Mantenha a Calma

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-Filha….. você precisa comer….não faz bem ficar assim…. você precisa se alimentar. - falou minha mãe alisando o meu cabelo e falando pela milésima vez que eu precisava comer. 

-Mãe, eu não estou com fome,já disse. Eu só quero ficar aqui sozinha,quieta. - falei chorando.

-Mas Olívia isso não faz bem, você precisa se levantar. Sua cirurgia vai ser marcada para semana que vem, não pode simplesmente ignorar o mundo. - falou minha mãe séria.

-e para que o mundo vai querer ficar com um fardo como eu sou?, Mãe qualé! ninguém quer saber de uma mulher cega. Ninguém se importa e eu também não. - Falei com sinceridade. 

         Minha mãe se levantou, e saiu pela porta, ela não me disse mais nada,e o médico veio logo em seguida:

-Olívia,como está?- Perguntou ele fingindo que não sabia do meu estado clínico. 

-Pode parar doutor, o Sr sabe do meu estado. Não apresentei nenhuma melhora. Novidades? - falei enxugando o rosto. 

-sua cirurgia foi remarcada, achamos melhor que você passe por ela logo, a chances de sucesso é maior. - falou ele 

-Essa cirurgia vai trazer a minha visão de volta? - ergui a sobrancelha. 

-não. Mas vai colocar duas costelas e pernas de volta no lugar. Nossa prioridade é que você volte a andar e a se mover Olívia. - Falou ele sério. 

-então do que me adianta? Andar, me mover e não ver! Estar solteira novamente na pior fase da minha vida! Honestamente não vejo vantagens em sair daqui. - falei e virei a cabeça. 

-sua mãe me contou que não está comendo, precisa ganhar peso Olívia, se não vai poder fazer a cirurgia. - falou ele. 

        Eu ergui os ombros, dizendo que não me importava. O Doutor respirou fundo, e sentou na cama jogando a prancheta na cama com um total impaciência. 

-Olívia, deixa eu ser bem franco com você esta bem? - eu olhei para ele - Não enxergar vai se tornar um problema pequeno e idiota comparado a não andar e não se mover. Seu corpo vai atrofiar,e só sua cabeça vai mexer, ou melhor, só seus olhos, é isso que você quer?. Ficar aí deitada e ser descartada?, É isso que você quer?, é isso?!. - abaixei a cabeça e comecei a chorar.

-Meu ex noivo me chamou de fardo, o Sr acha que eu sou um?- perguntei. 

-Não. Honestamente não. Mas será se não se mover e comer Olívia. - ele pegou a prancheta e saiu pela porta, me deixando no silêncio absoluto. 

Olhei para o criado-mudo, e toquei no telefone e pedi para trazer o almoço, a enfermeira logo vejo minutos atrás, trazendo uma comida e um suco de laranja, Comi tudo, e minha mãe chegou logo em seguida e ficou emocionada. 

Havia uma semana que eu estava internada, uma semana que eu tinha sofrido o acidente, o tempo estava passando muito rápido, e eu estava destruída por dentro, e a cada minuto e hora que se passava eu achava que não tinha mais jeito para mim, achava que ficaria dependente dos meus pais para sempre, e vida social, e vida independente eu nunca mais teria, porque, como que eu iria fazer para sair e trabalhar se eu não conseguia enxergar?. 

* Dia da Cirurgia * 

Eu estava tensa, vez ou outra oscilava em lágrimas e pessimismo, mas em outro momentos eu estava ansiosa e bem, era muito difícil manter controlada as emoções, nessas horas fica bem instável as emoções, e ficam oscilando entre pensamentos bons e ruins, porém, isso não tinha nenhum problema, o médico havia dito que era comum, aceitar essa nova condição era fundamental no momento, mas na teoria era muito fácil ele falar, mas na prática já não era tanto assim. 

-Olívia, sua cirurgia vai começar daqui a 15 minutos, nós vamos te levar para a sala pré-operatória, não se preocupe tudo já está programado. - falou ele. 

-vai doer? - perguntei. 

-Não, você vai estar sedada, não vai ver absolutamente nada. - falou ele. - viemos te buscar, já já. - falou ele. 

-Tudo bem…..tudo bem.. sem problemas. - Falei para ele e sorri fraquinho. 

"tudo bem", é o que eu sempre falo para mim mesma ultimamente, "Calma Olívia,Tudo vai ficar bem.", "Aguenta firme, só mais um dia, só mais um pouquinho,aguenta firme só mais um pouquinho.", e na verdade, é uma baita mentira!. Enquanto digo para mim mesma que tudo vai ficar bem, as coisas desmoronam dentro de mim, mas eu tenho que ficar bem, tenho que aguentar firme, porque é só uma fase ruim e ela vai passar. Ela tem que passar. Ela precisa passar. 

A enfermeira me levou para o andar de cima com o elevador, eu estava tensa, minha mãe estava do meu lado, segurando a minha mão, era tão bom que ela estivesse ali junto comigo. Eu iria fazer duas operações ao mesmo tempo, da perna e das costelas, e para mim, eu realmente não me importava em me remendarem,porque, eles não podiam consertar os meus olhos, então, essa cirurgia era o máximo que eles podiam fazer por mim, o "Máximo". Da para acreditar? Em um dia estava vestindo o meu vestido de noiva, e no outro eu estava toda quebrada e cega em uma cama, é inacreditável o que houve comigo, como eu simplesmente podia ter feito isso comigo? Será que eu não vi o caminhão ? Não olhei para os dois lados? Será que eu não sei como atravessar a rua?, Como pude ser tão estúpida? 

Calma Olívia, calma. 

Tudo vai ficar bem, mantenha a calma. 

O elevador fez um barulho de sino, o meu andar, minha mãe ficou no corredor, dali pra frente ela não podia passar, e quando nossas mãos soltaram o meu coração acelerou e doeu, eu só queria voltar para a minha vida normal, eu só queria estar casando nesse exato momento, eu não queria estar aqui, não quero fazer nada, eu só quero encontrar o meu caminho, fazer a minha história, porque a vida estava me fazendo aquilo?,eu era uma má pessoa?, O que eu fiz de errado?... As portas do centro cirúrgico de abriram, e o frio me encontrou e me abraçou, como um amigo antigo e esperançoso, me colocaram na maca, e então, e então, eu senti um líquido quente correndo nas minhas veias.

Escuridão……..sono……..apenas nada. 

Conquistando o InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora