Capítulo XII

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A viagem de Busan até Seul foi relativamente rápida, felizmente não houve muito trânsito, o que era uma vantagem para mim e para a minha paciência. Dava tudo para poder regressar à minha antiga tranquilidade, quando a minha preocupação era essencialmente financeira. Mas pelos vistos o destino tinha aventuras muito maiores guardadas numa gaveta. A única parte positiva da viagem foi o senhor Jeon não fazer questão em manter uma conversa comigo. Assim que chegámos a sua casa, o Jin hyung veio a correr ter connosco, abraçando-me fortemente.

- Jimin! Como é que estás?

- Bem, Jin-hyung, foi apenas um mal entendido entre mim e o senhor Jeon. Já resolvemos todas as nossas divergências. - Mentira, mas eu tinha de o fazer. - Está tudo bem.

- Vou confiar. O Taehyung disse para lhe ligares assim que chegásses, ele estava... muito chateado e aborrecido, além de cansado. Disse que o melhor era ir dormir e descansar. Eu sei perfeitamente como é o Jungkook e espero, muito honestamente, que te tenha pedido desculpas. - Pedir desculpas? Estava a sonhar tão alto como eu. Se o seu pedido de desculpas era ameaçar os meus pais e apontar-me uma faca... Que não soubesse como é que seria o tão aclamado Jeon Jungkook a tratar de assuntos da máfia. - Queres um chá?

- Hyung, por que é que não vais para casa também? O Namjoon deve estar a aguardar a tua chegada. 

- Tudo bem, Jeon Jungkook, eu vou embora. Mas volto amanhã. Fica bem, Jimin. 

Com o Jin hyung fora, o ambiente só ficou ainda mais tenso e constrangedor. O senhor Jeon fez sinal que o acompanhasse até ao sofá e ali estávamos há cinco minutos, em silêncio total.

- Vai dizer alguma coisa ou vamos ficar aqui o resto do dia?

- E se eu quisesse ficar o resto do dia a olhar para si?

- Apenas confirmaria a obsessão doentia que tem por mim. Se estamos aqui para me relembrar que não posso dizer nada que o comprometa ao meu melhor amigo, pode ficar descansado. O Taehyung não saberá a verdade, direi exactamente o que disse ao Jin hyung. Por falar nisso, devia de ter em consideração que ele é mais velho do que você. Estava obviamente preocupado connosco.

- Podes ir, Jimin. - Estava a ficar impaciente. Ainda bem, porque queria mesmo ir embora e, tocar num ponto sensível, não era custoso. - Podes ir para o teu quarto. Liga para o teu amigo o quanto antes.

Nem precisava de uma ordem para o fazer. Assim que cheguei ao meu quarto, agarrei no telemóvel e liguei para o Tae.

- Jimin? - A voz do Taehyung estava notoriamente cansada, típica de alguém sem dormir. A culpa era toda minha... O meu melhor amigo estava a sofrer por efeito dominó e a ver-te envolvido num mundo perigoso. Não queria isso para ele. - És mesmo tu?

- Sim, sou eu. - Quase que me ri, mas se o fizesse só iria ofender a sua preocupação. - Antes que me comeces a fazer perguntas, está tudo bem comigo. Eu fugi por um mal entendido com o senhor Jeon, mas já resolvemos tudo e fizemos as pazes.

- Espero que não me estejas a mentir, sei perfeitamente que tipo de pessoa é que ele é, contou-me que era um líder mafioso. Jimin, esse mundo é muito perigoso. Tens a certeza que vais ficar bem? Sei que não se pode mandar no coração, mas eu estou extremamente angustiado e preocupado contigo. A única pessoa que me pareceu decente foi um tal Jin, o Yoongi e o Hoseok.

- Está tudo bem, Tae. Por favor, descansa agora.

Não foi só o Taehyung que descansou, eu também não me atrevi a sair do quarto nas horas seguintes. Não tinha muito para fazer além de ler livros e ouvir música, o que era no mínimo frustante. Eu queria voltar a trabalhar, na verdade eu queria poder voltar a ser livre e usar do meu livre arbítrio. Olhando pela janela e vendo os pássaros a voar, pensei em como era feliz e não sabia. Ainda pensei em falar com a minha mãe para saber como estavam, contudo sentia que se o fizesse não iria aguentar toda a carga emocional e começaria a chorar. Eram horas de almoço quando saí do meu quarto, em pezinhos de lã, e fui até à cozinha. Uma certeza tinha, não iria morrer de fome.

