Capítulo XXII

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Mal consegui dormir de noite. Eu sentia-me inseguro e extremamente ansioso, perante a possibilidade do Taehyung aparecer a qualquer momento durante a noite para me atormentar. Se consegui descansado uma ou duas horas, foi muito. Agora que me olhava ao espelho, depois de o levar com água bem fresquinha, via as olheiras carregadas, o rosto mais pálido do que o normal e os olhos sem luz. O que eu via reflectia a imagem de uma pessoa cansada e desesperada por um segundo de paz. Depois de fazer a minha higiene voltei para o quarto, agarrando num livro e voltando para debaixo das mantas. Chovia imenso lá fora, estava o tempo perfeito para ler.

Talvez se tenha passado uma hora ou duas, comigo a ler um dos livros da saga do Harry Potter. Li até não conseguir aguentar mais a abstinência de cafeína. Antes de sair do meu quarto, conferi se não estava ninguém no corredor e na cozinha. Com o caminho livre, decidi preparar um café expresso. Ia para ir buscar uma das chávenas numa das prateleiras mais altas, quando senti uma presença colada ao meu corpo e a alcançar o que eu queria.

- A evitar-me? - Nunca tinha reparado antes, mas a voz do Taehyung era mesmo muito grave e melódica, tanto que podia derreter qualquer coração de gelo... Todos menos o meu! Eu não podia fixar-me na sua voz de barítono. - Não vale a pena tentares evitar um encontro entre nós. Por que é que não bebes o café na minha companhia?

Aquilo não era nenhuma pergunta, porque no segundo seguinte agarrou na chávena e levou-a consigo até à sala, mais especificamente o sofá. Sem outra hipótese, vi-me obrigado a sentar junto de si, a tentar fugir de um novo confronto bebericando o café. O Taehyung observou por um bom tempo, o meu rosto, como se conseguisse decifrar todas as emoções escondidas por detrás de uma máscara dura e espessa. Assim que bebi o café, a chávena foi-me tirada das mãos e colocada em cima da mesa de apoio.

- Eu tenho sono... - Era óbvio que não tinha sono, apenas não queria ter de enfrentar quem achava ser meu melhor amigo... Eu estava a fazer luto de uma amizade que terminara. - Deixa-me ir embora.

- Quanto mais cedo resolveres esse ressentimento, melhor para os dois. - Inesperadamente, avançou até que eu estivesse deitado no sofá, com as mãos acima da cabeça. Uma das suas mãos agarrava nos meus pulsos, enquanto a outra acariciava o meu rosto. Tentei soltar-me, mas sem grande sucesso. - Como é que eu não tinha visto antes a tua beleza? O Jungkook teve bom olho.

- Eu não sou nenhum objecto, que pode ser apreciado. - Falei entre dentes, virando o rosto para não ter de o encarar tão de perto. Assim que terminei de falar, riu-se com escárnio, virando de novo o meu rosto até uns meros centímetros nos afastarem. - Tae...

- Sh... Não digas nada. - Com delicadeza, largou os meus pulsos e ajudou-me a sentar de novo. - Teres-te apaixonado pelo Jungkook foi um erro, ele não merece.

E logo a seguir levantou-se do sofá e fechou-se no escritório, deixando-me confuso com as suas palavras. Eu sabia que era errado estar apaixonado por alguém como o Jungkook, que não sabia amar alguém sem o tratar como um prisioneiro ou um dos seus subordinados da máfia, porém sentia que o Taehyung tinha um motivo implícito desconhecido. Todo o secretismo e mistério fez a minha mente ficar agitada. A meio da tarde, recebi um ramo de flores, junto com os meus chocolates preferidos. O presente era do Taehyung e tinha sido deixado à porta do meu quarto. As flores e chocolates fizeram o meu coração amolecer e bater mais depressa, fazendo-me sentir culpado por ter gostado do gesto. Nem o Jungkook, nem o Taehyung era a pessoa pela qual eu devia ter sentimentos românticos. No entanto, o meu coração tinha vontades próprias, batendo mais forte pelos dois.

