19 | No olho da rua

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 As aulas voltaram no Amylton. Soraya, em seu gabinete, forjou a ata da reunião extraordinária do Conselho de Escola, na qual deliberava pela transferência compulsó­ria de Arianne, Hellen, Henrique e Hudson. Imprimiu a ata e de­calcou as assinaturas dos representantes dos segmentos de pais/responsáveis, de alunos, professores, servidores administra­tivos e representantes da comunidade. Ela foi para a sala da 8ª B e disse:

– Bom dia, gente.

– Bom dia, Soraya – responderam os alunos em um só tom.

– Hoje vai ocorrer uma mudança que é necessária pro bem es­tar e a segurança da comunidade escolar. Ontem, o Conselho de Escola se reuniu, convocado por mim, presidente, pra definir o futuro de quatro alunos com longo histórico de exposição desne­cessária da escola na internet, calúnias e difamações contra esta diretora e liderança de turba de alunos, pais e professores contra a minha gestão. A decisão, unânime, foi pela transferência com­pulsória de Hellen, Henrique, Arianne e Hudson, que a partir de hoje, deixam de constar no rol de alunos desta escola. Peguem suas coisas e saiam desta escola – disse Soraya.

– Você não pode fazer isso com a gente – protestou Hudson.

– Posso sim – asseverou Soraya – E farei com qualquer aluno que ousar desafiar minha autoridade ou me denegrir em blogs. Paciência tem limite e a minha com vocês acabou. A decisão e ne­cessária pra manutenção da lei e da ordem.

- Onde é que a gente vai estudar? - perguntou Hellen.

- Isso não é problema meu. É de vocês e de seus pais - gritou Soraya.

– Eu e mamãe vamos ao Ministério Público pedir ajuda pra re­verter essa arbitrariedade – falou Arianne.

– Escuta aqui, queridinha. O Conselho de Escola é soberano em suas decisões e não cabem recurso ou ingerência externa. Pode vir a presidenta da República requerer a sua reintegração, mas ninguém poderá salvar você e seus amiguinhos – ironizou Soraya.

– Se entrarmos na justiça, podemos reverter essa decisão ab­surda – protestou Henrique – Não tivemos direito à ampla defesa e ao contraditório.

– O Brasil é o país dos direitos. É muita raça de direito, sô! Não há nada de absurdo na decisão tomada. Quem manda nessa escola aqui sou eu. Minha palavra é a lei e só devo satisfações pra secretária de Educação. Procurar a justiça é um direito que lhes assiste. Dificilmente ganharão, porque enquanto diretora, eu tô com a razão. É a minha palavra contra a de quatro moleques inso­lentes. Vão passar vergonha na frente do juiz – afirmou Soraya.

– A sua tirania, cedo ou tarde, vai chegar ao fim – disse Hel­len.

– Chega! Não aguento mais ouvir tantos insultos! Hudson, Arianne, Hellen e Henrique, peguem suas coisas e saiam pra sem­pre desta escola, sem olhar pra trás! – gritou Soraya – Se resisti­rem, vou chamar a Guarda Municipal, e ai, vai ser pior.

Os alunos condenados à transferência compulsória começa­ram a chorar. Danielle, Kelly e Paulinho foram consolá-los.

– Que cena patética! Odeio sentimentalismo barato! Pela últi­ma vez, saiam daqui, sem choro, em silêncio! – gritou Soraya.

Foi inútil. Os alunos saíram do Amylton derramando uma ca­choeira de lágrimas.

Arianne, cheia de lágrimas, voltou para casa. Lá, encontrou-se com a mãe, que estava na cozinha e disse:

– Mamãe, a Soraya decidiu pela minha transferência do Amyl­ton, assim como dos outros editores do Amyltão Escancarado.

– O quê? Aquela ordinária passou de todos os limites. Quer re­taliar os alunos que denunciam os seus podres – disse Mariana, com o tom de voz elevado – Eu vou agora à escola tirar satisfações com a cadela fiel de Karine Barreira. Aquela tirana vai me ouvir.

Os senhores da fome [COMPLETO]Where stories live. Discover now