Capítulo I - Por acaso

9K 656 237
                                    

Não tinha alternativa senão mudar de casa, tinha perdido o meu emprego como secretário pessoal do presidente de uma grande empresa, depois de se ter descoberto o buraco financeiro que a levou a uma falência decadente. As suspeitas caíam sobre o vice presidente, amigo de longa data do presidente Lee, mas nada se tinha provado até então. O choque tinha sido tão grande que o meu antigo chefe teve um ataque cardíaco que o atirou para os cuidados intensivos do hospital. Entretanto, como ninguém estava interessado em salvar uma empresa com uma dívida astronómica, até porque era menos uma ameaça para os seus parceiros de negócios, entrou em insolvência e foi obrigada a despedir todos os seus funcionários.

Foi assim que tive de abdicar do conforto do meu apartamento no centro de Seol, o ordenado que recebia era mais do que o suficiente para viver com alguns luxos. Contudo, agora a minha situação era totalmente diferente. Não era um emprego a servir às mesas que iria sustentar uma ilusão, era hora de descer com os pés à terra e pôr as mãos à obra. A solução foi arrendar um apartamento numa das zonas mais perigosas da cidade, era a única que me permitia pagar todas as minhas contas, os meus dias passariam a ser uma sobrevivência diária, uma luta. O Taehyung ainda tentou convencer-me a viver consigo, nós éramos amigos desde pequenos, só que não conseguia ser esse fardo. Além disso, sabia que andava encantado com alguém que tinha conhecido. Era uma verdadeira paixão à primeira vista, daquelas arrebatadoras, que nos fazem levantar vôo e sonhar acordados e de olhos fechados. Os seus olhos espelhavam um brilho intenso, um brilho cristalino apaixonado. Merecia, merecia ter essa oportunidade.

Depois de horas a limpar toda a sujeira do apartamento e a arrumar os meus pertences no apertado apartamento húmido e frio, chegou a hora de comprar o mínimo para poder fazer o meu jantar, não tinha comido nada durante todo o dia e o meu frigorífico estava vazio. Provavelmente era péssima ideia sair à rua a uma hora daquelas, quando o sol já se tinha deitado e o negro da noite se havia instalado. Vesti um casaco bem quentinho, agarrei na minha carteira e Chaves e saí à rua. O vento gélido soprava e assobiava sinistramente, criando um ambiente perfeito de filme de terror. Eu não me sentia seguro, era como se o perigo estivesse sempre à espreita, num canto de um beco sem saída.

Se durante o dia o medo era forte, agora consumia-me por inteiro. As ruas eram escuras, com pouca luminosidade e sem movimento, antes estava habituado ao movimento, sons e luzes néon, muitas luzes de cores diferentes. Todas as portas estavam trancadas e as precianas fechadas ao máximo. Nem uma luz parecia estar acesa. O cheiro das ruas estreitas obrigou-me a tapar o nariz. Cada vez que via uma sombra ou ouvia algo suspeito, olhava em volta e andava mais depressa. Para minha sorte, depressa cheguei ao meu destino. Não podia comprar mais do que algumas refeições baratas e água. Noutra altura enchia o carrinho...

Saía da loja cabisbaixo, sem saber exatamente como iria sobreviver o resto do dia apenas com uma refeição no estômago, quando choquei contra uma pessoa. Sem levantar o olhar pedi desculpa e segui em frente. O meu braço foi agarrado com força, puxado de novo para dentro da loja. Levantei o olhar cansado e sem vontade de entrar em confrontos. O homem que apertava cada vez mais o meu antebraço percorreu o olhar pelo meu corpo, travando no meu cabelo. Ele era incrivelmente belo, mas incrivelmente intimidante, com um aspecto suspeito e perigoso. A roupa que vestia era tão clássica e tão... Vistosa, arrojada. Conseguia ver uma arma no seu casaco. Paralisei ali mesmo, a sua mão a empurrar-me contra o seu peito, o seu olhar era o olhar mais negro e misterioso que vira até então.

- Não sabes que meninos bonitos e inocentes não devem andar sozinhos à noite? - Falou junto do meu ouvido. Um arrepio percorreu a minha espinha, tudo o que dizia suava cru e nu, desprovido de cor. O que sabia era que andar armado não era definitivamente ser um bom menino. - Comer comida industrializada não é saudável. Nunca te vi por aqui e a jurar pelas roupas de marca que trazes vestidas diria que tudo é uma novidade. Não tens dinheiro para comprar mais nada.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora