Capítulo XI

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POV Jimin

Tinha sido apanhado depois de ter suspirado de alívio durante a viagem, uma viagem de horas que passei a dormir e que percepcionei como sendo infinitas. A minha fuga tinha sido um falhanço autêntico e com um bocadinho de sorte teria direito a uma cicatriz no abdómen, a faca que me estava a ser apontada não era nenhuma brincadeira, conseguia sentir o seu bico afiado mesmo por debaixo das camadas de roupa. Porém eu não estava propriamente assustado, tinha a sensação de anestesia, como se nada estivesse a acontecer comigo. Nunca o tinha visto com um ar tão obstinado e eu tão relaxado. Continuava com o mesmo fato... O fato com sangre que gerara o problema, a discussão e a sua mudança de humor brutal para o meu coração.

- Vamos, meu querido. Tudo estava a correr bem e decides fugir de mim. - Porque magoou o pobre do meu coração, despedaçando-o como ninguém. - Não é assim tão fácil tirares-me da tua vida, está escrito que és meu é assim que deve e vai acontecer. Agora anda, está frio.

Deixei-me levar, nada havia a ser dito. Ele estragara qualquer hipótese que tinha ganho e merecido, só para me provar que não tinha mudado mesmo. Em que ilusão tinha eu entrado? Por entre o mar de gente, cada um ocupado com as suas coisas, alguns a reunirem-se com os seus familiares e outros a tratarem de problemas ou a viajar em negócios, não tinha quem olhasse para o lado e visse com olhos de ver. Esta era a nossa sociedade do século XXI. O carro estacionado era como todos os seus carros, luxuosos, pretos e de vidros fumados. Entrei sem objecções e permaneci todo o tempo calado e sem desviar o olhar da estrada ou do meu colo. O único som que preenchia o quase silêncio era o rádio ligado a passar alguma música de Kpop. Eu gostava muito de Kpop, tinha ido a alguns concertos: Backpink, Seventeen, Exo... Como era bom de pudesse voltar a reviver todos os momentos passados antes de conhecer o Jungkook.

- Estive hoje com os teus pais, são pessoas muito amigáveis, mais obedientes que tu, meu querido. Foram de viagem, por isso não há aqui ninguém. Preguei-lhes um pequeno susto, mas estão ilesos e em perfeita saúde. - O quê? Ele tinha entrado na casa dos meus pais e irmão mais novo? Bem, não era como se isso me estivesse a espantar muito, era de esperar que cometesse um acto desses. Ao menos nada lhes tinha acontecido, o que era o mais importante. - Estou a ver que não estás muito afim de falar comigo. Tudo bem, se calhar é o melhor.

Não passaram muitos minutos, depois de nos livrarmos do grande trânsito, Busan era a segunda cidade maior e mais densa da Coreia do Sul. s
Só não estava à espera de pararmos num condomínio privado e entrarmos num dos prédios, direitos a uma penthouse em tudo semelhante à sua casa em Seul. Descalcei-me e esperei que fizesse o mesmo. Com umas pantufas já calçadas entregou-me umas e despiu-me o casaco que tinha tirado do seu armário. As suas mãos quando rasparam na minha pele fizeram-me sentir uma certa repulsa. Sem serem precisas palavras segui o Jungkook até à sala e esperei que regressasse da cozinha com um pequeno lanche para mim. Não comi, apenas fixei o meu olhar na carpete imensa.

- Não vale a pena recusares comer, se não for a bem será a mal e vais odiar se tiver de ser a mal. Não tolero birras. - Tudo bem, se era o que queria... Bebi primeiro o sumo e depois comi o Ramen. Nem a comida tinha estimulado o meu palato, trazendo alguma felicidade ou reconforto. Era indiferente. - Lindo menino. Jimin, olha para mim.

- Eu quero a minha vida de volta. Dei uma oportunidade, que foi desperdiçada e isso é culpa sua. Tenho todo o direito em querer ter uma vida minha, independente e normal. Os meus pais não têm nada a ver com isto, por isso não os volte a incomodar.

- Eu não te vou deixar ir, nem aos teus pais. Como viste, é muito fácil magoá-los se decidires ir embora e deixar-me. É tão simples terem um acidente de carro, algum ladrão assaltar a casa, um deles se magoar... Mas a decisão é tua, eu cumpro com a minha palavra. Assim que me virares as costas, faço explodir o carro onde eles estão, é muito simples. 

- Tudo bem. - Concordei derrotado. Era muito arriscado pensar que não faria nada, porque tinha vindo atrás de mim e dos meus pais assim que fugi. - Acabou de dar um grande passo para trás, senhor Jeon.

Não respondeu, nem sequer pareceu afectado pela forma fria como o estava a tratar. Acabou de beber o copo de vinho e agarrou na minha mão, já a arrastar-me para um quarto grande, semelhante a uma suíte de hotel. Foi-se embora logo a seguir, sem dizer mais nada. Fui até um espelho enorme e subi a camisola, vendo como a faca tinha raspado na minha pele. Tomei um valente susto quando senti as mãos do senhor Jeon afastarem as minhas, para poder ver a dimensão do dano. Não tinha ido embora? 

- Não te queria magoar, tens uma pele sensível. - Claro que queria magoar, caso contrário não me teria ameaçado daquela maneira vil. - Amanhã vamos voltar para Seul e tu vais fingir que está tudo bem entre nós, que tudo não passou de um grande mal entendido. O teu amigo ficou furioso comigo.

- Não envolva mais ninguém nisto tudo, não quero que o Taehyung sofra ou que se magoe. Eu mesmo desejo todos os dias poder voltar atrás no tempo e apagar o momento em que decidi entrar naquela mercearia. Pensei que pudesse, com o tempo aceitar o seu estilo de vida e profissão, mas não posso. A forma como me tratou e está a tratar é como se eu fosse um objecto. Todas as coisas boas que fui descobrindo sobre si estão a ser manchadas.

- É a minha maneira de ser. Deixa-me desinfectar a ferida. - Ausentou-se por uns segundos para ir buscar a mala de primeiros socorros. Fez o curativo em silêncio. - É para acordar cedo amanhã, vamos dormir.

- Senhor Jeon, podem ser os poucos os direitos que me permite exercer e escassas as tomadas de decisão, porém gostava de poder passar a noite sozinho. - A sua reacção foi a que era de espectar: ficou furioso, a afundar a língua na bochecha e a torcer o pescoço. - Se fizesse essa gentileza ficaria agradecido.

Ainda que de tenha ido embora, não foi fácil adormecer naquela noite, as horas iam passando e eu acordado. No meio do silêncio da noite, qualquer barulho era um estrondo para mim. Podia ter sossego, mas não ia durar para sempre, o dia acabaria por amanhecer.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora