06.

2K 347 18
                                    

A casa silenciosa. Paredes brancas quase todas vazias, luzes dos corredores ligadas e em um dos cômodos estaria aquele canadense psiquiatra com seus óculos no rosto e uma garrafa de algo forte na mão. Ele visava o teto branco do quarto, chorando quieto.

Pensava no que poderia ter dito, cada palavrinha. Pensava no que deixou de fazer quando estava cara a cara com Johnny. Não valia a pena mais amar aquele rapaz, mas também não valia a pena beber tudo que ver pela frente e choramingar.

Apesar de ser um psiquiatra, as vezes não conseguia ver soluções para seus próprios problemas. Não conseguia falar e fazer o que conselhava seus pacientes. 

Mark conheceu Johnny no seu primeiro ano de faculdade na Coreia. Tinha feito um EJA por opção, queria se formar cedo porque seu plano era sair de casa o mais rápido possível. Quando ganhou a bolsa integral em uma faculdade para estrangeiros no ano seguinte, não demorou muito para sair do país. Tinha apenas dezesseis anos e algum dinheiro no bolso por conta do trabalho com um salário não tão ruim que manteve desde os quatorze. Ele já tinha planejado tudo.

Conheceu ele através de Chittaphon; ele já era fluente em inglês e lhe ajudou a se aperfeiçoar em coreano. Como cursavam as mesmas cadeiras e vivia em um país estrangeiro sem seus pais, foi fácil para sair e curtir sem preocupação.

Ele tinha dezessete anos quando caiu nos encantos daquele americano. Uma festa entre amigos resultou em troca de números, alguns flertes, encontros e beijos. Até que em pouco menos de três meses embarcaram em um relacionamento sério, com ele a vinda de seus pais a Coreia e a urgência para encontrar um lugar fixo para morar, já que estava em Host Family com um casal de coreanos muito gentis.

Foi nesse pouco tempo, com já vinte anos, que conseguiu seu diploma, trabalho e dinheiro para comprar aquela residência. Tinha tudo em mãos: independência, emprego dos sonhos, namorado e amigos ótimos que estavam sempre lhe apoiando. Mark trabalhou duro para isso tudo, mas nunca precisou da ajuda de ninguém para conseguir o que queria.

Talvez fosse seu egoísmo e arrogância falando mais alto, mas depois de sentir o gosto de liberdade, de fugir da mãos de seus pais nunca mais iria voltar atrás.

Mas agora sem Johnny, tudo agora parecia estar indo ladeira abaixo. Ele perdeu o namorado e aquele trabalho estava ficando um horror conforme as semanas seguintes. Ele estava sozinho outra vez. Isso começava soar assustador.

— Mark... — o garoto assustado olhou rapidamente para o lado, em direção a porta, e mesmo que reconhecesse aquela voz fez questão de certificar que era mesmo Chittaphon ali na porta e não uma alucinação de sua embriaguez. 

Eles não trocaram quaisquer palavra sequer, apenas se olhavam com olhares tristes um para o outro. Mark, antes de voltar a chorar, tocou o rosto envergonhado, escondendo os olhos enxarcados.

— Desculpe. Promexi que não iria chorar por essa merda toda. — o mais novo não aguentaria suas mãos sobre o rosto e aliviou o peito com os sons aflitos de dor. 

can you help me? | markhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora