No Centro Administrativo, sede da Secretaria de Educação, o tempo fechou por causa da matéria de capa no Correio Tabachiano, denunciando a corrupção na cidade.
– Pasquim imundo! Não serve nem pra forrar a gaiola do meu canário, porque a tinta é tóxica e pode matar meu amiguinho de pena. Esse moleque do Aristomar tá a serviço da oposição, vira e mexe, vive inventando dossiês pra me comprometer – gritou Karine, rasgando o exemplar do jornal.
Karine, a secretária de Educação e filha de Jalmir, 40 anos, loira bronzeada, 1,65 m, siliconada e sarada, entrou aos gritos no gabinete do pai:
– Papai, eu vou matar o desgraçado do Aristomar! Esse advogadozinho fracassado autointitulado jornalista tá me caluniando naquele panfleto chamado jornal.
– Calma, minha filha! – disse Jalmir.
– Calma, nada! Esse cachorro vai me pagar. Ele é obcecado por mim, ainda nutre uma paixão. Como sabe que nosso amor acabou, ele usa o jornalzinho dele pra me atingir e fica aí falando gracinha. A hora dele vai chegar – gritou Karine.
Manuella Freitas entrou no gabinete do prefeito. Karine falou com ela:
– Manu, por favor, prepare uma nota de esclarecimento a ser publicada nas mídias sociais, no site da prefeitura e nos jornais e blogs que nos apoiam.
– Sim, senhora – respondeu Manuella.
– Escreva o que eu vou ditar. Se quiser adaptar a minha fala, fique à vontade – disse Karine, dando um papel e caneta para Manuella.
A jornalista passou a limpo no computador e publicou a nota nas mídias sociais da prefeitura e disparou o texto para os jornais, sites e blogs capachos que recebiam gordas verbas do erário para cultuar a personalidade do prefeito e seu clã. Essa foi a nota:
Ainda naquela manhã, Jalmir ligou para Orlando Braga, governador do Estado, do PSOB:
– Bom dia, governador. Aqui é Jalmir Barreira, prefeito de Pietro Tabachi.
– Bom dia, Jalmir – respondeu o governador.
– Há muito que um jornaleco de baixa qualidade, o Correio Tabachiano, de propriedade do pseudojornalista Aristomar Pedreira, fica atacando meu governo, expondo calúnias e difamações contra mim e minha filha, a Karine. Olha, Orlando, eu vou te dar um aviso: se você não mandar cortar a verba publicitária pro jornalzinho, não conte com meu apoio pra sua reeleição, tampouco do partido. Você duvida que posso obrigar os deputados saírem da base governista? Tenho o diretório estadual em minhas mãos – ameaçou Jalmir.
– Isto está fora de questão – respondeu Orlando Braga.
– O PRT foi o fiel da balança pra que você ganhasse a eleição no segundo turno. Você tá na minha mão. Ou corta a verba desse moleque ou adeus, reeleição. Vai pensando aí – afirmou Jalmir.
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Os senhores da fome [COMPLETO]
Teen FictionNa cidade fictícia de Pietro Tabachi, situada no norte do Espírito Santo e colonizada por italianos, havia uma escola chamada Amylton Dias de Almeida que tinha graves problemas estruturais e pedagógicos. Arianne e Henrique são dois adolescentes negr...