— Eu não quero ir. — Zhang resmunga com a fala arrastada. Lucas estava o chamando pela quinta vez para que se levantasse para ir para a aula, mas hoje em especial, estava fazendo birra. Não entendia o porquê, já que, apesar dos pesares e de ele sempre reclamar de ter que se levantar da cama, gostava de ir para a escola. Era o único lugar em que ele podia ficar com crianças da sua idade, e isso deixava Lucas mais despreocupado. Assim o garoto não passaria tempo demais sozinho em casa e com o risco de sua mãe, subitamente aparecer. Só que se Zhang não se levantasse logo, iria perder a van, e aí Lucas teria que levá-lo até o colégio, o que atrasaria sua ida para a faculdade.
— Deixa disso, Zhang. Sabe que não pode faltar, e se não se levantar logo, vai perder sua van. — Lucas abre as cortinas e o garoto resmunga mais uma vez, se enfiando debaixo do cobertor. Está claro que se não agilizar as coisas por ali, provavelmente perderia uma boa parte do primeiro tempo de aula na faculdade. — Tudo bem, o que está acontecendo? Sempre reclama de ir para a aula, mas hoje está fazendo birra demais. — Ele se senta na ponta da cama do mais novo, que continua debaixo do cobertor. — Estou falando com você. — Ele puxa a ponta do cobertor, o tirando de cima de Zhang, que estava com os braços cobrindo o rosto.
— Se eu contar, vão me deixar de lado no colégio. — Ele diz baixinho, agora ganhando toda a atenção de Lucas. Certo, agora estava ficando preocupado de verdade. Até onde ele sabia, seu irmão sempre se deu bem com os amigos no colégio, até mesmo ouviu alguns elogios dos professores quando ia em algumas reuniões. Sim, às vezes, mesmo contra a sua vontade, era convocado a ir, já que sua mãe nem sabia da existência desse tipo de coisa, e seu pai estava sempre preso no trabalho. Poderia até dizer que praticamente criou o garoto.
— O que aconteceu? — Lucas pressiona mais um pouco. Obviamente não deixaria aquilo passar. Seja lá o que fosse, estava incomodando o menino, ele claramente não iria deixar aquilo de lado, como sua mãe sempre fez. Desde que Lucas começou a entender o que rolava dentro de sua casa, decidiu que não seria igual a sua mãe e não deixaria seu irmão mais novo na mão, seja qual for a situação. — É melhor me contar logo antes que eu acabe descobrindo. — Zhang continua imóvel, e então Lucas se ajeita no colchão. — Se me contar o que está rolando, levo você ao Arcade. — Em questão de segundos, o garoto tira os braços do rosto e se senta na cama.
— Vamos poder comer aquela pizza? — Ele pergunta animado e Lucas ergue uma sobrancelha.
— Só se me contar o que aconteceu no colégio. Caso contrário, faço você ficar c a cara nos livros. — Ele observa o modo com seu irmão vai diminuindo a animação. Sabia que o Arcade era sua única escapatória, ou era isso, ou Zhang iria levar aquilo com ele para o túmulo.
— Mas eles disseram que vão me deixar de lado se eu contar para alguém. — O bico formado em seu rosto estava deixando Lucas ainda mais preocupado.
— Então tá, sem Arcade e nem pizza. Me avise quando estiver pronto para sair. — Ele se levanta, mas logo Zhang agarra seu braço com uma certa força, fazendo-o se sentar na cama novamente.
— Eu estava no recreio jogando no Nintendo Switch do meu amigo. Estávamos jogando, Pokémon, você precisa ver os controles e -
— Zhang. — Lucas chama sua atenção quando vê que ele está se dispersando.
— Eu estava jogando quando Anthony apareceu e disse que nossos pais não gostam de mim e por isso se separaram. E disse também que ninguém iria ficar perto de mim por causa disso. — O tom de voz baixo do garoto, era o suficiente para a raiva de Lucas dar as caras logo de manhã.
Acontece que ele conhecia o tal Anthony, que por um acaso, era filho de um dos amigos mesquinhos de seu pai. A mãe do garoto era ainda pior que o pai. Uma mulher alta e loura, com o nariz empinado, que nunca estava satisfeita com os diamantes que o marido sempre lhe dava. Certa vez, ela teve um chilique quando estavam em meio a um jantar na casa de Lucas, um daqueles típicos jantares de negócios, onde o pai dele contratara um buffet refinado naquela noite. Em algum momento, Francine, que se candidatou a ajudar o buffet no que fosse preciso, acabou derrubando uma tigela com um tipo de ensopado. Naquela noite, ela estava meio lesada por conta dos remédios que tomara contra sua crise de labirintite, mas mesmo assim, decidiu ajudar no que podia. E foi aí que o chilique da loura alta deu início. Ela começou a listar mil e um motivos para que Francine não ficasse ali no meio sabendo que estava doente, e listou ainda mais o que aconteceria se aquele ensopado tivesse respingado em seu vestido claro e caro. Aquilo foi a deixa para que ele conseguisse fugir do papo entediante e das mãos bobas da filha mais velha do casal. Ela conseguia ser ainda pior que a mãe.
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MY ANCHOR »» NCT Lucas (hiatus)
Hayran KurguOnde Lisa é uma garota fechada e sofre com a depressão, descobre que talvez tenha uma luz no fim do túnel que a faça se reerguer. E Lucas tenta equilibrar a vida entre o irmão mais novo e a faculdade. E seu possível novo amor. PLÁGIO É CRIME. | iníc...