Com o aproximar da noite, cansado de estar fechado no meu quarto, a devorar a caixa de chocolates oferecida, como que a afogar as minhas mágoas e tristezas, decidi explorar o que um dia tinha sido a minha casa

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Com o aproximar da noite, cansado de estar fechado no meu quarto, a devorar a caixa de chocolates oferecida, como que a afogar as minhas mágoas e tristezas, decidi explorar o que um dia tinha sido a minha casa. Eu sabia que o apartamento tinha três quartos bem grandes e sabia que eu ocupava um e o Taehyung outro. Entretanto, a curiosidade estava em saber o que era feito do terceiro. Portanto, abri uma das portas e reparei que um dos quartos de hóspede era ocupado pelo Taehyung, porque todo ele tinha sido decorado consoante os seus gostos. O preto e cinza eram dominantes. Por mais curiosidade que tivesse em explorar o quarto, voltei a fechar a porta e dirigi-me para o que sobrava. Nada me preparou para ver um autêntico ginásio caseiro ser usado por Kim Taehyung. Ele estava sem camisola, apenas de calças de desporto, a correr na passadeira, exibindo todo o seu tronco trabalhado e suado. Fiquei sem saber o que fazer.

- Não sabia que gostavas de fazer ginásio

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- Não sabia que gostavas de fazer ginásio. - Nem tinha dado conta da sua aproximação. Fiquei boquiaberto, com as palavras presas na garganta seca. - Jimin, por que é que estás a tapar os olhos?

- Por amor de Deus, Taehyung! Veste uma camisola! - Claro que tapava os olhos com a minha mão direita. Ele estava seminu a apenas um metro de distância, exibindo toda a sua boa forma física. Ia para fugir dali, porém ele agarrou na minha mão e colocou em cima do seu peito musculado. - O que é que pensas que estás a fazer?

- Eu só queria que sentisses o meu coração a bater forte por ti. - Revirei os olhos, aquilo que ele dizia era só ridículo e desnecessário. O seu coração batia tão aceleradamente, porque ele estava a fazer exercício. - Meu querido, estás tão nervoso...

- Eu não estou nervoso. - Antes que a minha mão tremesse tanto quanto a minha consciência, retirei-a. O que não desapareceu foi o sorriso torto no canto dos lábios do Taehyung, que agarrou numa toalha em cima de um dos aparelhos de ginásio e limpou o suor da testa. - Eu não posso acreditar que transformaste este quarto num ginásio.

- Tens os lábios sujos de chocolate, deduzo que tenhas gostado da minha prenda. - Com o polegar, limpou os meus lábios, lambendo de seguida o dedo. Fiquei chocado com a sua acção. - Se me desses uma oportunidade, eu poderia fazer de ti um homem feliz.

- Não, não podias. A nossa noção de felicidade é muito distinta.

POV Jungkook (Sim, outra vez 😅)

Por algum motivo estava com um mau pressentimento, os meus homens de confiança nunca mais diziam nada. Andava de um lado para o outro, que nem uma barata tonta, desgastando o chão do meu escritório. Os nervos eram tantos, que tudo o que estava em cima da mesa de vidro voara contra uma das paredes, partindo-se em mil pedacinhos. O Jimin estava desaparecido há demasiados dias... Nunca na vida me tinha sentido desta forma, sem chão...

- Jungkook, o Yoongi e o Hoseok encontraram a carrinha do Jin-young a alguns quilómetros de Busan, num descampado, junto de um armazém. - E aquele era o Namjoon, a tentar contribuir na procura pelo Jimin. O Jin hyung apareceu logo atrás, a agarrar num tablet, mostrando várias fotos da carrinha tiradas. - Encontraram um bilhete dentro de uma garrafa. Dizia o seguinte: "Pensas que conheces a verdade? Pensa duas vezes, porque jamais irás encontrar o Jimin."

- Essa letra não é do Jin-young. - Foi a primeira coisa em que reparei. A letra do Jin-young era muito diferente daquela, que o meu cérebro dizia conhecer, a questão era de onde. - Eles estão a brincar connosco...

- E se o Jimin nunca saiu daqui? - Parei de observar o bilhete, desviando a atenção para o Jin hyung. Ele podia ter razão. - Nós partimos do princípio que o Jin-young agarrou nele e fugiu para outro sítio, porém eles podem estar mesmo debaixo do nosso nariz. Alguém experimentou ir até ao antigo apartamento do Jimin? A carrinha passou por lá e não temos acesso a alguns minutos de gravação.

- És um génio!

Foi assim que me puz a caminho do antigo apartamento do Jimin, na esperança de o encontrar lá. Tinha muito a agradecer ao Jin hyung, caso o encontrasse.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora