Capítulo 5

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Inês POV

Acordei com o despertador e levantei-me para me preparar para a escola. Fui até à casa de banho e olhei-me ao espelho. Tinha um aspeto cansado, olheiras profundas debaixo dos olhos. Eu era feia, por isso é que toda a gente gozava.

Abri uma gaveta do armário e encontrei a coisa mais próxima de mim. Virei o pulso para cima e passei a lâmina por ele, fazendo um pequeno corte. Passei mais umas vezes, pressionando o objeto metálico contra a minha pele, marcando parte do meu pulso. Fui tomar banho para lavar o sangue dos braços e no final peguei num pedaço de pano e passei no chão para limpar as gotas que tinham caído do meu pulso. Fui para o meu quarto e vesti uma camisola grossa de manga comprida preta, umas legins pretas e umas vans pretas. Fui tomar o pequeno-almoço antes que o meu pai acordasse, mas como não tinha muita fome bebi apenas um iogurte e fui para a escola.

Chegando lá ainda faltava algum tempo para começar a primeira aula, portanto fui dar uma volta descobrindo mais um pouco deste inferno. Encontrei umas escadas que nunca tinha reparado e subi. Fiquei fascinada, dali via-se a escola toda de cima. Percebi, ao aproximar-me mais um pouco, que era o telhado. Fiquei lá um pouco, a observar os alunos de cima, até tocar. Cometi um grande erro em ter ficado muito tempo lá pois quando cheguei à sala os meus colegas também estavam a entrar e olharam todos na minha direção. Não liguei e entrei, sentando-me na mesa do fundo. Como o costume, Ashton foi para a minha beira, mas não falou nada. Provavelmente percebeu, pela minha cara de enterro, que eu não estou para conversas que não vão dar em nada.

O professor de literatura chegou e, depois de saudar todos com um "bom dia", começou a dar a aula.

Prof.: Meninos, hoje quero que escrevam um pequeno texto sobre a morte e que venham apresentar aqui. Podem começar, têm 10 minutos.

Os alunos começaram a escrever e passado os 10 minutos começaram a ir apresentar lá à frente. Fiquei à espera que a minha vez chegasse, o que não demorou muito.

Prof.: Menina Inês Mendes, é a sua vez.

Levantei-me e fui até lá à frente. Suspirei e comecei.

Eu: A morte. - Olhei para os meus colegas e novamente para o caderno. - A própria palavra desperta o medo no coração de muitas pessoas. Eu defino a morte como um sono sem sonhos. Há quem fuja da morte e há outros chamam por ela, são os que se suicidam. A morte nem sempre é uma coisa má. Essas pessoas que se suicidam, por exemplo, mostram isso mesmo. Mostram que na vida existem coisas piores do que ela. Eu não temo a morte, não tenho medo de morrer. - Não sei porquê, mas olhei para Ashton. - A morte é o menor dos problemas. Aliás, como diz uma frase que eu adoro: "A única solução para os meus problemas é a morte.".

Olhei para o professor mostrando que já tinha terminado.

Prof.: Parabéns, menina Mendes. Isso foi muito... profundo. - Disse meio confuso com as palavras que deveria escolher. - Pode sentar-se.

Fiz o que ele mandou e dirigi-me ao meu lugar. Vi o Ashton a abrir a boca algumas vezes, mas nada saía.

Ashton: Bonito nome. - Acabou por dizer.

Eu: Obrigada, é igual ao da minha mãe.

Ashton: A sério? E quando o teu pai chama o teu nome como é que vocês distinguem?

Eu: Ela não está aqui. - Engoli em seco.

Ashton: Porquê? Ela f...

Eu: Ela está morta. - Disse fria, interrompendo-o.

Ashton: Oh! Eu... Lamento.

Eu: Não, não lamentes. A culpa foi minha mesmo.

Ashton: O quê? Não te culpes pela morte dela.

Eu: Tu não sabes de nada. - Disse rudemente, ainda sem o olhar. Ele decidiu não falar mais.

Prof.: Amanhã quero que vocês apresentem um trabalho sobre um escritor à vossa escolha. Vai ser um trabalho que terão que realizar em pares, vão fazer com os companheiros de mesa.

Revirei os olhos. Tempo extra para estar com o Ashton.

Ashton: Na tua casa ou na minha? - Questionou-se.

Eu: Na minha.

O dia passou aborrecida e lentamente, como o costume. Estava agora a sair da última aula com o Ashton ao meu lado.

Fomos para minha casa, mas, desta vez, decidimos ir no carro dele em vez de irmos a pé.

Chegando a minha casa subimos até ao quarto, liguei o meu computador e começamos a fazer o trabalho. Iríamos fazer uma trabalho sobre William Shakespeare. Quando acabamos de fazer o trabalho ouvimos uma porta a bater. Fui a correr até à janela e vi o carro do meu pai estacionado na frente da casa.

Eu: Está na hora de ires. - Disse para o Ashton. - Anda por aqui. - Disse abrindo a janela.

Ashton: O quê? Porquê? - Perguntou confuso.

Eu: Por favor... - Implorei. Ele assentiu, ainda reticente, mas lá se dirigiu à janela.

Ele saiu e eu comecei a correr em direção ao andar de baixo. Encontrei o meu pai na sala e ele olhou para mim, com uma expressão raivosa.

Pai: Estavas a falar com quem? - Disse irritado, como o costume.

Eu: Com ninguém. - Menti.

Pai: Não me mintas! - Falou alto batendo-me com tanta força que me fez cair. - Devias ter sido tu em vez da tua mãe. - Disse e começou a pontapear a minha barriga.

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