P A R T E 1
— R U Í N A —"Eu coloquei um feitiço em você,
porque você é meu."— I PUT A SPELL ON YOU,
Nina SimoneP S I Q U Ê
Desejos carnais.
Estudava sobre eles, mas continuava sem entender por que eram tão importantes para tantas pessoas, a ponto de distorcerem a realidade. No meu segundo ano de Filosofia, graças a Deus já veterana, esse era para ser um dos conteúdos aprofundados — talvez eu finalmente os entendesse.
E ele começava agora, dezenove de setembro de 2019, o que significava farra universitária em algum lugar, geralmente em uma fraternidade popular. Ninguém imaginaria minha surpresa ao descobrir que seria em uma boate, com bebidas de verdade. Pensei que a escolhida da vez fosse ser a dos garotos mais héteros possíveis da universidade inteira, a Universidade de Chicago, que todos preferíamos chamar carinhosamente de UC.
Eu tinha seriamente algo contra festas. Toda aquela gente acumulada andando de um lado para outro como pinguins e fedendo a cerveja barata como gambás. Se divertindo como se não tivessem que levantar cedo para estudar ou trabalhar no dia seguinte — ficava com a primeira opção.
Eu não precisava daquilo. Estava feliz estudando na minha querida escrivaninha que tanto amava, não precisava aliviar o estresse, simplesmente porque não havia estresse algum — tudo bem, não era verdade, mas ninguém precisava saber. Era verdade que minhas irmãs me incomodavam além dos limites do que eu sabia que era possível e que meus professores não facilitavam em nada, mas não me importava. Eu me distraía estudando mitos e desejos humanos.
— Você está fazendo de novo — Margot repreendeu.
Parei de encarar o monte de bebidas acumuladas atrás do balcão do bar para encarar minha amiga — ou melhor, seus cachos castanho-claros lindos e selvagens, espalhados por todos os lados. Ela os ama mais do que seus olhos azuis acizentados, embora ame cada pedaço de si com completa convicção... e razão.
Com um rosto redondo como de boneca e olhos amendoados, Margot Linderman era linda, e a única pessoa que me aturava.
Estava aqui uma coisa de que eu amei em relação à troca da farra de lugar: se eu fosse ficar bêbada, seria com bebida de verdade.
— O quê? — Perguntei, completa e vergonhosamente avoada, dando um gole no meu martíni, que era muito melhor do que os ponches misturados a vodca das festas de dentro do campus.
Ela revirou os olhos e bufou, não verdadeiramente impaciente. Afinal, Margot nunca ficava impaciente comigo — embora eu achasse que deveria. Ao seu redor, a festa acontecia: todos dançando, beijando e até fazendo outras coisas, que, na minha opinião, eram melhores do que as duas primeiras opções. Se bem que eu não transava havia um bom tempo. Só tivera um cara depois de Kurt Monaghan, meu ex. Nada sério, apenas casual. Fora no banheiro de uma fraternidade, onde rolava a farra. Eu achara que foi bom.
— Pensando em vez de curtir. — Entornou seu bourbon e, com um estampido do copo, se levantou em um instante, me oferecendo a mão cujas unhas estavam pintadas de vermelho. — Pare de ficar pensando em Platão e conheça homens de verdade. E de preferência ainda vivos.
Era a minha vez de revirar os olhos, mas não consegui evitar o sorriso em seguida.
— Só estava pensando: quem comemora o início de mais um ano letivo? — Levantei e segurei sua mão, realmente querendo saber a resposta.
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Eros: Um amor proibido
FantasyQuando recebeu sua missão como deus, Eros definitivamente não esperava por ela. Psiquê Di Laurentis é conhecida pela sua determinação e foco nos estudos - afinal, o curso de Filosofia é tudo com que sempre sonhou. Porém, o que mais chama a atenção d...