Eram cinco da manha. O Sol ainda não nasceu e a Lua reinava plena no céu de Pietro Tabachi. A rotina daquela pacata cidade do interior do Espírito Santo seria quebrada com a chegada de doze viaturas da Polícia Federal, acompanhadas de outras seis viaturas do Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar, que vieram para cumprir mandados de prisão temporária, busca e apreensão e condução coercitiva.
Os federais foram às casas de Jalmir Barreira, Jalmir Júnior, Juarez, do dono do Frigorífico Trindade, Eurípedes Trindade para cumprir os mandados de prisão temporária e busca e apreensão, que também foram executados nos escritórios destes na prefeitura.
Trinta diretores de unidades escolares e os agricultores familiares Alcimar Berger, Wilmar Gottardi e Joelma Cassani foram conduzidos coercitivamente para a sede da Superintendência da PF, em Vila Velha, onde também houve apreeensão de documentos e computadores.
Aristomar, como de costume, reduziu a família Barreira a pó de traque no editorial da edição extra do Correio Tabachiano:
O diálogo de Júnior e Juarez foi divulgado pela Polícia Federal e repercutida pela imprensa regional. Josué Tedesco, comentarista político da TV Vitoriense e Rádio RBN, duramente criticou a família Barreira:
Queima de arquivo. Era o que propunha o filho do prefeito de Pietro Tabachi, Jalmir Barreira, Jalmir Júnior, em relação ao acervo documental referente às prestações de contas das verbas federais que sua finada irmã afanara para bancar seus luxos, segundo o deputado estadual Fábio Brito, candidato a prefeito derrotado nas eleições do ano passado e adversário político do prefeito.
Era preciso destruir as evidências das falcatruas da Karine, pois poderiam sofrer fiscalização do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público Federal.
Se outrora, a família Barreira dizia que as acusações de corrupção eram intriga da oposição e dos veículos a ela associados, o áudio da conversa do filho do alcaide com o coordenador do setor que deveria fiscalizar a utilização do dinheiro da União para a compra de merenda mostrou a existência de um consórcio criminoso familiar, disposto a rapinar dinheiro público.
Palmas para a Polícia Federal, que rapidamente desbaratou o esquema criminoso, para o bem das crianças e adolescentes daquela cidade, que poderão comer dignamente sua merenda escolar.
Geraldo Mansur, comentarista político do Jornal Atual, da Rede Esfera, exibido de segunda a sexta, às 13:20, esmigalhou o clã Barreira:
Quanto mais longe dos centros urbanos, o patrimonialismo e o coronelismo imperam. Não me refiro à nenhuma cidade do agreste de Pernambuco ou do sertão da Bahia, mas de Pietro Tabachi, uma cidade fundada por imigrantes italianos há 120 anos, a uma hora e meia de Vitória, capital do Espírito Santo.
A cidade é governada por Jalmir Barreira, que pôs a parentada toda em cargos estratégicos: a esposa, na Ação Social e a filha, que falecera há poucos dias, na Educação e fora substituída por outro filho, Jalmir Júnior.
Pairam sobre a família Barreira sérias acusações de desvio de recursos da merenda escolar, os professores estavam há três meses com salários atrasados e pasmem os senhores e as senhoras, baixou decreto proibindo os docentes de fazerem reclamações a respeito da falta dos seus vencimentos em público.
Ademais, o Odorico Paraguaçu do norte capixaba, seu filho e seus capangas têm atacado veículos de comunicação que tragam notícias desabonadoras a seu respeito. Dias atrás, eles vandalizaram a Rádio Laranjal FM, destruíram a torre de retransmissão da TV Vitoriense, afiliada da Esfera no Espírito Santo, puseram fogo no Correio Tabachiano, jornal de oposição à atual administração e compraram todos os exemplares da edição do jornal O Vitoriense, que denunciava o esquema criminoso da filha do alcaide, que patrocinava seu luxuoso estilo de vida às custas das propinas nas compras superfaturadas de produtos da agricultura familiar.
Espera-se que a família Barreira e seus cúmplices continuem sob custódia, sejam processados e condenados à prisão e à perda de seus bens, para serem leiloados e o lucro auferido seja vertido ao erário pietrotabachiano.
No fim da tarde, houve uma reunião na casa de Arianne para a organização de um protesto pacífico que passaria pelas ruas do Centro da cidade, contra a corrupção e os desmandos da família Barreira. O movimento foi denominado Acorda Pietro Tabachi.
No dia seguinte, 20 de junho de 2013, ocorreriam manifestações pelo país, cobrando o fim da corrupção e melhorias nas áreas de saúde, segurança, educação e transporte coletivo.
- Nossa manifestação será pacífica, ordeira, suprapartidária e suprarreligiosa. A luta pela moralidade e o combate à corrupção independe de credo ou orientação política. Não dá mais pra ver a família Barreira envergonhar nossa cidade em rede nacional por conta de suas falcatruas, que só prejudicam as crianças e adolescentes mais pobres. Enquanto isso, os bonitinhos tão lá no quartel da Polícia Militar, em Vitória, com todas as regalias, por conta do foro privilegiado. Isso tem que acabar – disse Mariana.
– Quem faz a lei são os políticos. Esses calhordas só fazem leis em causa própria ou daqueles que os patrocinaram – protestou Aristomar.
– Amanhã, a gente vai pôr o pé na rua e gritar: Fora Jalmir, seu tempo acabou! - afirmou Arianne.
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Os senhores da fome [COMPLETO]
Teen FictionNa cidade fictícia de Pietro Tabachi, situada no norte do Espírito Santo e colonizada por italianos, havia uma escola chamada Amylton Dias de Almeida que tinha graves problemas estruturais e pedagógicos. Arianne e Henrique são dois adolescentes negr...