9. No Jardim dos Fundos

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🦄Camila🦄

Depois que meu pai morreu e minha mãe foi extraditada, minha madrinha sempre me disse para me lembrar dele com alegria, sem pensamentos tristes ou depressivos porque com certeza ele não ficaria feliz ao saber que é motivo da minha tristeza. Eu usava o mesmo para Zack, gostava que todos sorríamos quando falávamos dele, e gostava que Calton Jones tivesse organizado uma festa para celebrar a vida de Zack, que foi curta, de dezanove anos apenas, mas maravilhosa e impactante para todos nós. Os rapazes da equipe ofereceram uma medalha á senhora Keller e disseram a ela que além de Zack tinha outros onze filhos. Foi tudo emocionante demais, até o momento em que o memorial foi transformado em uma festa e pessoas que não tinham nenhum tipo de relação com Zack encheram o jardim dos fundos e o memorial não era nada mais além de fara onde só importava beber, comer e dançar, se esquecendo do verdadeiro significado da noite.

De repente o desconforto bate, Lauren não está mais ao meu lado, deve estar se divertindo como todos ou fugido para algum outro sítio, o que é mais provável, sinto-me deslocada. Vejo no canto a senhora Keller recolhendo os copos largados e a loiça espalhada, a ajudo e levo as coisas para a cozinha. Quando saio me detenho nas escadas interiores e olho para o andar de cima, minha garganta aperta e meu peito dói, penso em Zack, sinto falta do meu melhor amigo. Subo as escadas e entro no seu lugar predilecto na casa, seu quarto. Tudo está do mesmo jeito que da última vez que cá estivemos, um pouco mais arrumado, a colecção de taças dos inúmeros campeonatos que ele venceu desde que éramos crianças, os jogos de batalha e os comics de super heróis estão perfeitamente organizados na sua estante. Vou a sua cama e sorrio quando me lembro de como nos divertimos naquele lugar, eu amava fazer guerra de almofadas com ele. Abraço sua almofada com força e me deixo levar com as memórias, posso jurar que sinto o arroma do seu perfume e ele está atrás de mim me chamando de "Camelosa, Camila melosa".

Oh, céus, sinto tanta saudade dele. Eu daria tudo para que Zack estivesse aqui, para não lhe ter quebrado o coração e ter dado a nós dois um último momento mais alegre. Porquê nossa história teve que terminar daquele jeito? Se eu soubesse que era a última vez que nos veríamos, teria lhe abraçado forte e dito que se eu pudesse escolher, ele teria sido a pessoa por quem eu ia querer me apaixonar.

- O que é que tu fazes no quarto do meu amigo? – A voz de Calton Jones desperta-me do meu momento de dor e penitência. Limpo minhas lágrimas e lhe encaro, destemida. Calton Jones sabia ser um imbecil. Ele se acha o tal, principalmente agora que veste a camisola de capitão da equipe de futebol depois da morte de Zack, até hoje não entendo como uma pessoa tão boa como Zack podia ser amiga dele e considera-lo irmão – ele me equiparava a ele em termos de importância, dizia que nós dois éramos seus melhores amigos, eu odiava isso.

– Não sei se a bebida te fez esquecer, Jones, mas ele era meu amigo também, mais que teu. – Respondo.

– Teu amigo? Vais me dizer que te importavas mesmo com ele ou só lhe tinhas por perto porque querias alguém que te venerasse como ele fazia?

– Eu não vou perder meu tempo explicando minha relação com Zack para alguém tão vazio que não entende nada de sentimentos como você. – rebato e tenciono sair, mas ele segura meu braço com força e me impede.

– Falou a menina que passou a vida toda a se fazer de difícil para o Zack, e provavelmente é a culpada por ele ter morrido. – O bafo horrível que sai de sua boca bate direto no meu rosto de tão perto que está e enjoa-me, mas não me fere tanto quanto essa acusação. Não consigo controlar, solto-me dele e minha mão voa uma bofetada sobre a sua bochecha.

­­– Imbecil! Como se atreve? – rujo.

Calton Jones tira a mão da bochecha, vejo raiva nos seus olhos. Sinto que isto não vai acabar bem, mas não vou me encolher.

– Estou a mentir? – ele ruge de volta – Você foi a última pessoa que ele viu e ia se declarar. Você deve ter quebrado o coração dele mais uma vez como não se cansava de fazer e ele acabou morto.

­– Eu não tenho culpa de nada. Foi um motorista bêbado que matou ele, todos sabem disso.

– Disse quem? Um exame médico feito na clínica onde trabalha a tua mãe ou terá sido o dinheiro do teu paizinho de coração que pagou por esses resultados?

Eu sei que não devo dar importância a uma palavra sequer falada por Calton Jones, ele está bêbado e em luto, sentindo a mesma dor que eu sinto pela falta de Zack, mas suas palavras se instalam na minha mente e trazem dúvidas, ressuscitam aquele peso que achei que tinha vencido com as terapias.

– Isso não é verdade, você está bêbado e com dor e está a descontar em mim.

– Porque é culpa sua. Se fez de virtuosa para o Zack, mas saiu fazendo showzinho no clube para todo mundo ver – ele diz e ri quando vê minha cara de espanto – sim, Camilinha, ou melhor, senhorita, eu estava lá, eu vi quando você dançou para aquele arrogante. No final, você é só uma vadiazinha fingida implorando para ser tomada com jeito.

– Eu não estou a gostar do rumo desta conversa, Jones, então vou-me embora.

Ele me impede outra vez.

– Não vai a lugar algum, Camila. O que meu amigo, meu irmão, morreu mendigando, hoje você vai dar para mim. – ele diz e com força segura minha cintura puxando-me para ele.

Tento soltar-me, mas meu esforço é em vão, quanto mais eu luto, mais me agarra com força. Calton Jones joga-me na cama de Zack e sinto o peso de seu corpo imundo sobre mim. Eu grito por socorro, mas é inútil, o volume da música é bastante alto para que alguém me oiça. Suas mãos passeiam sobre o meu corpo e sinto sua língua queimar meu pescoço enquanto ele se esforça para abrir-me as calças sem me deixar fugir. Eu caio em desespero quando sinto que ele está a ter sucesso, minha força física é nula para lutar contra dele, eu preciso de me livrar dele.

– CJ - chamo-lhe como só permitia ao Zack – CJ, pára. Eu quero, quero isto, mas não á força. – eu digo e páro de resistir e espero sua reacção. Ele pára os movimentos e me encara, surpreso. Eu me fixo nos seus olhos e repito que quero ele. Ele relaxa e cede quando eu me coloco por cima, idiotas como aquele só podiam ser vencidos alimentando-lhes o ego. Ele me puxa para me beijar, eu pego na taça que alcanço na estante de Zack e lhe dou na cabeça e ele cai inconsciente.

Mal tenho tempo de me arrumar direito, saio apavorada e correndo da casa e ninguém dos que esbarro enquanto fujo dali percebe algo. Saio a rua e continuo correndo com medo como se em alguns segundos tudo fosse ser descoberto e virem atrás de mim. Meu Deus, o que fiz? O que foi que eu fiz?

Este dia está condenado, só pode ser meu dia de azar, meu fim, porque um carro preto está a me seguir, veio atrás de mim desde que sai da casa de Zack, desviou na mesma rua que eu segui e agora está desacelerando ao meu lado. Meu coração bate descontrolado, fui descoberta, o que será de mim? O vidro do lado de passageiro é abaixado e eu mal acredito no que vejo. A que meu dia está destinado a ser, meu Deus?©

Señorita (A sexy and Hot Shawmila fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora