campos, locutor oficial da Prefeitura, falava:

– Neste momento, se inicia a solenidade de inauguração do Parque de Exposições Gian Pao­lo Garbocci. Solicitamos a presen­ça do senhor Umberto Barreto, presidente do Sindica­to Rural de Pietro Tabachi e o senhor Hugo Peçanha, presidente da Câmara Municipal de Pie­tro Tabachi para o desenlace da fita.

A fita foi cortada. O locutor prosseguiu:

– Convidamos a todos que entrem ao recinto do parque de Ex­posições para o descerramen­to da placa pelo senhor prefeito, Jal­mir das Neves Siqueira Barreira e pela senhora Aparecida Maria Garbocci Moreira, filha de Gian Paolo Garbocci. Emocionada, ela disse:

– Com muita felicidade, a família Garbocci recebeu a notícia de que este parque levará o nome do homem que tanto colaborou com o crescimento desta cidade. Onde quer que ele es­teja, deve estar muito feliz com tal honraria.

Os senhores da fome [COMPLETO]Where stories live. Discover now