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A chuva veio ao anoitecer, entrando no amansador e molhando o corpo da garota que até aquele momento estava desacordada. O vento forte e a água a fizeram voltar a realidade e esquecer o pesadelo que ela havia tido.

Seu corpo começou a tremer pelo frio e por alguns instantes ela se amaldiçoou por ter saído do labirinto, já que pelo menos lá dentro ela tinha lugares para se manter seca e segura dos "monstros metálicos". Seus lábios deviam estar de outro cor enquanto batiam um no outro de forma incessante.

Foram várias tentativas de tentar sair de lá, todas em vão, quem tivesse construído aquilo, tinha amarrado aquelas cordas muito bem. Depois de desistir e sentir a dor em sua barriga aumentar, ela pegou um pedaço de bambu e puxou uma linha solta da corda, costurando o ferimento da barriga.

Um pequeno feixe de luz apareceu no meio da escuridão, junto com ele, um garoto de olhar calmo e preocupado, cabelos loiros e pele clara. Newt, o vice - líder da clareira.

- Aqui! - ela encara o garoto de roupas molhadas e coladas no corpo enquanto o mesmo se escondia debaixo de um pedaço de capa velha de couro. - Talvez te ajude a se esquentar. Eu não deixei ele molhar então, vai te ajudar.

O pano grosso e que parecia ser quente caiu na poça de água que se formava no chão, se sujando e se molhando.

- Tudo bem, não use. - ele diz saindo. Por um lado ele sentiu raiva, tinha molhado sua roupa e talvez até pegasse uma gripe, já por outro, ele entendia a garota.

Ela não confiava neles. Nem um pouco.


Quando o dia clareou, a maioria dos clareanos foram para seus trabalhos. Alby caminhou até o amansador e encarou a garota que tinha a cara fechada e corpo encolhido.

- Bom dia! - ele diz abrindo a porta da "prisão". - Vamos. Eu espero que tenha se acalmando. Qual seu nome?

Silêncio.

Ela estava analisando a clareira, cada parte que ela não tinha visto nos dias anterior enquanto corria e atacava os garotos.

- Não vai dizer? Ok, talvez você não tenha se lembrado ainda. Vou te mostrar o lugar.

Ela o seguiu, passando a mão sobre os braços, sentindo mais uma vez o frio que não a deixou dormir noite passada.

Alby parou em frente a uma construção de madeira, que parecia uma torre com vários andares e começou a subir, sendo seguido por ela até parar no alto.

- Você chegou chegando. - ele comenta de forma divertida. - Bom, temos roupas femininas, elas vieram errado uma vez. Você vai lembrar seu nome, qualquer dia desses. Eu sou o Alby, líder desse lugar. Você está no que chamamos de clareira, nossa casa. Pra você se localizar ela é dividida em quatro partes: os jardins, onde plantamos e temos a bomba de água; os domicílios, onde dormimos, óbvio; depois dos domicílios ficam as grades, onde você ficou, é um lugar pra punirmos os que desobedecem e acalmarmos os novatos; o matadouro, como o próprio nome diz, onde matamos os animais e os criamos e por fim o cemitério, fica dentro da floresta.

O lugar era incrivelmente enorme e olhando lá de cima, parecia ter o tamanho de vários estádios de futebol juntos. Em todos os lugares, o que mais chamou a atenção na garota foi o pequeno lago. Ela parecia gostar do fato de poder nadar.

- Temos regras, pra termos uma boa convivência: sem agressão atos outros clareanos, não entrar no labirinto se você não for um corredor e todos fazemos nossa parte em algum trabalho.

- Acho que já quebrei duas. - ela diz pela primeira vez. Sua voz era rouca e baixa, mais foi o suficiente para Alby sorrir.

- Você fala. Isso é bom! Vou te levar para tomar um banho, vamos ter uma grande festa hoje a noite.

Mesmo sem entender ela o seguiu. Ela ainda sentia medo e os olhares dos garotos sobre ela não ajudaram muito, a cada suposta aproximação ela fechava sua mão e se preparava para socar a cara de alguém.

- Você pode dormir aqui por enquanto. - ele aponta para o amontoado de redes na cabana - Quando estiver mais acostumada com isso tudo, fazemos uma cabana só para você, se quiser. - ela concorda voltando a caminhar atrás dele. - Comer ali e tomar banho aqui. Seu banheiro vai ser separado dos outros, não terá garotos por perto.

A cada movimento que ele fazia com as mãos apontando para os lugares, o sentindo de estar presa parecia se esvair, mas não por completo.

- A enfermaria onde você ficou é ali, só não ataque ninguém trolha!

- Trolha? - ela questiona sem entender o significado da palavra, mesmo parecendo ser algo ofensivo.

- É como chamamos os novatos que ainda não lembraram seus nomes.

- Meu nome é Georgia! - ela o corrige.

- Você lembrou!

A animação de Alby era diferente da que ele havia apresentado minutos atrás.

- Eu sabia desde o labirinto, me lembrei depois de matar dois daqueles bichos nojentos.

O olhar surpreso do homem moreno a fez ficar um pouco envergonhada. Será que não podia mata - los?

- Você matou dois verdugos?

- É assim que vocês os chamam? - ele assente parando em frente a uma pequena cabana e diferente das outras, aquela era muito mais fechada.

- Suas roupas e seu banheiro!

- Obrigada! - ela sorri.

- Até mais tarde trolha.

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Salvation |ᵐᵃᶻᵉ ʳᵘⁿⁿᵉʳ- ⁿᵉʷᵗ| Onde histórias criam vida. Descubra agora