As aulas voltaram no Amylton. Soraya, em seu gabinete, forjou a ata da reunião extraordinária do Conselho de Escola, na qual deliberava pela transferência compulsória de Arianne, Hellen, Henrique e Hudson. Imprimiu a ata e decalcou as assinaturas dos representantes dos segmentos de pais/responsáveis, de alunos, professores, servidores administrativos e representantes da comunidade. Ela foi para a sala da 8ª B e disse:
– Bom dia, gente.
– Bom dia, Soraya – responderam os alunos em um só tom.
– Hoje vai ocorrer uma mudança que é necessária pro bem estar e a segurança da comunidade escolar. Ontem, o Conselho de Escola se reuniu, convocado por mim, presidente, pra definir o futuro de quatro alunos com longo histórico de exposição desnecessária da escola na internet, calúnias e difamações contra esta diretora e liderança de turba de alunos, pais e professores contra a minha gestão. A decisão, unânime, foi pela transferência compulsória de Hellen, Henrique, Arianne e Hudson, que a partir de hoje, deixam de constar no rol de alunos desta escola. Peguem suas coisas e saiam desta escola – disse Soraya.
– Você não pode fazer isso com a gente – protestou Hudson.
– Posso sim – asseverou Soraya – E farei com qualquer aluno que ousar desafiar minha autoridade ou me denegrir em blogs. Paciência tem limite e a minha com vocês acabou. A decisão e necessária pra manutenção da lei e da ordem.
- Onde é que a gente vai estudar? - perguntou Hellen.
- Isso não é problema meu. É de vocês e de seus pais - gritou Soraya.
– Eu e mamãe vamos ao Ministério Público pedir ajuda pra reverter essa arbitrariedade – falou Arianne.
– Escuta aqui, queridinha. O Conselho de Escola é soberano em suas decisões e não cabem recurso ou ingerência externa. Pode vir a presidenta da República requerer a sua reintegração, mas ninguém poderá salvar você e seus amiguinhos – ironizou Soraya.
– Se entrarmos na justiça, podemos reverter essa decisão absurda – protestou Henrique – Não tivemos direito à ampla defesa e ao contraditório.
– O Brasil é o país dos direitos. É muita raça de direito, sô! Não há nada de absurdo na decisão tomada. Quem manda nessa escola aqui sou eu. Minha palavra é a lei e só devo satisfações pra secretária de Educação. Procurar a justiça é um direito que lhes assiste. Dificilmente ganharão, porque enquanto diretora, eu tô com a razão. É a minha palavra contra a de quatro moleques insolentes. Vão passar vergonha na frente do juiz – afirmou Soraya.
– A sua tirania, cedo ou tarde, vai chegar ao fim – disse Hellen.
– Chega! Não aguento mais ouvir tantos insultos! Hudson, Arianne, Hellen e Henrique, peguem suas coisas e saiam pra sempre desta escola, sem olhar pra trás! – gritou Soraya – Se resistirem, vou chamar a Guarda Municipal, e ai, vai ser pior.
Os alunos condenados à transferência compulsória começaram a chorar. Danielle, Kelly e Paulinho foram consolá-los.
– Que cena patética! Odeio sentimentalismo barato! Pela última vez, saiam daqui, sem choro, em silêncio! – gritou Soraya.
Foi inútil. Os alunos saíram do Amylton derramando uma cachoeira de lágrimas.
Arianne, cheia de lágrimas, voltou para casa. Lá, encontrou-se com a mãe, que estava na cozinha e disse:
– Mamãe, a Soraya decidiu pela minha transferência do Amylton, assim como dos outros editores do Amyltão Escancarado.
– O quê? Aquela ordinária passou de todos os limites. Quer retaliar os alunos que denunciam os seus podres – disse Mariana, com o tom de voz elevado – Eu vou agora à escola tirar satisfações com a cadela fiel de Karine Barreira. Aquela tirana vai me ouvir.
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Os senhores da fome [COMPLETO]
Teen FictionNa cidade fictícia de Pietro Tabachi, situada no norte do Espírito Santo e colonizada por italianos, havia uma escola chamada Amylton Dias de Almeida que tinha graves problemas estruturais e pedagógicos. Arianne e Henrique são dois adolescentes negr...