- Eu não disse para ficares no teu quarto? - Merda! Como é que tinha aparecido sem dar conta? Virei-me para trás e lá estava o senhor Jeon de braços cruzados a fulminar com o seu olhar e mandíbula contraída. - Fiz uma pergunta.

- Disse para eu ir para o meu quarto e para falar com o meu melhor amigo. Eu já falei com o Taehyung, estou fechado entre quatro paredes há horas. Como pode imaginar também eu sou um ser humano e, como tal, preciso de comer. Talvez se fosse mais ligado às suas emoções positivas saberia o que era a empatia. - Se eu estava a escavar um buraco? Potencialmente, mas não estava nem aí para o que iria acontecer, o meu estômago precisava de alimento e a cozinha era a fonte. - Quando é que vou poder voltar ao meu trabalho?

- Amanhã. Quase que acho sexy essa tua maneira de falar sempre tão altiva. Subitamente ficas confiante, no entanto basta eu aproximar-me um pouco mais ou falar junto do teu ouvido, para as tuas defesas caírem como peças de dominó. - Queria provar o seu ponto e, por isso, avançou até me encurralar e deixar entre o seu corpo, muito maior e musculado que o meu, e a bancada da ilha. - Eu vou ter de sair durante a tarde para resolver uns problemas com outra máfia. Dá-me o teu telemóvel.

- Nem pense nisso. - Nem hesitou em enfiar a mão no bolso de trás das minhas calças e agarrar no meu telemóvel. Fiquei corado até às orelhas, totalmente estático. - Hei!

- Eu não me vou aborrecer mais contigo. Talvez devas aprender a obedecer às minhas ordens. 

- Porquê? Porque os meus pais podem pagar a derradeira factura? Você faz mesmo questão de me relembrar, a cada segundo, que a segurança da minha família depende de mim. Estou curioso sobre a sua saída durante a tarde. Quem é que está na sua mira agora? Quantos inocentes é que vai matar hoje?

- Eu não mato inocentes. E cuidado com o que dizes, a minha paciência tem um limite muito baixo. Não sou o tipo de homem que queres ver irritado. Deixa-me ver como é que está a tua ferida. - Nem sequer perguntou, subiu a minha camisola e examinou a ferida do dia anterior. - Está muito melhor, mas tens de continuar a pôr creme. O que é que o teu amigo intrometido disse?

- Nada, só estava preocupado. - Tentei puxar a camisola para baixo, contudo facilmente impediu o meu movimento agarrando no meu pulso. -  Pode largar a minha mão?

- Eu não quero que ele se envolva com o Yoongi ou o Hoseok, eles não precisam de distrações nesta altura do campeonato. - O que é que queria dizer exactamente com aquelas palavras? Ele não esperava mesmo que eu fosse mandar no coração do Taehyung, pois não? - Podes andar à vontade pela casa, só não tentes sair porque caso contrário terei de ser um pouco mais desagradável e não quero ter de tomar medidas de segurança mais apertadas, como teres que vir comigo resolver os assuntos da máfia.

- Eu não vou tentar fugir ou sair de casa, gosto muito de estar vivo e pretendo viver mais oitenta anos. - Gradativamente, diminuiu a força que usava para apertar o meu pulso e baixou a minha camisola. - Eu jamais me vou envolver nos assuntos da sua máfia.

- Claro. Quero que saiba que começou hoje o julgamento para apurar responsabilidades da falência e insolvência da empresa para a qual trabalhava antes. O seu antigo chefe tentou contactá-lo e encontrá-lo, eu fiz questão de deixar claro que se voltassem a tentar uma piada dessas, eu iria deixar a claro os negócios ilegais que tinham. - Como? Por que é que eu só estava a saber naquele momento? Era uma coisa importante, talvez fosse necessário o meu testemunho em tribunal. - Eu só vou fazer questão que receba a indemnização a que tem direito.

- Eu nunca recebi chamadas ou mensagens do presidente Cha. Ele não estava nos cuidados intensivos?

- Estava mas acordou do coma e está recuperado o suficiente para ser julgado, ele e o amigo. O que interessa é que resolvi esse problema por ti.

- Eu não preciso que resolva problemas por mim. Como é que eu nunca soube das tentativas de contacto?

- Simples, eu desviei as chamadas, mensagens e mails. - Ele tinha controlo sob o meu telemóvel! Que magnífico! Quando achava que tinha batido num baixo, vinha e surpreendia. - Jimin, não faças essa cara. Eu vou andando. Tem atenção ao comportamento.

Como se fosse uma criança para me dizer para ter cuidado com o comportamento! Grande lata!
     

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora